Min Jun-Ho ouviu o telefone tocar, mas resistiu a sair debaixo de Salin. Ele estava contente, afinal, havia conseguido passar a noite inteira ao lado dele, dormindo juntos. Contudo, o som insistente do telefone o forçou a levantar. Ele não precisou atender a ligação, já havia uma mensagem que lhe passava as informações necessárias.
Jun-Ho deveria ir ao Canadá. Sozinho.
Ele se virou para Salin, observando o rosto angelical do qual havia se apaixonado. Nenhum dos seus piores pensamentos ou pesadelos poderia ofuscar a pureza e a beleza que via nele. Ele não confundia mais. Quando Salin estava por perto, ele não sentia nada além de paz; nada era distorcido. Era apenas Salin. Nenhuma voz do seu passado gritava, nenhum sentimento obscuro o dominava. Só havia Salin, e o sentimento tranquilo que ele trazia. A paixão pelo mais velho era o que o fazia esquecer de tudo de ruim que o mundo lhe ofereceu. Jun-Ho estava crescendo, mesmo sabendo que esse relacionamento não seria para sempre.
— Pra onde você vai? — murmurou Salin, ainda sonolento, enquanto coçava os olhos.
Jun-Ho pegava algumas roupas no armário, preparando-se para partir.
— Canadá — respondeu.
— Canadá? Fazer o quê lá? — Salin perguntou, com surpresa.
— Temos uma conexão lá que está enfrentando problemas por causa do Colen.
— Esse cara não é perigoso? — Salin perguntou, com a preocupação evidente em sua voz.
— Sim, e é por isso que estou indo — disse Jun-Ho. — Vou resolver e volto em duas semanas.
— Você vai com alguém?
— Não. Meu pai disse que preciso resolver isso sozinho.
O rosto de Salin se contorceu em surpresa, mas ele tentou manter a calma. Talvez essa não fosse a primeira missão solo de Jun-Ho.
— Vai, ao menos, manter contato?
— Salin? — Jun-Ho notou a expressão distante dele e, por um momento, se perdeu nos próprios pensamentos. — O que foi? — Ele se aproximou e sentou-se na beira da cama, olhando diretamente para o rosto do mais velho. — Eu vou voltar, não se preocupe. É apenas parte do meu trabalho.
Salin não queria admitir para Jun-Ho, mas o pensamento de ficar sozinho o incomodava. Depois de semanas se acostumando à presença de Jun-Ho, ele estava prestes a desaparecer por duas semanas?
— Você vai mesmo me deixar? — provocou Salin, tentando aliviar a tensão.
Ao ouvir Salin falar, Jun-Ho teve uma pequena esperança de que, no final das contas, Salin não o abandonaria.
— Está se apaixonando por mim? — Jun-Ho perguntou, com um sorriso brincalhão.
— Nos seus sonhos, Sir Min. — respondeu Salin, com firmeza.
Jun-Ho suspirou, sabendo que Salin não era fácil de dobrar.
— Então me iluda com um beijo, para que eu possa ir — disse Jun-Ho, sempre desejando Salin, mas ciente de que a situação era difícil para ambos.
Salin o encarou por alguns segundos antes de finalmente ceder e beijá-lo. Por mais que fosse Salin quem sempre iniciava, o beijo nunca era unilateral. Jun-Ho sempre correspondia, e agora, com a conexão física entre eles se tornando mais íntima...
Dessa vez, Jun-Ho não estava confuso. Sua mente estava clara, assim como seus sentimentos. Ele podia ver e sentir seu amado de forma nítida. Sem hesitar, ele avançou, deitando Salin na cama, as mãos deslizando pelo peito do mais velho. Salin, pela primeira vez, teve a sensação de como seria transar com o Min, sentindo as mãos de Jun-Ho descendo até sua cintura.
Diferente da última vez, Jun-Ho interrompeu o beijo calmamente, seus olhos fixos nos de Salin. Ele sussurrou suavemente:
— Voltarei o mais rápido possível.
Jun-Ho então se inclinou e tocou o pescoço de Salin com seus lábios. Apenas esse gesto fez o mais velho suspirar, sentindo a adrenalina correr pelo corpo. Salin até então não havia percebido que estava tão sensível assim, o simples toque do mais novo era capaz de deixá-lo corado. Em resposta, Salin deu mais um beijo.
