Salin caminhava pelos corredores do hospital, a sensação dos beijos de Jun-Ho ainda fresca em seus lábios, uma marca suave, mas presente, que ele não conseguia deixar de sentir.
Jun-Ho havia viajado para o Canadá. Antes de sair, ainda anunciou que comprou uma casa para a família de Salin ficar em Seul. Enquanto a reconstrução do pomar não estivesse pronta, eles teriam uma nova propriedade.
Salin ainda estava processando: o beijo, a conversa, todo aquele momento que tiveram pela manhã. O mais novo, de algum modo, estava melhorando, e isso mexia com ele.
Mas agora ele tinha outra questão: contar a verdade para sua família sobre o contrato e sobre com quem fez esse contrato.
Ele parou por um instante na entrada do hospital, respirando fundo. Sua mãe estava internada, mas já se recuperava bem. Salin se forçou a desviar o pensamento de Jun-Ho e focar no momento presente, em sua mãe. Seu pai, Park Han, estava ao lado da recepção, como sempre, atento a cada detalhe.
— Salin, o Jun-Ho está bem? — perguntou Han, sua voz carregada de preocupação. Salin notou o olhar atento do pai, talvez um pouco mais suave do que o normal, como se ele realmente estivesse se importando.
Salin suspirou, deixando a memória do beijo se dissipar lentamente.
— Ele está bem, pai — respondeu, forçando um sorriso. — Mas tem algo que preciso contar para a mamãe. Você acha que posso contar a verdade para ela?
Seu pai o olhou, surpreso com a pergunta. Ele pareceu pensar por um momento antes de acenar com a cabeça, permitindo.
— Claro, filho... Mas que tipo de verdade?
Salin hesitou um pouco. A pergunta de Han era certeira; ele sabia que o filho não havia contado tudo. Sabia que deveria contar de uma vez por todas. Então, respirou fundo:
— Pai, entra também. Você precisa saber.
Park Han, sem entender direito, mas sentindo a gravidade da situação, acenou com a cabeça e seguiu até o quarto onde sua esposa, Lee Minna, estava descansando.
O local estava tranquilo, mas a tensão estava no ar. Salin olhou para sua mãe, que sorria levemente.
— Oh, meu filho, bom dia. Tem certeza de que pode ficar faltando ao trabalho para vir aqui sempre? Oh, eu tenho um filho que ama tanto a mamãe! — disse ela, abraçando o mais velho.
— Bom dia, mãe. Que bom que está melhorando.
— É claro!
Salin se manteve sentado ao lado dela, encarando-a por alguns segundos antes de dizer:
— Mamãe, eu... conheci o Yuno — começou Salin, com um tom mais sério.
A mãe de Salin franziu a testa, surpresa.
— O Yuno? Aquele cantor que se aposentou cedo? — perguntou ela, tentando se lembrar.
Salin assentiu, sorrindo de forma melancólica.
— Sim, mamãe. O nome dele é Min Jun-Ho.
— Eu sei, Salin. Ele é CEO da marca da qual compro cosméticos. Como o conheceu? Desembucha, garoto! Você sempre vem aqui com um sorriso e agora está com essa cara...
O resto da família estava em silêncio, apreensivo, cada um tentando entender o que estava acontecendo. Salin, então, reuniu coragem para continuar.
— Sabe por que estamos em um quarto VIP? E por que não temos mais dívidas?
Ela o olhou surpresa. Já havia desconfiado do lugar onde estava e do tratamento que estava recebendo, mas quando perguntou a Sora, ele apenas respondeu que foi Salin quem resolveu tudo.
— Você trabalhou? — disse ela, mas logo reformulou, percebendo que ele não havia citado o nome do empresário à toa. — Foi o Min Jun-Ho que ajudou?
— Sim.
— Por quê? Por que ele faria isso? Vocês já conversavam? Estão namorando?
— É mais difícil de explicar... Na verdade, estamos juntos, mas não da forma como imagina. Estamos noivos, mas é tudo fachada. Assinei um contrato de que, se eu fingisse um noivado com ele por seis meses, ele tomaria todas as responsabilidades dos custos.
