Salin estava começando a se acostumar a acordar e encontrar Jun-ho ainda dormindo em um canto, espremido. Tinha certeza de que, em algum momento durante a noite, eles ficavam juntos, mas depois de um tempo, Jun-ho sempre se afastava.
Ele tinha começado a criar o pequeno hábito de acordar o mais novo pela manhã, mesmo que já estivessem nessa rotina há apenas duas semanas.
— Jun... Jun...
— Hm... — o mais novo ronronou.
— Acorda, eu tenho que trabalhar, e você deve ter alguma coisa pra fazer também.
— Uh-huh...
Salin se levantou, ligeiramente animado. Ainda hesitava um pouco em acordá-lo, com medo de assustá-lo, mas se sentia cada vez mais orgulhoso quando ele acordava bem.
Jun-ho se levantou logo depois, pegou o celular e conferiu as mensagens. Tinha que cobrar uma dívida hoje. Caminhou até o banheiro e tomou um banho rápido.
Quando saiu, viu Salin terminando de preparar o café da manhã. O moreno parecia concentrado em quantas colheres de café estava colocando. O coração de Jun-ho acelerou, e um sorriso apareceu no seu rosto. Naquele instante, surgiu um pequeno impulso, um desejo de se aproximar.
Salin estava de olho no horário, esperando o café ferver, quando foi surpreendido ao sentir o corpo de Jun-ho pressionado contra o seu. Num abraço por trás, o mais novo o apertou com um suspiro, um gesto simples de conforto, e depois se afastou, ainda sonolento.
Park demorou um segundo para processar. O coração disparado, o corpo energizado, mas a mente confusa.
— O que foi isso?
— Hm… eu... fui impulsivo. E deu certo. — Jun-ho disse, claramente orgulhoso.
— Hm…
— Não gostou?
— Não é isso... É que agora a gente tá parecendo mesmo um casal.
— A gente pode ser, Salin. Eu já te amo. — Ele disse.
Salin sorriu de leve, lembrando a si mesmo de que isso era porque Jun-ho queria se testar, e que, no fim das contas, eles ainda estavam apenas num acordo.
— Isso é só um acordo.
— Claro... Você vai fazer alguma coisa hoje?
— Onde você quer me levar?
(...)
Jun-ho dirigia com firmeza, as mãos apertadas no volante enquanto a cidade passava rapidamente pela janela. Ao lado, Salin estava tenso, o olhar fixo na paisagem, absorvendo o que estava prestes a acontecer. Não fazia muito tempo desde que Jun-ho chegou em casa coberto de sangue. Salin sabia que o apelido do seu noivo de mentira, “Cão do Inferno”, não era à toa. Mas nunca tinha visto de perto o que aquilo realmente significava. E hoje, Jun-ho decidiu levá-lo na missão. Queria que Salin entendesse seu trabalho. Não pretendia esconder nada dele, mesmo que o casamento fosse de fachada.
— Você tá bem? — perguntou, sutilmente preocupado.
— Tô... Só um pouco nervoso — Salin admitiu, soltando um suspiro que nem sabia que estava prendendo. — O que exatamente a gente vai fazer?
Jun-ho apertou mais o volante, como se a pergunta o puxasse de volta pra realidade.
— Cobrar uma dívida. Meu pai tentou negociar algumas vezes, mas o cara acha que pode enganar a gente. Vai ser simples, mas... ao mesmo tempo, talvez não.
Park engoliu seco, percebendo a seriedade no tom de Jun-ho. Ele era herdeiro de um império criminoso, e Salin sabia disso. Ainda se lembrava do dia em que Jun-ho apareceu no seu quarto, vestido de preto, com o rosto coberto por uma máscara de metal. O medo que sentiu naquele momento, ao ver aquela figura sombria e ameaçadora, parecia distante agora, mas na época, surtou e falou tudo que vinha à cabeça. Jun-ho não fez nada naquele dia. Na verdade, apareceu no dia seguinte, quase como se estivesse envergonhado. Salin até teria achado fofo se ele tivesse vindo com um buquê de flores. Vai saber, talvez tivesse saído com ele. Pena que só conseguiu falar besteira.