Jun-Ho fechou seus olhos novamente tentando encontrar algum equilíbrio entre o prazer do beijo e as memórias que vinham à tona. Tinha que lutar contra si mesmo para continuar amando Salin sem acionar seus próprios gatilhos. E, no fundo, ele estava satisfeito por estar conseguindo.
Inclinando-se para mais um beijo, Jun-Ho provocou Salin, que já sentia a excitação crescendo. Sabia que, eventualmente, Jun-Ho iria parar e ir embora. No entanto, enquanto seus lábios se encontravam, o desejo entre eles era intenso, mesmo que reprimido e limitado pelas circunstâncias.
(...)
Jun-Ho desembarcou em Vancouver sob o céu nublado e cinzento. O voo havia sido longo, e ele não conseguiu dormir direito. Após um breve trajeto de balsa, ele entrou no carro que o levaria até a casa isolada perto da floresta.
Colen era um inimigo perigoso e intrometido. Nem seu pai, nem o conselho sabiam ao certo o que se passava na cabeça dele, o que ele queria ou qual era sua origem. O palpite mais provável era que Coren fosse filho de algum inimigo abatido pela Goden no passado.
Jun-Ho se lembrava da última conversa que tivera com seu pai:
— Você tem se saído bem. Suas decisões foram inteligentes, e os resultados mostram isso.
Jun-Ho não concordava totalmente com o pai.
— Não sinto que fiz um bom trabalho sendo traído.
— Traidores sempre existirão. Você falhou em controlá-los, mas soube usá-los para rastrear Colen. Foi um movimento inteligente. Assim como Salin.
Jun-Ho franziu a testa ao ouvir o nome do noivo.
— Salin?
— Sua escolha em tê-lo ao seu lado foi excelente. Eu lhe entreguei uma arma, e ele a usou para protegê-lo sem hesitação. Isso significa algo.
Jun-Ho desviou o olhar por um instante, sentindo um misto de orgulho e inquietação.
— Eu fiquei orgulhoso.
— Sim, você deveria. — o pai acrescentou, com um meio sorriso. — Estou orgulhoso de você também. Você amadureceu, e Salin provou ser digno da sua confiança.
Jun-Ho respirou fundo antes de responder:
— Tá, mas não dê uma arma ao Salin novamente.
O pai sorriu de lado, sem promessas.
— Ele nunca devolveu.
— O quê?
— Se concentre na missão. Como eu disse, você vai lidar com isso sozinho. Benjamin é um bom homem. Vá, e o ajude.
(...)
Enquanto o carro cortava a estrada sinuosa pela floresta, Min Jun-Ho pensava em como resolver a situação.
Coren havia sequestrado a filha de Benjamin. Mas o problema era maior do que o sequestro em si. A tática de Colen era venenosa. Ele precisava retomar o controle.
Chegando à propriedade, Jun-Ho encontrou Benjamin. O homem estava claramente abalado, mas mantinha o controle. Apesar da traição, Benjamin ainda comandava um grande número de capangas leais. Sua filha, no entanto, ainda estava desaparecida.
— Colen tem vantagem agora — disse Benjamin, com os olhos ardendo de raiva. — Ele sabia exatamente quem comprar. Eu confiei nos homens errados.
— Isso acontece com todos nós — respondeu Jun-Ho, que também já havia sido traído e ainda carregava as cicatrizes dessas experiências. Embora seu pai tivesse dito que ele não deveria se preocupar, essas situações ainda o afetavam.
Benjamin olhou nos olhos de Jun-Ho, firme:
— Eu preciso de você, Jun-Ho. Preciso que traga minha filha de volta.
Jun-Ho assentiu. Ele sabia o que tinha que ser feito.
Benjamin relatou que sua filha havia sido sequestrada enquanto era levada para a casa de sua mãe. Inicialmente, ele achava que o motorista também havia sido capturado, mas agora se perguntava se ele não era um cúmplice. No carro vazio havia apenas um bilhete: "Me dê o que eu quero e eu devolvo sua filha. Você tem 7 dias". No verso, estava escrito: "Min Jun-Ho".
O tatuado não ficou surpreso. Seu pai podia ser doentio quando queria.
"Prove que, mesmo que todos se virem contra você, você pode resolver sozinho."
— O que ele quer comigo? — perguntou Jun-Ho.
— Imagino que a queda do herdeiro da Goden seja vantajosa para ele. Talvez ele possa substituí-lo.
— Aliados do lado de dentro? — Disse Jun-Ho. Muitos rostos passaram por sua mente, mas encontrar o traidor seria como procurar uma agulha no palheiro.
