29 - Saber lutar

Jun-ho parou por um momento, com a arma à sua frente. Seus olhos estavam frios, a raiva fervendo sob a superfície. Ele não queria que Salin testemunhasse uma morte. Não ali, não tão cedo.

— Isso não vai acabar bem pra você — disse Jun-ho, com a ameaça clara na voz.

O homem sorriu nervoso, mas se sentia protegido pelos capangas.

— Você pode ser bom, mas hoje não sai vivo daqui. — zombou o devedor.

O clique metálico da arma sendo destravada fez o coração de Salin disparar.

Antes que alguém pudesse reagir, Salin deu um passo à frente, sua voz calma cortando a tensão no ar.

— Acho bom você pensar duas vezes antes de ameaçar alguém aqui — disse Salin, sem hesitar.

Todos os olhos se voltaram para ele. Lee Dong e Thomas André ficaram surpresos, mas o mais chocante foi ver Salin sacar uma arma de dentro do casaco com uma velocidade que ninguém esperava.

Ele mirou diretamente no capanga, sua expressão calma, mas o olhar firme. Jun-ho o encarou, surpreso. Sabia que Salin era forte, mas não imaginava que ele seria tão centrado, tão seguro de si, numa situação daquelas.

— Você? — gaguejou o capanga, claramente surpreso.

— Abaixa a arma — ordenou Salin, sem vacilar. — Se machucar o Jun-ho, eu vou encerrar isso de um jeito que você não vai gostar.

Então Salin avançou, o som dos seus passos ecoando pelo cômodo. O capanga recuou à medida que Salin se aproximava sem medo. Com a arma ainda apontada, era ele quem estava no controle.

— Não estou blefando — afirmou, sem desviar o olhar. — Vou garantir que cada um de vocês sofra uma morte lenta.

A expressão do capanga mudou de confusão para medo. O olhar de Salin era preciso demais, frio demais. Tinha algo estranho. Gente comum não encara um confronto assim, sem hesitar.

Quanto mais pensava, mais aterrorizado ele ficava. O capanga abaixou a arma, sentindo a morte se aproximar. Já tinha ouvido rumores de que a Golden contratava ex-militares das forças especiais. O segundo capanga fez o mesmo, percebendo que não tinham chance. Lee Dong e Thomas André entraram em ação, desarmando os dois rapidamente.

O devedor, agora em pânico, começou a implorar:

— Por favor! Eu vou pagar, eu vou pagar! Só… não me matem! Eu consigo o dinheiro!

Salin o observava, ainda com a arma em mãos, o olhar firme e impassível.

— É o seguinte: você vai conseguir o dinheiro e vai garantir que isso não se repita. Não quero ver ninguém aqui bancando o engraçadinho.

Jun-ho, ainda processando a cena, se aproximou de Salin e encarou o devedor.

— Se você não trouxer o dinheiro, vai desejar que eu fosse a única ameaça aqui — avisou Jun-ho.

Sem opção, o homem assentiu freneticamente.

Jun-ho olhou para Salin, que abaixou a arma, mas a manteve visível como um lembrete.

— Vamos sair daqui — disse Salin, com a voz voltando ao tom calmo de sempre.

Lee Dong e Thomas André trocaram olhares de respeito enquanto seguiam para os carros.

— Parece que temos mais do que um mero espectador aqui — comentou Lee Dong.

Thomas André deu um sorriso de canto, impressionado, enquanto caminhavam para a saída.

— Com certeza.

De repente, Jaeho apareceu, descendo de um prédio próximo com mais dois homens.

— Uau, Salin, isso foi incrível. Jun-ho teria surtado se eu tivesse que matar aquele cara com você ali.

— Você viu?

— Claro. Eu sempre fico nas sombras. É meu trabalho.

Salin sorriu, lembrando das palavras de Jun-ho. Estava mais protegido do que imaginava.

— Você foi incrível. Tá virando caçador agora?

— Nem pensar, hoje foi só dia de levar o noivo pro trabalho — respondeu Jun-ho, olhando pra Salin com um sorriso orgulhoso.

Quando entraram no carro, Jun-ho olhou pra ele, ainda meio em choque.

— Você estava com uma arma esse tempo todo e não me contou?

Salin deu um sorrisinho.

— Tenho que estar preparado. Nunca se sabe, né?