Aquele era um Jun-ho, e esse era outro. Mas ainda eram o mesmo.
Salin suspirou, tentando recuperar a compostura. Precisava se acalmar. Thomas André e Lee Dong chegariam logo. Pra eles, era só mais um dia.
O carro parou em frente a um galpão industrial abandonado na periferia da cidade. Jun-ho desligou o motor e olhou para Salin antes de sair.
— Você não precisa fazer nada. Só observar. Quero que veja como as coisas funcionam, mas não vou te colocar em risco — disse.
Salin assentiu, embora o coração estivesse disparado. Thomas se aproximou e colocou a mão em seu ombro.
— Não se preocupa. Jun-ho sabe o que tá fazendo. Não vai deixar nada acontecer com você.
— Lembra, o objetivo é assustar, não matar. Mas estejam prontos pra atirar, se necessário — Jun-ho instruiu com calma, enquanto Lee Dong e Thomas André assentiram, prontos pra qualquer coisa.
Dong era ágil e confiante, nunca falhava numa missão. Thomas, apesar da postura imponente, agia de forma descontraída, mas seu raciocínio rápido e talento estratégico o tornavam o cérebro do grupo. Jun-ho estava cercado pelos melhores.
Em silêncio, o grupo se aproximou de uma porta de metal enferrujada, onde sabiam que encontrariam o homem que devia uma grande quantia ao pai de Jun-ho.
Ao entrarem, foram recebidos por três homens. O devedor estava em pé, nervoso, cercado por dois capangas que pareciam inofensivos perto de Lee e Thomas André. Salin ficou surpreso. Não encontrou o típico cara brutamontes que imaginava, mas sim alguém bem vestido, de terno, acompanhado por dois capangas que pareciam mais comuns do que ameaçadores. Quando Jun-ho entrou, o clima mudou na hora.
— Acho que você já sabe por que estamos aqui — Jun-ho disse, com a voz calma, mas carregada de autoridade.
Os outros encolheram, e o líder deu um passo à frente, tentando manter a postura.
— Jun-ho, eu já disse que vou pagar. Só preciso de mais tempo — começou o homem, mas Jun-ho levantou a mão, interrompendo.
— Meu pai já te deu tempo suficiente. Agora, ou paga o que deve, ou vamos resolver isso de outro jeito.
O tom de Jun-ho não foi alto, mas a ameaça estava clara em cada palavra. Salin observava tudo, sentindo o peso da situação.
— Jun-ho, eu... eu preciso de mais tempo! — o homem insistiu, tentando desesperadamente ganhar tempo, olhando pros capangas como se fossem sua única esperança.
Jun-ho não se impressionou. Já tinha ouvido essa desculpa muitas vezes. Com um movimento rápido, agarrou o colarinho do líder e o prensou contra a parede.
— Tempo é algo que você não tem mais, otário. Meu pai foi paciente, mas agora quem tá aqui sou eu. E a minha paciência é bem menor — Jun-ho disse. Com um gesto breve, chamou Thomas para se aproximar, fazendo os capangas recuarem um passo. Lee Dong continuou alerta, observando tudo. — Ou paga agora, ou a gente resolve do nosso jeito.
— Eu já disse! Não tenho nada agora! — o homem gritou, desesperado, suando.
Jun-ho o soltou, deixando-o cair no chão, humilhado.
Foi aí que um dos capangas, num movimento inesperado, puxou uma arma e apontou diretamente para Thomas, forçando todos a recuarem. Thomas e Dong, por reflexo, deram um passo atrás, as mãos já nos cintos, prontos para sacar.
— Se afastem dele agora, ou vão acabar com um buraco na cabeça, moleques — disse o segundo capanga, apontando a arma para Jun-ho, com um sorriso torto, claramente achando que tinha retomado o controle da situação.