Capítulo 23 – Selos, Sussurros e Promessas

Desde que toquei as espadas divinas, algo dentro de mim mudou.

As noites deixaram de ser silenciosas.

Agora, ouço sussurros quando fecho os olhos.

E quando sonho…

Eu vejo.

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A primeira visão chegou como um trovão silencioso.

Me vi flutuando no vazio — sem chão, sem céu, apenas um espaço preenchido por olhos dourados.

Diante de mim, havia dez colunas negras, gigantescas, girando no ar como pilares de um mundo esquecido.

Cada uma tremia.

Cada uma… chorava.

No centro, envolto em correntes de luz branca, estava ele.

Caos.

Humanoide.

Todo branco.

Imóvel como uma estátua, mas com olhos vivos como o próprio sol.

Mesmo aprisionado, o espaço ao redor se contorcia como um pesadelo.

— Você vê, não vê? — ele disse, sem mover os lábios.

A voz reverberava direto na minha alma.

— Está chegando a hora. O segundo selo… já está sangrando.

— Fique longe de mim — sibilei, tentando recuar, mas não havia para onde ir.

— Você me carrega dentro de si, Akira. Você é o meu sangue diluído, minha semente espalhada.

— Você não tem escolha.

As correntes ao redor dele começaram a rachar. Uma delas... estourou.

O segundo selo.

Quando acordei, estava coberto de suor. E tremendo.

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Velka estava ao meu lado, sentada, observando-me com preocupação.

— Terceira noite seguida. Você está vendo ele, não está?

Assenti, sem conseguir mentir.

Ela me puxou para perto, abraçando-me forte. Seu calor afastava o frio que Caos deixava em mim.

— Não quero te perder — ela murmurou. — Nem para a escuridão, nem para esse destino amaldiçoado.

Segurei seu rosto com as duas mãos.

— Eu também não quero te perder. Você é a única coisa que me mantém humano.

Ela se aproximou, os olhos brilhando.

E pela primeira vez, sem medo, sem dúvida, nos beijamos de verdade. Um beijo cheio de medo, desejo e esperança.

— Me promete uma coisa? — ela sussurrou, encostando a testa na minha.

— Qualquer coisa.

— Se um dia você não for mais você… me mate.

Engoli seco.

— Só se prometer me trazer de volta primeiro.

Ela sorriu com tristeza.

— Sempre.

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Naquela noite, dormimos juntos sob o mesmo cobertor, com as espadas divinas aos nossos pés.

Mas mesmo ali, abraçado a ela, eu ouvi a voz de Caos mais uma vez.

— Quando o décimo selo cair… você saberá o que nasceu para ser.