— É possível. O que você fará?
— Vou resgatar Erina. Apenas isso.
Jun-Ho não suportava a ideia de que Erina pudesse passar pelo que ele passou. Ele faria o possível e o impossível para resgatá-la.
Chegando ao local do sequestro, a rua estava movimentada, com uma festa ocorrendo nas proximidades. Ele analisou o ambiente com cuidado, seus olhos varrendo cada detalhe em busca de pistas que o levassem a Colen ou à filha de Benjamin. Então, uma câmera de segurança instalada discretamente no alto de um poste chamou sua atenção.
— Senhor Min, quer assistir às imagens? Eu já as tenho — disse um dos subordinados de Benjamin.
Ao baixar o olhar, Jun-Ho viu algo se mover rapidamente à sua frente ou melhor, alguém. Era ela. Seus traços eram inconfundíveis. Um breve relance de sua ex-esposa entrando em um bar.
"Natali?" A visão o desestabilizou. Antes que pudesse reagir, ouviu o som seco de um disparo que ecoou pelo local, o impacto o fez cambalear para trás e uma dor aguda o atingiu. Foi pego de surpresa e agora tira uma perfuração em seu ombro e o sangue quente já escorria por sua camisa.
— Jun-Ho! — Gritou um dos subordinados de Benjamin. Ele correu na direção de Jun-Ho enquanto verificava o sangramento.
— Não vou morrer com isso. — Ele rangeu os dentes e se forçou a manter o foco. — Não vamos perder o desgraçado de vista.
Mesmo ferido, Jun-Ho seguiu a direção para onde o homem havia fugido. Não era a primeira vez que enfrentava uma situação assim.
Com a ajuda dos capangas de Benjamin, a caçada ao atirador foi rápida e intensa. Jun-Ho o encurralou em pouco tempo.
— Quem te mandou? — Pressionou Jun-Ho, segurando o criminoso pelo colarinho.
Martin, ensanguentado e sem saída, riu com desprezo.
— Você já sabe quem. Colen sempre está à frente. Ele já sabia que incluir seu nome o traria direto para cá.
— Qual é o objetivo dele?
— Não sei, só sei que Colen tem uma rede de traidores dentro dos círculos de Benjamin, incluindo os homens que te traíram, Jun-Ho.
— Onde ele está? — Jun-Ho apertou o ferimento de Martin, forçando-o a falar.
— Não vou te dizer... — Martin cuspiu sangue. — Ele não confia em ninguém, nem em mim. Mas ele está por trás de tudo, Erina não é a única peça, há muitas outras, até ela. — O atirador riu, como se soubesse algo que atormentava Jun-Ho.
— Onde Erina está?
O homem riu e cuspiu um dente quebrado.
— Você não faz ideia do que ele tem planejado. E quando descobrir… será tarde demais.
Percebendo que Martin não revelaria o paradeiro de Colen, Jun-Ho encerrou sua vida, mas a missão estava longe de ser resolvida.
Ao retornar à casa de Benjamin, Jun-Ho foi tratado de seu ferimento.
— Então você é realmente o alvo?
— Sou. Isso significa que eles vão me levar até Erina. Voltarei para a cidade e ficarei num hotel. Depois eu entrarei em contato.
— Eu acho melhor você ficar aqui, Jun-Ho. É mais seguro.
— Se eles querem que eu vá até eles, eles devem me deixar uma pista ou vir até mim. É melhor que eu esteja sozinho.
— Isso é perigoso, garoto.
— É o meu trabalho.
Benjamin assistiu perplexo enquanto Jun-Ho descia as escadas, entrava no carro e ia para a cidade.
Benjamin sabia que Jun-Ho, quando criança, passou por uma situação parecida. O fato dele estar ali revelava muito sobre o líder da Goden.
"Min Kun está criando um monstro."
Ele fechou a porta de sua casa ao entrar, não conseguia sequer olhar para a esposa diante de seu fracasso em proteger sua única filha.
Um arrepio na espinha e uma sensação de sufocamento passaram por si ao não saber o que seria da sua vida após aquele dia. Não tinha ideia de nada.
"Kun fez de tudo para proteger sua família após o sequestro. Mas seu próprio filho escolheu o fogo. Ele é um infeliz ou um sortudo? Não sei."
Benjamin se sentou no sofá, decidido a esperar até que Jun-Ho lhe dissesse algo.
"A partir desse momento, meu destino e o de minha filha não pertencem mais a mim. Eles pertencem à Goden."