Jun-ho riu, balançando a cabeça.

— Você foi incrível, sabia? Mas de onde tirou aquelas falas todas? Foi demais.

— Filmes. Meu gênero favorito é thriller psicológico.

Os olhos de Jun-ho brilharam.

— Você foi melhor que a maioria dos funcionários da Golden. Acho que nem precisa de treinamento. Meu pai queria que eu te colocasse em um, mas eu fui contra.

— Também não gostaria, pra ser sincero — retrucou Salin.

— Isso é uma loucura. — Ele colocou a mão na coxa de Salin, apertando de leve. — E me lembra de nunca te subestimar de novo.

Salin riu, ainda com a adrenalina correndo enquanto olhava pra estrada.

— Foi seu pai quem me deu antes de sairmos.

— O quê? Quando?

— Você achou que a arma era minha? — Salin o encarou, incrédulo.

— Não… é que… eu só não estava preparado pra isso. Eu… nem sei o que pensar! — disse ele, com uma mistura de orgulho e confusão na voz. — Eu só te trouxe porque achei que tudo estaria sob controle. Mas meu pai e você… — O olhar se fixou em Salin. — Vocês dois planejaram isso pelas minhas costas?

Salin riu. Jun-ho estava completamente perdido.

[Algumas horas antes]

Jun-ho havia levado Salin até a casa de seus pais.

Pela primeira vez, Park entrou numa casa que parecia mais um palácio, mas com um toque moderno. Salin se sentou no enorme sofá da sala, sentindo-se deslocado. Jun-ho havia sumido em um dos cômodos do andar de cima. A televisão estava ligada no noticiário, mas Salin mal prestava atenção.

Ainda se lembrava do teste. Ainda não gostava daquela família, apesar de entender que a Golden funcionava bem do jeito deles. Um jeito que ele ainda não compreendia completamente.

A mãe de Jun-ho passou pela sala sem nem olhar pra ele e subiu as escadas, cruzando com o filho mais novo, que já descia. Ela o parou, disse que precisava mostrar algo, e os dois sumiram no andar de cima.

Enquanto Salin encarava a TV, apertando os lábios, ouviu uma tosse proposital que chamou sua atenção. Virou-se para o som e se surpreendeu ao ver Min Kun. Salin o admirava como compositor, mas não como pai nem como fundador da Golden.

— Olá, senhor Min. — disse Salin, levantando-se e fazendo uma leve reverência, sem saber como reagir à presença do homem mais velho.

— Jun-ho disse que vai te levar na missão que eu passei pra ele — declarou Kun, com tom analítico.

— Sim.

— E você concordou com isso?

— Aham. — Salin assentiu.

— Entendi. — Kun pigarreou. — Você… disse que é mestre em Taekwondo e também treinado em boxe… Quando?

Salin olhou pra ele, um pequeno sorriso se formando automaticamente. As lembranças de anos de treino ainda o enchiam de orgulho.

— Comecei a lutar quando era criança — disse ele, a voz calma, mas firme. — Pratiquei Taekwondo, boxe e Jiu-jitsu. Parei faz cerca de um ano, quando entrei na faculdade, mas antes disso, era a minha vida.

Min pareceu processar a informação.

— Agora entendo. Fui derrubado por um grande mestre. Você tem muita experiência… Eu valorizo essa disciplina. É bom ter alguém assim ao lado do meu filho.

Salin ficou surpreso; não esperava esse tipo de aprovação.

— Isso é o que está te faltando no momento. Pegue. Jun-ho não te daria uma arma, mas é bom que você tenha uma.

Kun estendeu a arma em uma mão e o carregador na outra.

— Com suas habilidades, imagino que tenha servido nas forças especiais.

— Servi.

— Ótimo, o mesmo padrão.

Ainda hesitante, Salin pegou a arma e o carregador, carregando a pistola com cuidado.

Min Kun deu um pequeno sorriso de aprovação.

— Use isso por baixo do casaco. — Ele entregou um coldre para fixar a arma.

Salin seguiu as instruções, escondendo a arma sob a roupa. Quando levantou o olhar novamente, Kun já havia virado e desaparecido. Logo depois, Jun-ho apareceu. Salin pensou que talvez a arma fosse realmente necessária, aquele Min mais jovem e sorridente não conseguia esconder a aura de futuro líder de facção.