Nitidamente feliz, Jun-Ho me convidou para ver na sua sala de estar.
— Já vou avisando que não vai acontecer nada entre nós... — disse assim que cheguei em sua sala. — Além do que já aconteceu…
— Pois eu quero que aconteça. Seria perfeito se você me beijasse novamente.
O homem à minha frente era bonito, tinha parafusos soltos, era um assassino. Um criminoso. Mas seus olhos brilhavam como sempre.
— Por que você é tão insistente com isso?
— Pretende me questionar quantas vezes?
— Até eu acreditar! Como conseguiu manter seu casamento com essas dificuldades? — Perguntei, largando minha mochila e me aproximando dele.
— Eu só usei viagra e ficava entorpecido com calmantes sempre que precisávamos ser um casal. Fiz um tratamento alternativo de hipnose para tentar reduzir minha aversão ao toque, para que ela se aproximasse de mim. Funcionado por um tempo, mas os efeitos colaterais eram horríveis, porque o problema ainda estava lá. Sentia dores musculares, mas era uma dor totalmente psicológica, então não tinha o que fazer além de parar. — Ele olhou para um canto da sala. — Mas éramos como amigos. Agora eu entendo que era assim. Deve ter sido horrível para ela, assim como foi ruim para mim. — Seus olhos negros se direcionaram para mim. — Vivemos assim por três anos, até tudo dar errado. Não que tenha sido tudo certo no começo.
— E você ficou bem?
— Estou como estou. E não sei nada sobre como ela está agora.
— Entendi, mas não queria saber sobre ela, não.
Min Jun-Ho riu.
— As pessoas conversam sobre o que acham que aconteceu pelos cantos o tempo todo. Tem coisas que você deveria saber, mesmo que nosso casamento seja falso.
— Não quero.
Ele ainda mantinha o sorriso.
— Você curte aventuras com pessoas que não conhece, Park Salin-shi?
— A verdade prevalece, e isso é só por um tempo. Não precisamos nos esforçar tanto. Mas vou tentar ser compressivo.
— Então me beije, Salin.
— O quê? Ainda com isso?
— Não desisto fácil. Vem, não me deixe esperando.
Respirei fundo e me aproximei dele. Sem o tocar, só me ergui, ficando na ponta dos pés para que meus lábios encontressem sua boca.
Senti aquela dose de eletricidade passar por mim. E ele aceitou isso como um presente, pois, sem Jun-Ho, eu não sei se estaria vivo agora. Me entreguei ao beijo, e as mãos dele passaram brevemente pelas minhas costas. Ele parecia não saber o que fazer. Na real, eu não achei ruim; era fofo. Nosso momento de contato era sempre único, de fato, tínhamos uma conexão inegável. Seus lábios eram quentes, e isso mexia tanto comigo que era difícil não ceder a ele. Me afastei, sentindo falta de ar em meus pulmões.
— Satisfeito?
— Daqui um pouco eu vou me acostumar. Mais algumas vezes, por favor.
— Foi um presente, não uma assinatura mensal. — murmurei.
— Não por muito tempo… — ele provocou. — Eu vou tomar um banho.
— Você vai sair?
— Não… na verdade, eu não sei.
— Hm...
— Por quê? Não quer que eu saia?
— Você sempre me deixa do nada. Já estou meio que em alerta.
O sorriso de Jun-Ho se desmanchou em preocupação.
— Me desculpe por isso. É o meu trabalho, não faço de propósito. O lugar que eu mais gosto de ficar é ao lado do seu.
Putz, do nada...
Eu com certeza irei me apaixonar. Devo evitar isso por seis meses, não deve ser difícil.
— Tá, pode ir tomar banho, e se precisar sair, é só me avisar. Pode mandar mensagem também.
- OK.
Quando ele saiu, pude finalmente respirar. Estava me sentindo sufocado com tantas informações num único dia.
Olhei em volta e fui até um quarto da casa dele que parecia não pertencer a ninguém. Larguei minhas coisas lá.
Eu sou noivo de um cara que mal conheço. Se ele estiver fingindo, eu não tenho como defensor. Isso é assustador, mas não estou me arrependendo nem um pouco.
Eu estive em seu colo hoje, senti os músculos do seu corpo em volta de mim. Me senti ridiculamente protegido, como se fosse o colo da minha mãe. Como eu poderia estar tão confortável com alguém que não conheço? Deve ser porque ele é lindo e faz o meu tipo. Mas sinto que estou deixando...
Eu tenho um namorado!
Como eu me esqueci do JP? A gente ficou brigado, e eu bloqueei o número dele. Ele nem sabe que eu descobri a traição. Estamos sem nos falar por todo esse tempo, mas meio que ainda namoramos?
Eu deitei no sofá.
Mas, se JP se importasse comigo, ele viria até a minha casa. Já faz mais de um mês.
Meu rolo com ele começou quando Yomin nos apresentou. Eu não gostei do JP, mas começamos a namorar há quatro meses. Reconheço que, desde a tragédia da minha família, tomei algumas decisões bem ruins. E talvez agora eu tenha conseguido o ápice da estupidez. Pelo menos não estou sendo egoísta.
(...)
A água escolta pelo corpo, conforme as lembranças já distorcidas escoriam também. Hoje em dia, já não sei ao certo o que aconteceu comigo, sequer me lembro com exatidão. Mas cada sonho, cada pensamento e emoção me fazem voltar naquele dia. Os gritos ainda ecoam em minha mente, o tinido do metal ainda me faz tremer.
Eu fui sequestrado quando era criança, tinha sete anos. Não fui o único a ser sequestrado, e as violências que presenciei foram traumáticas, me afetando até hoje. Atualmente, tenho fobia de sexo e, consequentemente, sou impotente. Toques com interesses íntimos me sufocam. Portanto, tive problemas com a libido na adolescência e, hoje, não sinto nada. Talvez por medo, eu não me permitisse sentir nada e vivia assim até então.
Mas Salin...
Salin me faz querer experimentar esse lado que tanto reprimi. Faz com que meu desejo seja maior que o medo e o nojo. Sinto meu corpo todo estremecer de ânsia para tê-lo. Ele me faz querer testar meus limites. Se algum dia for bom para mim, quero que seja com Salin.
Mas meus limites ainda existem. Estou em guerra contra mim mesmo só para estar ao lado dele. E eu ainda não sou capaz de superar, mas, em breve, serei. Espero que passar mais tempo com Salin me ajude. Não sei nada sobre caras e mal sei sobre meu próprio corpo devido aos distúrbios.
Mas, com Salin, sinto que consigo.
Fui até a sala e encontrei ele dormindo no sofá. Depois de passar a noite acordado por conta da cirurgia da mãe, era óbvio que ele estava cansado.
Sem pensar muito, passei os braços ao redor dele e levantei com cuidado. Salin não se moveu, apenas respirava tranquilamente contra meu ombro. Eu o nível até meu quarto. Seria dele também a partir de agora.
Me deitei ao seu lado e o encarei.
Devo dizer a mim mesmo que não preciso me preocupar. Eu consigo. Não preciso de nada agora, não tem nada acontecendo. Estamos apenas juntos na mesma cama. Eu só preciso dormir ao lado dele.
Eu não estava com sono, mas queria tentar. Salin logo me agarrou, como se eu fosse um travesseiro.
Meu coração acelerou. Mas logo me acalmei, afinal, Salin apenas dormia. Confortavelmente.
Ele dormir era muito bonito.
Tudo nele era perfeito.