Como Jun-Ho pediu, voltei para a faculdade. Eu não entendia a insistência dele, já tinha um diploma em contabilidade, e estudava Direito só por interesse pessoal.
Mas, já que ele estava pagando, não tinha motivo pra dizer não. Hoje, inclusive, ele mesmo estava me levando. No fundo, eu sabia que quanto mais a gente fosse visto junto, melhor. Era uma forma de mostrar às pessoas que éramos próximos.
Tinham se passado só três dias desde que nossos nomes começaram a aparecer em sites de fofoca. E hoje era a primeira vez que eu ia aparecer em público. Os boatos sobre nós eram pura especulação, nada confirmado, mas o suficiente pra chamar atenção. Assim que Jun-Ho estacionou em frente à faculdade, percebi algumas pessoas esperando do lado de fora. No momento em que me viram, correram na minha direção.
— É verdade que você está noivo do filho do CEO da MJ Entertainment?
— Min Kun é contra o casamento?
— O relacionamento de vocês é só fachada pra encobrir a homofobia do Sr. Min?
— É verdade que o Yuno vai voltar pra música?
— Você é trabalhador do sexo?
Os rumores eram absurdos, mas eu me mantive firme, sem dizer uma palavra sequer, exatamente como Jun-Ho mandou.
Dentro da faculdade, o clima era mais tranquilo. Logo avistei meu grupo de amigos, e uma onda de nervosismo me atingiu. Eles não sabiam de nada, e eu não fazia ideia de como iam reagir. Respirei fundo e fui até eles.
— O que ninguém sabe, ninguém estraga, né? — disse Hana, claramente empolgada. — Fiquei chocada quando vi a notícia sobre você e o Yuno.
Henry se aproximou, os olhos brilhando de curiosidade.
— E aí, como é estar noivo do Yuno, vulgo Professor Min? Ele parece tão... sério — perguntou com um meio sorriso, tentando aliviar o clima. — Nem sabia que ele namorava alguém.
Tive que segurar a risada. Jun-Ho realmente passava essa imagem distante e reservada; pouquíssimas pessoas sabiam algo sobre a vida pessoal dele. O nome artístico dele era Yuno, e ele tinha lançado um álbum há alguns anos, o que tornava nosso noivado ainda mais aleatório.
— Ele tem os momentos dele... — respondi com um sorriso quase tímido. — Mas com a gente, ele é diferente.
Antes que pudessem fazer mais perguntas, alguém soltou uma piada sobre casamento e fez todos rirem. Aproveitei pra mudar de assunto.
Quando entrei na sala de aula, uma leve inquietação tomou conta de mim. Tinha coisa demais girando na minha cabeça. Conviver com o Jun-Ho era puxado, eu precisava manter tantas versões de mim ao mesmo tempo. Como ele conseguia viver assim?
— Bom dia, alunos.
A voz do professor me arrepiou. Virei em direção ao som e, no instante em que nossos olhos se encontraram, meu coração disparou. Quase perdi a alma.
Esse professor era jovem e muito comentado. Diziam que ele se formou aqui e conseguiu o emprego porque virou sócio. Mas mais do que isso...
Alguém ao meu lado cutucou meu braço.
— A gente achou que você ia voltar das férias dizendo que ficou com o professor, mas já voltou noivo?! Sem vergonha.
Soltei uma risada nervosa. Eu nem sabia. Ou melhor, ainda não tinha me dado conta.
Jun-Ho normalmente usava o cabelo ondulado solto, mas agora estava preso. Usava óculos quadrados e roupas formais. Só não fiquei mais chocado porque já tinha visto ele de terno antes.
Jun-Ho era meu professor de Filosofia.
Então era por isso que ele ficou irritado quando não o reconheci aquele dia. Mas aqui... ele nem parecia o Jun-Ho que eu conhecia.
Sem moletom, sem cigarro, sem carro de luxo e tatuagens à mostra. Só não fiquei mais chocado porque já o tinha visto arrumado antes.
Quando chegamos juntos, ele não estava de jaleco, nem com os óculos, nem com o cabelo preso. Eu realmente achei que ele tinha ido embora, mas na verdade, ele só estacionou, foi pra sala dos professores e... pronto.
A aula continuou, e minhas orelhas queimavam de tanto que o Jun-Ho me encarava. No intervalo, fui direto até a mesa dele, ainda em choque.
— Achei que você não ia me reconhecer — ele disse primeiro, sorrindo.
— Qual é o seu problema?
— Meu problema?
— Por que você tem tantas identidades? Parece uma pessoa diferente cada vez que eu vejo.
— Eu sou Min — ele apontou pro crachá no peito. — Min Jun-Ho. Não levo uma vida dupla. São só ângulos diferentes da mesma pessoa.
— Não fala como professor de filosofia. E aí só tá escrito "Min" nesse crachá, tem um monte de Min por aí.
Ele sorriu.
— Não gostou de me ver aqui?
— Só tô surpreso, só isso.
Eu sentia os olhos dos outros alunos em cima da gente. Eles já sabiam que a gente estava noivo. A notícia realmente passou na TV. Aquilo me incomodava, então saí da sala. Precisava respirar.
Agora tudo fazia sentido, não era à toa que Jun-Ho já me conhecia.
Conheci ele semestre passado, quando fiz Introdução à Filosofia, e agora tinha aula com ele de Filosofia do Direito... Mas ainda assim, era doideira.
Fui em direção à lanchonete, mas congelei quando vi um rosto conhecido. JP.
— Park Salin...! — Ele me chamou, já irritado, claramente esperando por esse momento. Tentei desviar, mas ele agarrou a gola da minha camisa com força, os olhos cheios de raiva. — Fui na sua casa e você não estava. Fui no seu trabalho, nada. Te mandei mensagem e você me bloqueou em tudo. Só porque tá transando com o Jun-Ho agora?!
Revirei os olhos.
— Ah é? Não gostou? Você tava fazendo a mesma coisa, saindo com aquele cara da pizzaria — e agora quer me cobrar?
— Eu errei, mas você não precisava... Eu nem tô mais com ele. Percebi que vacilei e queria pedir desculpas. Achei que você ia voltar pra mim.
— Eu não quero. Acabou.
— O quê? Tá de brincadeira, né? Vai ficar com ele?!
Suspirei.
— Não. Quando apaguei seu número, já tinha decidido. Ainda não entendeu? Eu não gosto de você. Nunca gostei. Só tava mal e usei você como estepe.
Os olhos dele se arregalaram.
— Não fala besteira! Você disse que me amava.
— Depois de tudo o que você fez, é ridículo achar que ainda tem chance.
Me soltei dele e virei as costas. Quando olhei pra frente, vi o Jun-Ho parado ali perto, assistindo tudo.
Ele estava com um leve sorriso no rosto. Provavelmente tinha ouvido tudo. Outro arrepio correu pela minha espinha.