Capítulo 7 – Silêncio e Relâmpagos
Gabriel caminhava calmamente pela trilha de volta, seus passos leves sobre a terra coberta por folhas secas. O peso das peles de lobo em seu cinto era confortável, sinal de que a missão havia sido um sucesso discreto. Mas, enquanto seguia por uma parte menos movimentada da floresta, seus instintos o alertaram.
Ao longe, encostado em uma árvore, havia um homem de aparência suspeita. Não usava a insígnia de nenhum grupo de caçadores. Suas roupas estavam desgastadas, manchadas de sangue seco, e ele segurava uma adaga de lâmina torta em uma das mãos. O olhar que lançou a Gabriel era frio, avaliador, como quem mede o valor de algo que pode roubar.
“Bandido,” pensou Gabriel, estreitando os olhos.
O sistema reconheceu a ameaça e exibiu uma notificação discreta:
[Alvo Identificado: Humano | Nível 3 | Ameaça Hostil Potencial]
O homem se aproximou, devagar, sorrindo de forma torta.
— Ei, garoto… Tá sozinho por aqui? Parece que conseguiu uns bons espólios — disse o bandido, apontando com o queixo para o cinto de Gabriel.
Gabriel não respondeu. Seus olhos analisavam a distância, o terreno, os movimentos do inimigo. Ele estava preparado. A tensão do momento não o abalava — ele já havia decidido que não hesitaria quando fosse necessário agir.
O bandido avançou num salto repentino, tentando cortar a distância.
Mas Gabriel já havia levantado a mão.
— Raio Impactante.
O clarão foi instantâneo. Um estalo agudo cortou o ar e o raio atingiu o bandido no peito, o jogando para trás com violência. O corpo bateu contra uma árvore, caindo no chão com fumaça subindo da roupa queimada.
Por segurança, Gabriel se aproximou lentamente, pronto para lançar outro feitiço. Mas não foi necessário. O homem estava desacordado, talvez vivo, mas completamente fora de combate.
[Inimigo Neutralizado]
[Experiência Adquirida]
[Progresso: 17%]
Gabriel se abaixou, checou os bolsos do bandido e encontrou apenas algumas moedas, uma adaga velha e um mapa mal rabiscado. Não se interessou por nada além das moedas. O restante foi deixado ao lado do corpo.
Sem dizer uma palavra, seguiu seu caminho como se nada tivesse acontecido. Para ele, aquilo não passava de um obstáculo menor, mais um peso removido do caminho.
O mundo lá fora era cruel, e Gabriel sabia que, quanto mais forte ficasse, mais tipos como aquele apareciam. Mas ele também sabia que estava preparado.
E com o tempo ao seu lado, ele se tornaria algo que nenhum deles conseguiria sequer tocar.
Gabriel chegou à associação com passos tranquilos, como se tivesse apenas feito uma caminhada pela floresta. Na recepção, a mesma atendente de antes estava de plantão. Ela levantou os olhos do livro de registros e sorriu brevemente ao reconhecê-lo.
— De volta, caçador? Conseguiu o que precisava?
Sem dizer muito, Gabriel retirou de seu cinto as peles, presas e garras dos lobos caçados e as colocou sobre o balcão, uma a uma. A atendente começou a avaliá-las com experiência, anotando os materiais em uma prancheta e pesando cada item com precisão.
— 4 lobos de nível 2… peles em bom estado, presas inteiras… — ela murmurava para si. — Você trabalhou bem, especialmente sozinho. Alguns grupos de três caçadores voltam com menos.
Gabriel apenas assentiu, como sempre. Ele não precisava impressionar ninguém.
Após o registro, ela puxou uma pequena bolsa de moedas e a entregou a ele.
— Aqui está sua recompensa. Boa sorte nas próximas missões, Gabriel.
Ele agradeceu com um leve aceno de cabeça e guardou as moedas com calma. Não havia pressa. O mundo girava no ritmo dos desesperados — ele, não.
Enquanto saía da associação, a notificação silenciosa do sistema apareceu mais uma vez diante de seus olhos:
[Progresso: 18%]
Apenas mais um passo.
O tempo cuidaria do resto.
