Eu podia observar Jun-Ho segurar um papel. O local vazio me fez imaginar que deveria ter algo ali, porém não estava mais, e isso o irritou.
Saí em sua direção assim que percebi sua expressão transtornada ao jogar o papel no chão.
— Precisa de alguma coisa? — perguntei, tentando entender o que se passava.
— Não, agora não tem nada que eu possa fazer. — Ele respondeu, sem olhar diretamente para mim, ainda com a respiração descompassada.
Enquanto Thomas André e Lee Dong procuravam pistas ao redor do galpão, eu o levei até o carro. Ele olhava fixamente para um ponto não específico. Sentei ao seu lado, esperando que ele dissesse algo, mas tudo o que fiz foi encarar seus olhos, que agora mostravam uma mistura de tristeza e frustração.
— O que está acontecendo com você? — perguntei, sabendo que havia algo além da traição.
— Você acha que eu sou um monstro? — Ele perguntou, com a voz baixa, quase como se quisesse evitar a resposta, olhando fixamente para o horizonte.
— Isso depende... Para quem está ao seu lado, você não é. Mas para quem te deve algo... talvez você seja, sim. Eles têm medo de você, Jun-Ho. Te chamam de muitas coisas.
Fiquei sem entender sua pergunta, mas talvez no bilhete houvesse um xingamento que o abalou. Deveria eu tentar fazê-lo se sentir melhor?
— E você? O que acha de mim? — Ele finalmente me olhou, esperando por uma resposta sincera.
Pensei por um momento antes de responder.
— Eu acho que você é um bebê monstro. — Tentei sorrir, usando o apelido para aliviar a tensão.
— Bebê monstro? — Ele arqueou uma sobrancelha, surpreso.
— Sim, você é assustador, mas, no fundo, é apenas... um bebê, muito fofo. — Eu ri baixinho, tentando manter o clima leve.
Jun-Ho sorriu de volta, mas havia algo mais em seus olhos. Algo que eu não conseguia definir.
— Venha, me dê um beijo. — Ele pediu, sua voz suave, mas com um tom de vulnerabilidade que eu nunca havia visto antes. Ele estava buscando consolo, e eu sabia disso.
Sem hesitar, me aproximei e o beijei. Senti uma onda de adrenalina percorrer meu corpo. Talvez fosse o tempo em que passei desejando estar assim, ou talvez fosse a intensidade que ele transmitia. Me afastei brevemente, procurando sua reação, que vi ser positiva. Querendo mais, eu o beijei novamente, me deixando levar. Me sentei em seu colo no banco de trás daquele carro. Pressionando meu corpo contra o dele, nossos beijos se intensificaram. Eu não sabia como lidar, apenas queria mais. Podia sentir a tensão em seus músculos, como se ele estivesse à beira de se entregar por completo, e isso só me puxava ainda mais para ele.
Suas mãos vieram até meus ombros, como se empurrasse levemente, mas sem querer me afastar de fato. Senti seu coração bater como louco e seu corpo se enrijecer sob o meu.
E então, ele parou. De repente, seus lábios se afastaram dos meus com uma frieza que me pegou de surpresa. Jun-Ho me olhou por um segundo e então murmurou algo que me fez estremecer.
— Sai.
Seu tom era firme. Me afastei de seu colo rapidamente, sentindo o desconforto tomar conta de mim. Eu estraguei a oportunidade de ajudá-lo, só piorei. Não podia ser menos insensível? O silêncio entre nós ficou pesado, quase palpável.
— Desculpe... eu me deixei levar. — Disse, envergonhado, tentando suavizar a situação.
Jun-Ho permaneceu em silêncio, sem me olhar. Era como se ele estivesse travando uma batalha interna.
— Eu ainda quero seu beijo — ele disse, em clara frustração. — Mas não sou capaz de possuir seu corpo agora. Me desculpe.
Sua respiração era pesada, e suas mãos estavam cerradas, como se ele estivesse contendo algo dentro de si.
— P*rra, não deveria ser difícil... — murmurou, visivelmente irritado consigo mesmo.
Eu me encolhi no assento, sentindo o peso da rejeição. Mesmo que ele não tivesse a intenção de me magoar, a dor era real. Ser rejeitado, mesmo que por uma razão que eu sabia que ele não podia controlar, ainda era difícil de suportar.
— Eu entendo. — Disse, sentindo um misto de culpa e vergonha. Eu deveria saber me controlar. Também não deveria ser difícil.
Após um tempo, Thomas André se aproximou do nosso carro ao sair do galpão e bateu no vidro, esperando Jun-Ho abrir para ele poder falar.
— Essa merda estava planejada desde o início. — Disse, encarando Min Jun-Ho.
— Como assim?
— É o Colen, cara.
— Filho da p*ta. — Jun-Ho se estressou. — Colen já vem tentando quebrar o equilíbrio das facções há alguns anos.
— Não sei de onde ele tá tirando verba pra comprar os caras, mas não é um ataque pessoal. Podemos segurar a barra, então fica de boa.
— Vamos ver como será durante a semana.
— Você tem a nós, não se esqueça disso. — Disse Lee Dong ao se aproximar também.
Jun-Ho suspirou e então saiu com o carro.
— Salin, vou te deixar em casa. Volto assim que possível.
— Está bem, mas não se machuque. — Disse, preocupado. Eu não tinha ideia do que Jun-Ho seria capaz de fazer.
Jun-Ho olhou para mim gentilmente, estendeu suas mãos cálidas e tocou levemente no meu rosto.
— Estou bem. Esse tipo de coisa sempre acontece. É um trabalho difícil... Mas ainda é algo que gosto e vou lutar para conquistar. — Ele piscou para mim, com uma confiança que me assustou. Descendo um pouco mais suas mãos em meu rosto, ele completou: — É o mesmo com você.
Fiquei paralisado por um tempo. Eu tinha acabado de ultrapassar os limites há poucos minutos, e ele ainda fazia questão de dizer que estava tudo bem. Senti um aperto no meu coração, mas não era um sentimento ruim. Era mais como um alívio, embora ele estivesse saindo para fazer algo do qual eu não sabia. Parecia que tudo ia ficar bem.
Confiando em suas palavras, ele me deixou em sua casa. Havia passado tão pouco tempo desde que estávamos juntos, e muita coisa aconteceu.
— Eu estou na lista vermelha da Uivante! — Afirmei em voz alta, sozinho na sala. — Por isso Sora estava tão preocupado! — Disse, como se finalmente tudo tivesse sido processado. Caminhei pela sala, apreensivo. Jun-Ho ainda não tinha voltado. Não que tivesse passado muito tempo, mas isso era assustador.
Basicamente, a Uivante queria todos da minha família. Estavam ameaçando meu irmão dessa forma.
Me sentei por alguns segundos. Estava tudo bem agora. Eu deveria confiar em Min Jun-Ho.
Ainda era muita coisa para assimilar.
Hoje, eu quase atirei em alguém. Fazia tempo que não sentia essa sensação de vida ou morte. Nem mesmo quando servi eu senti o que senti hoje, quando aquele cara apontou uma arma para Jun-Ho. Eu nem sei ao certo o que passou pela minha cabeça na hora. Mas... Min Jun-Ho ainda tinha o controle de tudo.
Um sorriso brotou em meu rosto. Era inevitável.
Me levantei. Não sabia que horas Jun-Ho voltaria. Então, cuidaria em fazer minhas coisas.