Jun-ho parou por um momento, com a arma à sua frente. Seus olhos estavam frios, a raiva fervendo sob a superfície. Ele não queria que Salin testemunhasse uma morte. Não ali, não tão cedo.
— Isso não vai acabar bem pra você — disse Jun-ho, com a ameaça clara na voz.
O homem sorriu nervoso, mas se sentia protegido pelos capangas.
— Você pode ser bom, mas hoje não sai vivo daqui. — zombou o devedor.
O clique metálico da arma sendo destravada fez o coração de Salin disparar.
Antes que alguém pudesse reagir, Salin deu um passo à frente, sua voz calma cortando a tensão no ar.
— Acho bom você pensar duas vezes antes de ameaçar alguém aqui — disse Salin, sem hesitar.
Todos os olhos se voltaram para ele. Lee Dong e Thomas André ficaram surpresos, mas o mais chocante foi ver Salin sacar uma arma de dentro do casaco com uma velocidade que ninguém esperava.
Ele mirou diretamente no capanga, sua expressão calma, mas o olhar firme. Jun-ho o encarou, surpreso. Sabia que Salin era forte, mas não imaginava que ele seria tão centrado, tão seguro de si, numa situação daquelas.
— Você? — gaguejou o capanga, claramente surpreso.
— Abaixa a arma — ordenou Salin, sem vacilar. — Se machucar o Jun-ho, eu vou encerrar isso de um jeito que você não vai gostar.
Então Salin avançou, o som dos seus passos ecoando pelo cômodo. O capanga recuou à medida que Salin se aproximava sem medo. Com a arma ainda apontada, era ele quem estava no controle.
— Não estou blefando — afirmou, sem desviar o olhar. — Vou garantir que cada um de vocês sofra uma morte lenta.
A expressão do capanga mudou de confusão para medo. O olhar de Salin era preciso demais, frio demais. Tinha algo estranho. Gente comum não encara um confronto assim, sem hesitar.
Quanto mais pensava, mais aterrorizado ele ficava. O capanga abaixou a arma, sentindo a morte se aproximar. Já tinha ouvido rumores de que a Golden contratava ex-militares das forças especiais. O segundo capanga fez o mesmo, percebendo que não tinham chance. Lee Dong e Thomas André entraram em ação, desarmando os dois rapidamente.
O devedor, agora em pânico, começou a implorar:
— Por favor! Eu vou pagar, eu vou pagar! Só… não me matem! Eu consigo o dinheiro!
Salin o observava, ainda com a arma em mãos, o olhar firme e impassível.
— É o seguinte: você vai conseguir o dinheiro e vai garantir que isso não se repita. Não quero ver ninguém aqui bancando o engraçadinho.
Jun-ho, ainda processando a cena, se aproximou de Salin e encarou o devedor.
— Se você não trouxer o dinheiro, vai desejar que eu fosse a única ameaça aqui — avisou Jun-ho.
Sem opção, o homem assentiu freneticamente.
Jun-ho olhou para Salin, que abaixou a arma, mas a manteve visível como um lembrete.
— Vamos sair daqui — disse Salin, com a voz voltando ao tom calmo de sempre.
Lee Dong e Thomas André trocaram olhares de respeito enquanto seguiam para os carros.
— Parece que temos mais do que um mero espectador aqui — comentou Lee Dong.
Thomas André deu um sorriso de canto, impressionado, enquanto caminhavam para a saída.
— Com certeza.
De repente, Jaeho apareceu, descendo de um prédio próximo com mais dois homens.
— Uau, Salin, isso foi incrível. Jun-ho teria surtado se eu tivesse que matar aquele cara com você ali.
— Você viu?
— Claro. Eu sempre fico nas sombras. É meu trabalho.
Salin sorriu, lembrando das palavras de Jun-ho. Estava mais protegido do que imaginava.
— Você foi incrível. Tá virando caçador agora?
— Nem pensar, hoje foi só dia de levar o noivo pro trabalho — respondeu Jun-ho, olhando pra Salin com um sorriso orgulhoso.
Quando entraram no carro, Jun-ho olhou pra ele, ainda meio em choque.
— Você estava com uma arma esse tempo todo e não me contou?
Salin deu um sorrisinho.
— Tenho que estar preparado. Nunca se sabe, né?
