Fitei Jun-ho e caminhei em sua direção, pronto para passar direto, mas Min estendeu o braço, tentando me impedir.
— Já está se apaixonando por mim?
— Também não gosto de você — respondi.
— Quero um beijo.
— Continua querendo — retruquei, tentando ignorar a onda elétrica que percorreu meu corpo. Ele devia ter pedido isso ontem!
— Você não pode me negar — ele provocou, e eu respirei fundo, sentindo meu coração acelerar.
Empurrei-o para dentro do quarto de onde ele tinha acabado de sair e fechei a porta atrás de nós, pressionando-o contra a parede. Então, eu o beijei. Mas fiz isso com intenção. Com meus lábios, pressionei os dele de forma que ele não tivesse chance de escapar. Com as mãos apoiadas na parede, como se tentasse se segurar o máximo possível, ele correspondeu com a mesma intensidade. Ele estava completamente entregue a mim, e eu me afogava no gosto dele, no desejo, no ritmo da nossa dança.
Apesar dos defeitos e das circunstâncias, Jun-ho ainda era melhor que JP. Aquele desgraçado me traiu por meses. Descobri eventualmente, mas decidi ficar com ele. Porém, a falsidade dele começou a me ferir tanto... Eu odiava o quanto me sentia dependente dele. Não quero ser dependente do Jun-ho. Que ele me deseje, que me persiga, que faça tudo por mim. Isso é o mínimo que espero, já que estou nessa.
Mas eu tinha que admitir: beijar o Jun-ho foi muito bom.
E eu tinha que admitir: Min Jun-ho mexia muito comigo.
De repente, ele me empurrou, em pânico. Fiquei um pouco surpresa ao ver seus olhos arregalados e a respiração descompassada. Mas, apesar de recuar, ele sorriu, parecendo ter gostado do beijo tanto quanto eu. Um pouco fora de controle, ele não conseguia falar. Apoiado nas pernas, parecia que ia desabar a qualquer momento. Então esperei ele recuperar o fôlego e se acalmar antes de perguntar, um pouco irritado:
— Por que você me pediu um beijo se não estava preparado?
Os olhos dele estavam quase pulando, mas ele parecia orgulhoso.
— Porque você é meu, e eu quero que saiba disso — disse ele, ainda ofegante. — Mesmo que isso me enlouqueça, nesses meses que temos, não se preocupe com nada. Eu vou te proteger de tudo. E vai que... você acaba se apaixonando por mim e a gente se casa de verdade.
— Às vezes, você parece tão inocente — retruquei. — Depois do seu aniversário, acabou. Não vai ter casamento — falei, saindo do quarto.
Mantive uma expressão séria, tentando manter um pouco da minha sanidade. Mas, cacete, aquele beijo foi bom.
Quando chegou a hora de ir embora, ele já estava me esperando no carro. Não vou mentir, me senti orgulhoso. Um homem bonito, num carro de luxo, me esperando. Mas era assustador o quanto nosso relacionamento falso tinha ido longe. Em algum momento, fosse pela mídia, pessoalmente ou por causa do trabalho do Jun-ho, um dos inimigos dele ia acabar vindo atrás de mim.
— Como foi a aula?
— O professor é muito chato.
— É mesmo? Ouvi dizer que ele é super bonito e que você ficou babando por ele.
Salin deu um meio sorriso.
— Por que você não me disse que era meu professor esse semestre?
— Queria que você lembrasse sozinha.
— Eu nunca ia lembrar. Se você tivesse contado, eu teria enrolado menos.
— Pensei que estivesse fazendo isso pela sua família.
— E estou, claro. Nunca deixei de pensar nisso. Mas enfim, a gente vai mesmo conhecer sua mãe hoje?
— Ela é de boa, já te falei.
— Não, ela vai me matar na primeira oportunidade. Eu vi os olhos dela — tava escrito na cara.
— Relaxa. Esse jantar não é com meus pais. É com outros líderes.
