Estou tentando me adaptar a essa realidade onde sou noivo do futuro chefe da Goden. Jun-Ho me contou que, inicialmente, seu pai era um charlatão. Mas, quando se deu bem, foi preso, perdendo o nascimento de seu primeiro filho. Da cadeia, ele compôs músicas e, ao sair, virou compositor. Depois, fundou a MJ Entretenimento. Mas seus antigos colegas o procuravam e, para lidar com isso, ele entrou no ramo da agiotagem. O negócio cresceu, e hoje a Goden é o que é: um misto de assessoria, intermediária para facções e políticos e, ao mesmo tempo, uma organização temida.
A pior parte da Goden são os cães de caça e a rixa que o pai de Jun-Ho tem com seus rivais. É aí que ocorrem assassinatos e confrontos violentos, obrigando a família Min a sujar as mãos mais uma vez.
No caminho até o hospital, quem dirigia o carro era um amigo de Jun-Ho, Lee Dong.
— Eu sei que sou bonito, pode olhar o quanto quiser — disse ele ao me notar pelo retrovisor, com um sorriso convencido.
Jun-Ho já tinha me falado sobre ele, dizendo que era "o melhor para educar um garoto irresponsável".
Assim que chegamos ao quarto do hospital, os olhos de Sora foram direto para Lee Dong. Por um momento, achei que fosse pela aparência chamativa, mas percebi que havia algo alí. O rosto de Sora pareceu confuso ao ver Lee dong alí.
— Vocês se conhecem? — questionei, olhando de um para o outro.
— Curso de TI — Sora respondeu rapidamente.
Lee Dong apenas sorriu.
— Pequeno mundo, né?
— Por que está aqui?
— Fiquei sabendo que se envolveu onde não devia, cara, você ferrou você e sua família.
Sora me encarou sem graça.
— Eu sei...
— Eu trabalho para Goden. Vou vigiar você a partir de agora. E de quebra vou fazer você trabalhar pra mim. Podemos?
Sora me olhou assustado. Mas eu apenas concordei.
— Jun-ho disse que você precisava de disciplina... — Comentei.
E então meu pai me chamou.
— Vai ficar na casa do garoto agora?
— Vou.
— Você está dormindo com ele?
— Não é assim, pai! — retruquei rápido.
— Ainda bem. Então estão juntos só para fingir o noivado mesmo, né?
— Sim — respondi sem hesitar.
Conversei um pouco mais com ele. Minha mãe estava bem após a cirurgia, mas ainda demoraria um tempo para acordar.
Conforme as horas passaram, Jun-Ho chegou ao hospital para me buscar. Ele parecia uma sombra muda, os olhos escuros e atentos, mas sem dizer uma palavra. Algo tinha acontecido? Não perguntei. Hoje era o evento em que ele me apresentaria ao seu mundo, e eu já tinha coisa demais na cabeça.
Voltamos para casa e nos arrumamos. Não quis inovar muito, então fui com um cropped da Chanel, calça social e botas de salto fino. Jun-Ho vestiu correntes, regata e uma blusa maior por cima, combinando com uma calça dois números maior.
Ao chegarmos ao evento, percebi que era uma festa como qualquer outra... pelo menos à primeira vista. Mas, segundo Jun-Ho, todos ali eram criminosos ou parceiros de um.
O pai de Jun-Ho estava lá, acompanhado de sua esposa. Os dois seguiram juntos para outro canto do salão.
O local era enorme, luxuoso e cheio de rostos desconhecidos para mim. Jun-Ho me guiou até uma área mais tranquila, sua mão pousada na minha cintura durante todo o caminho. Mas, em momento algum, ele pressionou ou firmou o toque. Era um gesto mecânico, quase automático. Não soube dizer se aquilo era desconfortável ou reconfortante. Se não fosse eu, outra pessoa estaria ali com ele. Mas... será que ele estaria tão sorridente?
Antes que pudesse me perder nos próprios pensamentos, um som forte ecoou pelo salão. O bater de um sino.
Todos olharam para o topo da escadaria.
Uma mulher sorridente apareceu ali.
— Como membro da Sweet, gostaria de deixar dois recados — anunciou, a voz clara e firme. — Primeiro: alguém aqui parece muito interessado nos meus negócios. Espero que tenha gostado do presente. Um convite para não me atrapalhar de novo. Segundo: a mamãe aqui vai se ausentar por alguns dias, por motivos óbvios.
Seu longo vestido dourado não disfarçava sua barriga de mãe.
Olhei para Jun-Ho, surpreso, mas ele apenas assentiu para as palavras da mulher, como se aquilo fosse comum.
— Onde fica o banheiro? — perguntei.
Sem dizer nada, ele apenas apontou para uma placa.
Me levantei e segui até lá. O banheiro era limpo, bem diferente do que imaginei que um lugar como aquele teria. Enquanto lavava as mãos, encarei meu próprio reflexo no espelho.
— Quem é você? — uma voz ao meu lado perguntou.
Virei o rosto e vi um homem me observando de cima a baixo.
— É um novo guarda-costas do Min? — Ele arqueou a sobrancelha. — Vestido desse jeito...
— Sou o noivo dele — respondi, sem paciência.
Ele riu, zombeteiro.
— Quanto ele teve que pagar? Vão fingir que ele é gay só para esconder o fato de que ele é impotente? Você está bem? Posso te ajudar a fugir disso. Ninguém merece ser obrigado...
— Eu estou bem — interrompi.
Que cara esquisito.
— Jun-Ho apenas aceitou o meu pedido, e temos ótimas noites juntos.
O sorriso dele diminuiu, mas o deboche permaneceu no olhar.
— Ah, então é ainda pior. Ele só está te usando para melhorar a imagem, mas todo mundo sabe que ele não...
— Isso é inveja?
— O quê?
— Você parece muito incomodado. Acho que preferia estar no meu lugar, não é? Mas é meu.
O rosto dele endureceu por um instante, e não esperei para ver sua reação. Saí do banheiro sentindo meu sangue ferver. Ele não estava completamente errado, mas o jeito que falou... me irritou profundamente. Por que me senti obrigado a fingir que a gente "tem ótimas noites juntos" ? Isso era ridículo.
Enquanto pensava nisso, percebi que a área onde Jun-ho estava,havia ficado lotada. Eu sequer conseguia enxergar ele no meio da multidão. Como passaria por todos aqueles caras?
Me aproximei do grupo, tentando encontrar um espaço. Foi então que notei um rosto familiar.
O cara que eu tinha beijado antes.
Ele sorriu ao me ver e, sem dizer nada, deu passagem. Um a um, os outros seguiram o gesto. Um corredor humano se formou, como se todos ali estivessem esperando para ver o que eu faria.
Jun-Ho desviou os olhos das conversas ao seu redor e me olhou.
Era uma bela passarela.
Desfilei por ela até me sentar ao lado dele.
E então puxei seu rosto para mim.
Ele ficou surpreso.