Jun-ho riu, balançando a cabeça.
— Você foi incrível, sabia? Mas de onde tirou aquelas falas todas? Foi demais.
— Filmes. Meu gênero favorito é thriller psicológico.
Os olhos de Jun-ho brilharam.
— Você foi melhor que a maioria dos funcionários da Golden. Acho que nem precisa de treinamento. Meu pai queria que eu te colocasse em um, mas eu fui contra.
— Também não gostaria, pra ser sincero — retrucou Salin.
— Isso é uma loucura. — Ele colocou a mão na coxa de Salin, apertando de leve. — E me lembra de nunca te subestimar de novo.
Salin riu, ainda com a adrenalina correndo enquanto olhava pra estrada.
— Foi seu pai quem me deu antes de sairmos.
— O quê? Quando?
— Você achou que a arma era minha? — Salin o encarou, incrédulo.
— Não… é que… eu só não estava preparado pra isso. Eu… nem sei o que pensar! — disse ele, com uma mistura de orgulho e confusão na voz. — Eu só te trouxe porque achei que tudo estaria sob controle. Mas meu pai e você… — O olhar se fixou em Salin. — Vocês dois planejaram isso pelas minhas costas?
Salin riu. Jun-ho estava completamente perdido.
[Algumas horas antes]
Jun-ho havia levado Salin até a casa de seus pais.
Pela primeira vez, Park entrou numa casa que parecia mais um palácio, mas com um toque moderno. Salin se sentou no enorme sofá da sala, sentindo-se deslocado. Jun-ho havia sumido em um dos cômodos do andar de cima. A televisão estava ligada no noticiário, mas Salin mal prestava atenção.
Ainda se lembrava do teste. Ainda não gostava daquela família, apesar de entender que a Golden funcionava bem do jeito deles. Um jeito que ele ainda não compreendia completamente.
A mãe de Jun-ho passou pela sala sem nem olhar pra ele e subiu as escadas, cruzando com o filho mais novo, que já descia. Ela o parou, disse que precisava mostrar algo, e os dois sumiram no andar de cima.
Enquanto Salin encarava a TV, apertando os lábios, ouviu uma tosse proposital que chamou sua atenção. Virou-se para o som e se surpreendeu ao ver Min Kun. Salin o admirava como compositor, mas não como pai nem como fundador da Golden.
— Olá, senhor Min. — disse Salin, levantando-se e fazendo uma leve reverência, sem saber como reagir à presença do homem mais velho.
— Jun-ho disse que vai te levar na missão que eu passei pra ele — declarou Kun, com tom analítico.
— Sim.
— E você concordou com isso?
— Aham. — Salin assentiu.
— Entendi. — Kun pigarreou. — Você… disse que é mestre em Taekwondo e também treinado em boxe… Quando?
Salin olhou pra ele, um pequeno sorriso se formando automaticamente. As lembranças de anos de treino ainda o enchiam de orgulho.
— Comecei a lutar quando era criança — disse ele, a voz calma, mas firme. — Pratiquei Taekwondo, boxe e Jiu-jitsu. Parei faz cerca de um ano, quando entrei na faculdade, mas antes disso, era a minha vida.
Min pareceu processar a informação.
— Agora entendo. Fui derrubado por um grande mestre. Você tem muita experiência… Eu valorizo essa disciplina. É bom ter alguém assim ao lado do meu filho.
Salin ficou surpreso; não esperava esse tipo de aprovação.
— Isso é o que está te faltando no momento. Pegue. Jun-ho não te daria uma arma, mas é bom que você tenha uma.
Kun estendeu a arma em uma mão e o carregador na outra.
— Com suas habilidades, imagino que tenha servido nas forças especiais.
— Servi.
— Ótimo, o mesmo padrão.
Ainda hesitante, Salin pegou a arma e o carregador, carregando a pistola com cuidado.
Min Kun deu um pequeno sorriso de aprovação.
— Use isso por baixo do casaco. — Ele entregou um coldre para fixar a arma.
Salin seguiu as instruções, escondendo a arma sob a roupa. Quando levantou o olhar novamente, Kun já havia virado e desaparecido. Logo depois, Jun-ho apareceu. Salin pensou que talvez a arma fosse realmente necessária, aquele Min mais jovem e sorridente não conseguia esconder a aura de futuro líder de facção.