— O que houve? — Ele perguntou com o rosto próximo ao meu. Afinal, eu mesmo o puxei. Mas arregalei os olhos, surpreso com minha própria ação.
— Escutei um idiota falando besteira sobre você. Por que todos ficam falando pelas suas costas? — Disse.
— Você se importa assim comigo? — Ele se aproximou ainda mais, sussurrando no meu ouvido.
— Talvez. — Respondi baixo.
Ele sorriu e, logo depois, me apresentou aos seus amigos.
Além de Jaeho, pude saber mais sobre Thomas André e Lee Dong, eles eram dois dos soldados mais fiéis da família Min. Thomas era gigante e forte, enquanto Dong era mais magro, mas tinha ombros largos e um rosto extremamente bonito. Teria feito muito sucesso como ator ou cantor de kpop. Ele sempre fazia piadas ruins, mas, de alguma forma, sempre arrancava um riso sincero de Thomas André. Pareciam um casal casado há vinte anos. Dong chamava Thomas André de "Mon".
Min Jun-Ho se entregou à conversa e às risadas como se a festa fosse sua. Vez ou outra, os outros se dirigiam a mim. Foi assim que descobri algumas coisas sobre ele: que, quando mais novo, fugiu de casa, mas voltou uma semana depois; que seu pai não queria que ele se envolvesse na máfia, mas Jun-Ho ia escondido; que já foi perseguido pela polícia e sofreu um acidente que o deixou dois meses no hospital; que já desmaiou em uma piscina e quase morreu afogado; e que chorou ano passado porque atropelou um coelho por acidente. Os homens contavam essas histórias com risos, como se estivessem apenas zoando Jun-Ho, mas havia algo além disso. O orgulho de quem vê um irmão mais novo crescer.
— Por que Lee Dong-shi chama o Thomas André-shi de Mon? — Perguntei a Jun-Ho.
— Mon? Ah... É de Monster.
— Monster? Tipo monstro? Por que ele tem esse apelido?
— É assim que chamam o Thomas André-hyung. — Jun-Ho sorriu. — Hyung é chamado assim porque explodiu um tanque de gasolina. Era um confronto de Facções. Só um monstro faria aquilo, mesmo que a ideia fosse fazê-los dispersar. É o que dizem...
— Hm, ele parece legal.
— Ele é. Gosto muito dele. — Jun-Ho exibiu um sorriso e fiquei encantado. Era surpreendente ele sorrir assim.
O som da festa ao fundo. Pessoas de diferentes facções, o ar daquele lugar era carregado de uma paz temporária que me assustava. Ainda assim, Jun-Ho via aquele lugar como uma simples festa. Mas talvez não fosse muito diferente do Promise Club.
— Jun-Ho, vamos embora. — Disse em meio ao silêncio.
Ele me olhou em desaprovação.
— Quero te levar a um lugar primeiro.
Fiquei calado e apenas o segui até o elevador. Ele parecia empolgado. Subimos até o térreo.
Quando chegamos lá, havia outro bar, porém mais reservado. Não havia ninguém além do barman.
— Preciso resolver um assunto. Vou conversar com alguém importante para os negócios da minha família, mas pode beber à vontade.
Fiz um bico, já cansado, mas acatei sua sugestão.
De repente, vi alguém subindo pelo elevador. Meu estômago revirou. Era aquele cara. O que me ajudou com Jun-Ho desmaiado. O mesmo que me enforcou.
— Ah, me desculpe novamente pelo que aconteceu. Eu realmente não sabia. Acabei de descobrir que são noivos. Parabéns. — Ele disse assim que me viu.
— Kim Nuen, ele é Park Salin. Salin, ele é Kim Nuen, representante da K5. — Jun-Ho nos apresentou.
Tentei esconder minha surpresa. A K5 era uma facção conhecida por sua violência.
— Ah, sim.
— Estou curioso... Um mês atrás, você nem sabia que Jun-Ho tem crises de pânico, e agora estão noivos.
Apesar de suas desculpas, percebi pelo olhar dele que queria me estrangular de novo, principalmente agora que percebeu que não contei nada a Jun-Ho.
— Não, eu já sabia. Só fiquei surpreso devido às circunstâncias. Ele ainda não havia desmaiado enquanto esteve comigo.
— É mesmo? Pensei que fosse um casamento arranjado pela sua futura sogra.
— Ela nem gosta de mim. — Ri, esperando que ele entendesse o recado.
— Hm. E por acaso...
— Meu relacionamento com Salin não deveria te interessar tanto, Nuen. Não estamos aqui para falar disso. — Jun-Ho nos interrompeu.
Eles começaram a conversar sobre negócios. Eu apenas me sentei perto do balcão, sem interesse no assunto.
— Desculpe por ele. — Jun-Ho apareceu alguns minutos depois. — Precisamos aguentá-lo por um tempo, mas os dias dele estão contados. Não se deixe intimidar.
— Não gostei dele desde o início. Ainda bem que você acha o mesmo. Porém, apesar de intrometido, ele não mentiu.
— Nesse caso, você também não. — Jun-Ho riu ao se sentar ao meu lado. — Mas, para ser sincero, achei que isso fosse ser mais fácil.
— A reunião foi difícil?
— Estou falando de nós.
— E qual o problema?
— Eu.
— Bom, nenhuma novidade nisso. Por que você seria diferente comigo se é igual para todos?
— Eu já disse. — Senti as mãos de Jun-Ho repousarem sobre a minha. — Me sinto diferente com você. Me sinto melhor. E agora não tenho dúvidas de que te amo.
Meu coração parou por um instante. Ele disse isso tão naturalmente, como se fosse uma certeza que sempre esteve ali.
— Decidi que era melhor me torturar para estar ao lado de alguém que amo do que me torturar para estar com alguém que não amo. Mas ainda tive esperança de que fosse ser mais fácil.
Engoli em seco.
— Eu entendi.
— Seja paciente, está bem?
Paciente?
— Eu? E por acaso pareço estar esperando por algo?
— Parece.
— Retira o que disse! Eu nunca esperei nada vindo de você!
Menti na cara dura.
Voltei a me sentar sob o olhar convencido dele.
Mas então senti meu rosto esquentar. Jun-Ho estava me encarando severamente. O calor do olhar dele estava diferente. Era intenso, perspicaz. Meu coração acelerou.
Ele não fazia nada. Apenas me olhava descaradamente.
Esperei pelo pedido de um beijo. Esperei com ansiedade, sentindo nossa proximidade, sentindo o momento.
Mas, em vez disso, veio o ar gelado passando pelos meus dedos no instante em que ele retirou a mão da minha.
O impacto foi imediato. Meu peito apertou de leve.
Jun-Ho se levantou, como se negasse a própria vontade.
Talvez eu tenha paralisado por alguns segundos apenas para processar.
Inegavelmente a decepção me atingiu. Mordi os lábios, esperando que ele dissesse algo.
Talvez eu devesse engolir o que disse antes. Jun-Ho era bonito demais para que eu não quisesse nada. Talvez eu realmente devesse ser paciente. Esperar os momentos dele.
Ou talvez não.
Ainda sentia o calor de sua mão na minha. E, por algum motivo, queria mais.
— Vamos para casa. — Ele me chamou.
E eu o segui, ainda tinha muito o que entender sobre ele.