— O quê...? — ela disse, quase sem fôlego.
A reação de Lee Mina foi instantânea. Seus olhos se arregalaram em choque, e ela levou a mão à boca, incapaz de acreditar no que estava ouvindo.
— Você fez o quê? Você... Vocês sabiam disso? O seu pai, Sora?
Sora, que estava ali, ficou sério, mas apenas balançou a cabeça.
— Eu sou o único que sabia, mãe. E não adianta, Salin não vai mudar de ideia.
Salin sentiu o peso da conversa se intensificar à medida que as palavras que precisava dizer se acumulavam em sua mente. A tensão no ar aumentava, mas ele sabia que precisava ser completamente honesto com sua mãe. Ela já soubera de muitas coisas, mas o maior segredo ainda estava por ser revelado.
— Mamãe, eu... consegui pagar a cirurgia e a dívida... Foi graças ao Jun-Ho — disse ele, respirando fundo.
A mãe de Salin o olhou com uma expressão confusa. Ele viu os olhos dela analisando cada detalhe de seu rosto, buscando entender.
— Tem mais...
— Então diga logo! — disse ela, quase sem paciência.
Salin fechou os olhos por um breve segundo antes de encará-la diretamente.
— Min Jun-Ho é um mafioso, filho do fundador da Goden. Min Kun.
O quarto mergulhou em um silêncio sufocante.
O olhar de Lee Mina se perdeu por alguns segundos. O ar pareceu sair de seus pulmões, como se estivesse tendo um mal súbito.
— Ma-mafioso? — Sua voz falhou, os olhos se enchendo de pavor. Ela olhou para o marido, como se pedisse uma explicação, mas Park Han também parecia sem palavras. — Isso é uma brincadeira, certo? — Ela riu nervosa, mas a expressão séria de Salin fez seu sorriso desmanchar. — Salin... Me diga que isso é mentira!
Ele não respondeu. Apenas sustentou o olhar.
— Você se envolveu com um mafioso? Está louco?! Ele te ameaçou? Ele te obrigou a isso? Você sabe o que isso significa? Ele é da máfia! Você está em perigo!
O tom da mãe foi crescendo, quase beirando o desespero.
— Minna, calma... — Park Han segurou a mão da esposa, tentando acalmá-la, mas ele próprio parecia atordoado. — Salin... Você tem noção do que fez?
Salin cerrou os punhos, sentindo a pressão da situação pesar ainda mais.
— Eu precisava salvar vocês.
— Não posso acreditar nisso. — Diz seu pai em frustração.
— Como pôde, filho? — Diz sua mãe em desgosto. — E ainda um noivado?
— Você poderia ter morrido...
— E onde... — Ela hesitou, sem conseguir formar uma frase, perdendo o fôlego. — Filho, eu já sou uma mulher velha. Não quero que você estrague sua vida por conta disso. Meu Deus. — Agoniados, os pais de Salin não sabiam o que dizer.
Salin manteve o olhar fixo na mãe, sentindo a raiva e a preocupação se misturarem nas palavras dela. Ele sabia que ela ficaria chocada, talvez até brava, mas ele tinha tomado uma decisão. Ele precisava que ela entendesse.
— Não é um casamento de verdade, mamãe — Salin disse, tentando acalmar a mãe, mas sem esconder a verdade. — É um noivado falso, mas... foi a única forma de ele me ajudar a pagar a cirurgia e a dívida da nossa família. Não era uma opção fácil, mas eu aceitei, porque ele está tentando... ajudar. E também, porque ele... ele realmente quer que isso dê certo.
— Como assim? Ele é um assassino, Salin. Nossa família já não se envolveu demais com essas coisas... — Sua voz tremia. — Isso é perigoso! Ele... ele é um assassino, não é? Não tem como ele não ser! Ele mata pessoas!
Salin não hesitou. Ele sabia que essa conversa estava chegando.
