22- A criação do líder

Salin acordou em seu aparente novo quarto. Ele se levantou e então observou que Jun-Ho ainda dormia, espremido em um canto da espaçosa cama. Era muito contraditório.

"Por que estamos dormindo juntos?" Se perguntou.

Logo concluiu que Jun-Ho o colocou ali.

Salin observou o ambiente. Já estivera ali antes. Seu olhar caiu sobre o homem que dormia pouco distante de si, observando as tatuagens no braço do mais novo.

Salin mastigava a ideia de que estariam muito bem agora se tivessem se encontrado em outro plano de vida... Um onde ele não devia nada a ninguém e Jun-Ho não fosse um assassino traumatizado.

Ele se deitou novamente e se aproximou do mais novo, acariciando seus cabelos. Um senso de proteção surgiu dentro de si ao ver a forma como ele dormia. Dormia como uma criança. Era jovem e já estava tão entretido nesse mundo cruel que seu maior sonho era ser o líder da Goden.

Jun-Ho era fofo, sexy, bonito, forte e tatuado. O cara das fanfics era real? Salin ainda tinha receio de ver os outros lados de um assassino em algum momento. Então, por agora, se manteria ali, vivendo um momento de cada vez até estar livre disso tudo.

De repente, Jun-Ho se moveu bruscamente, segurando as mãos de Salin com força.

— O que está fazendo? — Ele olhou para Salin com os olhos arregalados.

Salin se assustou, mas Jun-Ho parecia compartilhar da mesma emoção.

— S-Só estava acariciando sua cabeça! — Salin argumentou sem graça enquanto Jun-Ho soltava seus braços.

O olhar assustado do mais novo se desfez em arrependimento.

— Desculpe, eu não... queria te assustar. É só que... não me toque sem eu pedir, não faça nada além.

— Tudo bem, eu não pensei direito, você já tinha dito sobre isso. — Salin mais uma vez precisou ser lembrado de que o estado do outro era sério. O mais novo sentiu seu toque e reagiu negativamente muito rápido. Isso assustava Salin. Jun-Ho estava preparado para reagir mesmo enquanto dormia.

O mais novo se levantou, encarando os olhos de Salin.

— Meus pais vão vir daqui a pouco. Esteja preparado. Eles provavelmente farão algum tipo de teste.

— Seus pais? Agora? Um teste?

"Min Kun e Chu Yoonae... Eu nunca pensei que os veria de perto e muito menos que eram os pais de Jun-Ho, os agiotas fundadores da Goden."

— Eles estão preocupados com o fato de você ser uma pessoa comum. Então seja convincente.

— Você disse que eles concordavam com tudo!

— Sim, mas sabem também que eu gosto de você. Então, eles vão levar isso mais a sério. Vão fazer você querer desistir.

— Por que está me contando isso?

— Porque eu quero que você passe no teste. — Ele disse com os olhos brilhando.

— Espera, você gosta de mim?

Jun-Ho saiu sorridente e não respondeu Salin.

(...)

Min Kun e Chu Yoonae encaravam Salin, descrentes.

"Acho que foi isso que Jun-Ho quis dizer com teste."

— Então esse é o rapaz? — Chu encarou Salin com uma postura séria, porém curiosa.

— Sim, sou Park Salin.

— Park Salin, você realmente não tem o perfil da nossa família… hm.

— Vamos, vai nos deixar aqui em pé? Nos leve até a mesa do café da manhã! Não seja um imprestável. — Disse a Senhora Chu ao filho.

A mãe de Jun-Ho se mostrava muito rígida e não tirava os olhos de Salin.

— Sabe cozinhar? — Perguntou a mulher.

— Sei.

— Quer ter filhos?

— Depende.

— Quantos anos você tem?

— 28.

— Pensei que tivessem a mesma idade. Você é bem mais velho, mas não parece. — Ela disse, ainda muito curiosa.

— É porque ele tem esse rosto andrógino. — Completou o pai. — E se veste bem, apesar de endividado.

— Jun-Ho, que manteiga foi essa que comprou? Trate de comprar uma mais decente. Credo. Você trabalha muito, filho, precisa se alimentar direito, até nos detalhes.

— Essa panqueca tem um pouco de sal demais. Faz de propósito? Quer ficar hipertenso? Já não basta todas essas doenças? — O pai de Jun-Ho parecia surpreso. — Park, você realmente pretende passar todo esse tempo com nosso filho?

Salin se assustou com a fala direta de Kun.

— Sim. — Respondeu.

O mais novo se mantinha calado com tudo que acontecia. Salin não entendia bem a dinâmica.

— Park Sora está no hospital. — Disse o pai. — Tudo porque você não consegue fazer o mínimo! Uivante é, de fato, uma erva daninha.

— O que meu irmão tem a ver com isso? — Salin perguntou, receoso.

— Se meu filho se diz apaixonado por você, ele deve protegê-lo e cuidar daqueles que são importantes para você. Se ele não é capaz de fazer isso, vocês não devem entrar num relacionamento.

Salin encarou Jun-Ho. O mais novo estava calado e cabisbaixo.

"Jun-Ho gosta mesmo de mim?"

— Desculpa, Salin, eu não sabia que ele estava se envolvendo com Uivante.

Jun-Ho não esperava que seu pai fosse usar essa informação para tentar mexer com Salin, mas de fato ele não foi rápido o bastante. Poderia ter impedido isso.

— Desculpa? — Min Kun se levantou. — Levante-se. — Ordenou ao filho.

Jun-Ho obedeceu.

— Pedidos de desculpas só conseguem resolver um coração ferido, no máximo. Não a p*rra da nossa reputação! Hoje à tarde terei que fazer uma reunião por conta disso, e você vai estar presente! Se ajoelhe! — Ele mandou Jun-Ho ajoelhar, e assim o mais novo fez.

O coração de Salin ardeu.

"O que esse velho pretendia fazer?"

Min Kun começou a dar pequenos chutes em Jun-Ho.

Aquilo não parecia um teste. Aquilo era real!

Salin se levantou imediatamente, sem pensar muito, e empurrou Kun, colocando-se na frente de Jun-Ho.

— Pare com essa palhaçada agora, seu velho de m*rda!

Kun encarou Salin de frente.

— O quê? Acha que pode proteger o meu filho? — Provocou, fechando os punhos para socar Salin, mas o mais novo se desviou. Kun tentou de novo, mais forte, achando que a primeira vez havia sido pura sorte. Mas Salin não se abalou e desviou novamente.

Era uma sequência básica de boxe.

— Eu já pratiquei boxe. — Ele esclareceu.

Kun ficou surpreso e, antes que pudesse processar, Salin, com um movimento preciso, usou o próprio peso do mais alto contra ele, derrubando-o com força. O impacto ecoou pelo ambiente, deixando todos em choque diante da cena inesperada.

Kun caiu de costas, os olhos arregalados em surpresa, enquanto Salin, ainda em posição de defesa, o encarava com firmeza. O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor.

— Sou faixa preta, tenho terceiro-dan em Taekwondo também.