Com as moedas guardadas com segurança e os passos leves, Gabriel deixou a associação sem chamar atenção. A movimentação na cidade parecia rotineira — caçadores entrando e saindo, comerciantes negociando materiais, e aprendizes correndo de um lado para o outro carregando pacotes.
Gabriel cruzou as ruas de pedra com tranquilidade, desviando de aglomerações e mantendo-se pelas bordas, como sempre fazia. Não havia necessidade de pressa, nem de se envolver mais do que o necessário. Ele já havia feito o suficiente por hoje.
Chegando em casa, empurrou a porta de madeira e respirou fundo ao sentir o silêncio familiar do lugar. Deixou a pequena bolsa com moedas sobre a mesa e retirou os equipamentos com calma, apoiando a espada curta ao lado da cama e pendurando a capa reforçada na parede.
Deitou-se sem cerimônias, sentindo o cansaço leve do dia e a paz confortável de quem não precisa provar nada a ninguém.
No canto de sua visão, o sistema silencioso atualizou:
[Progresso: 19%]
E então, ele fechou os olhos.
Dormir… também era uma forma de evoluir.
O sol mal havia alcançado o topo do céu quando Gabriel já atravessava as portas da associação de caçadores. Passou rapidamente pela recepção apenas para confirmar a continuidade da missão e garantir o direito de permanecer no local de caça. A atendente apenas assentiu, já acostumada com a presença silenciosa do jovem caçador.
Sem perder tempo, Gabriel deixou a cidade em direção à floresta. Os caminhos já eram familiares — cada árvore, cada curva da trilha estava gravada em sua memória. Era ali, entre sombras e galhos, que os lobos de nível 2 costumavam circular.
Ele se posicionou em um ponto estratégico e esperou. Não era um caçador apressado, não caçava por fúria ou glória. Gabriel observava, calculava, e só agia quando tinha certeza de que o ataque seria limpo, rápido e eficiente.
E mais uma vez, sua magia brilhou.
— Raio Impactante.
Um lobo caiu. Depois outro. E mais um.
Entre cada abate, Gabriel recolhia os materiais valiosos: garras, peles e presas. Não era ganância — era apenas o suficiente. Caçava por dinheiro, não por necessidade de XP. Seu sistema cuidava disso em silêncio.
Horas depois, ao terminar sua pequena rota de caça, o sistema emitiu um alerta sutil:
[Progresso: 25%]
Ele olhou ao redor, satisfeito com o que havia reunido. Mais uma caçada eficiente, limpa e precisa.
Sem ferimentos. Sem erros.
A floresta ainda guardava muitos perigos, mas nenhum que ele não pudesse enfrentar — com o tempo ao seu lado.
Enquanto caminhava de volta pela trilha, com os restos da caçada bem guardados no cinto, Gabriel abriu sua janela de status para conferir o progresso. A porcentagem avançava… lenta, porém constante.
[Progresso: 27%]
Suspirou. Mesmo com o sistema passivo, levar dias para subir de nível ainda o incomodava um pouco. Era, claro, infinitamente melhor do que ter que arriscar a vida em batalhas constantes como os outros caçadores faziam. Mas, ainda assim… não era exatamente rápido.
— “Ainda estou no nível 3,” — murmurou para si. — “Já fazem duas semanas desde que ganhei o sistema.”
Ele passou os dedos pelos galhos de uma árvore ao lado, distraído com os próprios pensamentos. Era irônico. Tinha uma vantagem absurda em relação a qualquer outra pessoa — subir de nível só pelo tempo — e ainda assim sentia a ansiedade silenciosa de ver os números subirem mais rápido.
— “Imagina se eu não tivesse o sistema…” — pensou. — “Ainda estaria no nível 1, talvez no 2, e só se tivesse me matado de tanto caçar ou lutar.”
Lembrou-se das conversas que ouvia na associação. Alguns caçadores levavam quase um mês inteiro só para sair do nível 1, mesmo caçando todos os dias. O sistema dele era um milagre. Um segredo que não podia contar a ninguém.
Ainda assim, Gabriel queria mais.
Mais poder, mais tempo de vida, mais segurança.
E sabia que só precisava continuar.
Porque mesmo se fosse devagar... ele nunca iria parar de crescer.