— Ele está numa missão agora, mãe — disse calmamente, mesmo sentindo o peso da situação. — Mas, eu não me arrependo. Eu tomei a decisão de estar com ele.
A mãe de Salin se levantou de repente, derrapando nas palavras, sua raiva transbordando.
— Não se arrepende?! Como pode dizer isso, Salin? — Minna iria dizer mais, mas se calou, não poderia dizer ao seu filho que sua angústia era tão grande que seria melhor que ainda estivesse deitada. Ela não queria aceitar que seu filho abriu mão de um futuro brilhante por causa da família. Ela respirou fundo, tentando reformular o que deveria dizer. — Filho, quando você quis vir para a capital 10 anos atrás, eu e seu pai, mesmo com o coração na mão, deixamos você vir. Nem eu nem seu pai queríamos impedir que você vivesse bem. Você queria vir para cá crescer, e nós deixamos. Mas eu jamais iria querer isso.
Salin permaneceu firme, olhando diretamente para a mãe.
— Então, como naquela época, apenas me deixem ir. Eu fiz o que achei certo, mãe. Não é pra vocês questionarem isso.
A família, visivelmente dividida, trocava olhares de preocupação. Park Han, embora pálido, tentava processar as palavras de Salin, sua mente cheia de questões não respondidas.
Minna, finalmente, se acalmou um pouco, respirando fundo. Ela olhou para Salin com uma expressão mais suave, mas ainda carregada de apreensão.
— Salin... — começou ela, mais tranquila, mas com uma pitada de dor. — Se você está com ele, eu só... preciso saber que você está seguro. Por favor, me diga como estão as coisas? Ele é bravo?
Salin riu.
— Ele é exatamente como o Yomin, ele me trata bem. Min Jun-Ho me respeita, e ele... ele cuida de mim de uma forma que ninguém jamais fez e protege de qualquer perigo que o mundo dele possa me oferecer. O problema é a família dele. O irmão dele é legal. Mas a mãe dele me odeia, e o pai dele... é complicado. Ele fica me testando o tempo todo.
— Eu ainda estou assimilando que Min Kun seja o líder da Goden. Mas não sabia que as coisas estavam tão próximas assim, não parece algo falso. Salin, você gosta dele?
— Não é isso. É apenas um contrato.
— Apenas um contrato...? Está bem, então... — Disse, pouco convencida.
Sua família estava em choque, mas a aceitação começou a se formar lentamente. Eles ainda estavam tentando compreender a magnitude do que Salin estava contando, mas havia algo na sua voz que os fez perceber que ele estava decidido. Salin, então, falou de uma forma mais leve:
— Como disse, Min Jun-Ho está viajando agora, mas ele me deixou a chave da nossa nova casa.
— Casa? — diz Sora, surpreso.
— Enquanto ele reconstrói o pomar, é bom termos um bom lugar. Meu apartamento não serviria para nós seis e não é uma boa ideia eu levar vocês para a casa do Min Jun-Ho.
Minna levou a mão até o peito.
— Você está morando com esse rapaz?
— Estou.
— Oh, meu Deus. — diz a mãe, sem saber como reagir.
— Eu já disse que está tudo bem.
— Traga, traga. — Ela disse, derrotada.
— O quê, mãe? Água?
— Traga esse Min Jun-Ho, quero vê-lo com meus próprios olhos. Preciso saber que tipo de homem é ele, minha intuição não falha. — Ela o puxou pela gola da blusa. — Se ele não passar no meu teste, você vai acabar com tudo isso!
Ela ameaçou.
— Tudo bem, acho que posso apresentá-lo quando ele voltar.
A mãe de Salin sabia que não podia mudar a decisão de seu filho mais velho, mas ainda estava cheia de dúvidas.
— Eu só quero que você esteja seguro, Salin. Só isso. — Ela disse, com a voz mais suave agora, e Salin podia ver a dor nos olhos dela, a mãe preocupada com a segurança do filho.
Ele assentiu, sentindo o peso das palavras dela.
— Eu vou estar, mamãe. Eu prometo.