(...)
Jun-ho disse que precisava da confiança dos anciãos. Eu sabia bastante sobre etiqueta, então achava que me sairia bem.
Quando chegamos ao jantar, havia um número considerável de pessoas na sala.
— É ótimo ver o jovem Jun-ho encontrando seu caminho. Dá pra ver um futuro brilhante pela frente.
— Obrigado. Só precisava me encontrar. Agradeço pela paciência.
— Esta é sua noiva?
— Sim, Park Salin.
— Prazer em conhecê-la. Sinta-se muito orgulhosa, você salvou a vida e o futuro do seu noivo.
— Ah… — Fiquei sem saber o que dizer. Eles falavam coisas absurdas, trocando alfinetadas e piadinhas. O clima era tóxico. E eu nunca tinha visto o Jun-ho sorrir tanto.
Alguns convidados já estavam indo embora. Enquanto saíamos, ele me olhou com os olhos brilhando!
— Finalmente!
— O quê?
— Eles estão me aceitando. Logo, a palavra final será minha.
— Por que você precisa do apoio deles?
— Eu não preciso do apoio. Preciso do reconhecimento. Meu pai só tem o controle porque é reconhecido como o maior. Eu preciso fazer o mesmo.
Fiquei impressionado. Jun-ho não estava sendo pressionado por ninguém, nem forçado. Ele realmente queria controlar a Goden.
— Hm… Você parece estar indo muito bem. Pelo menos não vi ninguém fazendo careta pelas costas.
Talvez o Jun-ho fosse igual a eles, no fim das contas.
Levantei e fui ao banheiro antes de irmos embora. Quando voltei, vi Min Jun-ho de longe, conversando com outra mulher.
Por que ele parece um ímã de mulher? Todas se jogam em cima dele, e ele sempre dá motivo. Uma delas já estava o encurralando, com um drink na mão. Parecia bem à vontade. Voltei pro banheiro. Quanto tempo eles iam conversar? Quando eu terminasse de lavar as mãos, ele ia fingir que ela nunca apareceu?
— Sali. — Jun-ho disse ao entrar no banheiro. Admito, me assustei. Ele me olhou, desconfiado. — Desculpa, é que você tava demorando.
— Ah não, você é que estava ocupado. Eu só queria lavar bem as mãos — falei.
Ele sorriu, orgulhoso.
— Não se preocupe com nenhuma mulher ou homem que se aproxime de mim.
Observei ele pegar o sabonete, despejar uma quantidade absurda e lavar o braço e as mãos inteiras.
— Só odeio ser tocado — disse.
— Eu entendo.
Eu já tinha reparado. Ele toma banho toda vez que chega em casa, não importa se é a terceira ou quarta vez no dia. O braço dele tem cicatrizes, assim como os dedos. Curiosamente, imagino que o braço direito tenha mais, mas está coberto de tatuagens. O ombro, onde as pessoas costumam tocar, também tem marcas, como de queimadura. Achei que fosse do trabalho, mas a maioria provavelmente era auto-infligida.
— Mas você melhorou bastante — comentei, já que não parecia ter nenhuma cicatriz nova.
— Sim — ele sorriu e, como se lesse meus pensamentos, estendeu os braços, mostrando que realmente não havia nada recente. — Isso foi quando eu era mais novo. Vivia enfaixado, evitava sair de casa. Foi um dos benefícios da terapia, apesar de ser um processo longo.
Jun-ho levantou os braços e os flexionou, com um sorriso orgulhoso.
Ri do gesto dele, ele parecia realmente feliz. E isso me deu um certo alívio. Dedicado a alcançar seu objetivo, mesmo com um futuro sombrio, nada parecia apagar seu sorriso, seja pelo que ele já passou, seja pelo que ainda estava por vir.
Na maioria das vezes, Jun-ho é só uma criança feliz e curiosa. E, pra mim, tudo bem ele ser assim.