Capítulo 19: Caçada Viscosa

Capítulo 19: Caçada Viscosa

O sol já subia no céu quando Gabriel deixou sua casa em direção ao leste da cidade. Hoje, diferente dos dias anteriores, ele não buscava desafios extremos, bandidos traiçoeiros ou monstros ferozes. Seu objetivo era mais simples, quase relaxante: caçar slimes de nível 4.

Essas criaturas, embora subestimadas por muitos caçadores, tinham um valor próprio. Seus núcleos podiam ser usados como catalisadores alquímicos, e alguns até mesmo serviam de base para itens mágicos de baixo nível. Além disso, por serem menos agressivos, eram perfeitos para dias em que Gabriel queria apenas manter-se ativo sem se envolver em situações arriscadas.

O campo onde os slimes costumavam surgir ficava nos arredores de uma floresta rasa, a cerca de quarenta minutos a pé da cidade. O terreno era úmido, coberto por musgo e vegetação rasteira. O cheiro de terra molhada era constante, e pequenas poças se formavam com frequência. O ambiente ideal para aquelas criaturas gelatinosas.

Ao chegar, Gabriel logo avistou os primeiros alvos. Eram três slimes verde-musgo, saltitando lentamente próximo de uma formação rochosa coberta de limo. Seus corpos brilhavam à luz do sol, e pareciam mais resistentes do que os slimes comuns que Gabriel enfrentara meses atrás.

Ele ergueu a mão calmamente e murmurou a fórmula da Magia de Gelo Nível 5. Estalactites afiadas surgiram no ar e despencaram com precisão milimétrica. Dois dos slimes foram perfurados, seus corpos se retorcendo antes de se dissolverem em uma gosma inofensiva. O terceiro tentou fugir saltando para trás, mas Gabriel já preparava a próxima magia.

— Vento cortante — murmurou, e uma rajada afiada girou como uma foice invisível, cortando o slime ao meio.

Gabriel caminhou tranquilamente até os núcleos deixados pelas criaturas e os guardou em seu cinto. Ele continuou a exploração por mais algum tempo, enfrentando pequenos grupos de slimes de diferentes cores — azuis, cinzentos, até um esverdeado translúcido que parecia emitir um brilho tênue.

As lutas nunca duravam mais do que alguns segundos. Ele alternava entre magias de gelo, metal e vento conforme o tipo de slime e a disposição dos inimigos. Não havia necessidade de esforço. Seus feitiços de nível 5 eram mais do que o suficiente para lidar com monstros daquele calibre.

Depois de mais de uma hora de caçada, Gabriel decidiu que já tinha reunido recursos o bastante. Limpou os últimos resíduos de gosma de suas botas, respirou fundo e encarou o céu límpido. O dia havia sido calmo, sem complicações — exatamente como ele queria.

No retorno à cidade, suas passadas eram leves. O peso dos núcleos em seu cinto lembrava-o de que, mesmo sem pressa, ele continuava avançando — forte, paciente e sempre pronto para o próximo passo.

No dia seguinte, Gabriel acordou cedo, sentindo-se disposto. O corpo descansado e a mente tranquila o faziam ter certeza do que queria: continuar a caçada aos slimes. Por mais que essas criaturas não representassem perigo real, caçá-las era quase terapêutico. Além disso, seus núcleos ainda rendiam uma boa quantia, o suficiente para manter sua rotina confortável sem precisar arriscar-se em batalhas mais sérias.

Ele tomou um café leve, equipou-se com os mesmos itens do dia anterior e partiu para a mesma região. O campo úmido e silencioso o recebia com a mesma atmosfera fresca e tranquila. A vegetação molhada reluzia sob a luz da manhã, e os sons suaves da natureza enchiam o ar.

Dessa vez, Gabriel decidiu testar algo diferente. Em vez de eliminar os slimes com magias de impacto direto, ele começou a utilizar Magia de Metal Nível 5. Lâminas afiadas emergiam do chão, transpassando os inimigos com precisão calculada. As criaturas se contorciam e colapsavam antes mesmo de perceberem o que havia acontecido.

Gabriel mantinha o rosto sereno, os olhos atentos e os movimentos contidos. A eficiência com que ele caçava fazia parecer que estava em uma dança silenciosa com o ambiente. Quando os slimes vinham em grupo, ele combinava gelo e metal, congelando parte deles e cortando os restantes com facilidade.

Durante uma pausa, ele se sentou em uma pedra coberta por musgo e observou o campo à sua frente. Viu ao longe um grupo de caçadores novatos lutando contra um único slime — dois deles erravam ataques com espadas mal equilibradas, enquanto o terceiro tentava usar uma magia fraca de fogo. Gabriel esboçou um leve sorriso. Já esteve ali antes, há apenas alguns meses. Mas agora, tudo era diferente.

Ele decidiu não interferir. Cada um tinha seu próprio caminho.

Depois de mais algumas horas coletando núcleos e observando o ambiente, Gabriel se deu por satisfeito. A brisa leve da tarde tocava seu rosto, e ele sentia que havia aproveitado bem o tempo. A caçada aos slimes, embora simples, lhe dava uma sensação de controle — algo reconfortante depois de meses intensos de progresso.

Ao retornar para a cidade, seus passos eram lentos, quase despreocupados. Naquele dia, ele não estava em busca de glória, fama ou avanço rápido. Apenas queria viver o momento, e naquela manhã simples, ele fez exatamente isso.

Algum tempo se passou desde a última incursão de Gabriel ao campo das slimes. A tarde já estava avançada, o céu começava a assumir tons dourados e avermelhados, e a cidade ganhava aquele movimento agitado de fim de dia. Gabriel caminhava pelas ruas com calma, os olhos vagando distraidamente pelas barracas de frutas, lojas de equipamentos e vendedores ambulantes que gritavam suas promoções.

De repente, um som diferente rompeu a rotina: gritos vindos de uma loja de armas. Um tumulto se formava ao redor da entrada do estabelecimento, e logo Gabriel viu o motivo — um homem mascarado, com aparência desleixada e roupas gastas, saía correndo com uma bolsa de couro nas mãos, enquanto o lojista gritava por ajuda.

Gabriel parou por um instante. Poderia simplesmente ignorar e seguir seu caminho. Não era uma missão oficial. Mas algo dentro dele o impulsionou a agir. Talvez fosse o tédio acumulado. Talvez o velho senso de justiça que insistia em despertar de tempos em tempos.

Sem hesitar, ele se aproximou com passos firmes, e estendeu a mão. Uma lança de gelo formou-se no ar, veloz como uma flecha, atravessando o caminho do ladrão e congelando-lhe os pés ao chão. O homem tropeçou, caiu, e antes que pudesse reagir, foi envolvido por correntes de metal que surgiram do chão, imobilizando-o por completo.

As pessoas ao redor ficaram em silêncio, espantadas com a precisão e velocidade da ação. Gabriel caminhou até o bandido sem pressa, abaixou-se e retirou a máscara dele com tranquilidade. O homem parecia desesperado, mas não ofereceu resistência.

— Nível 3, hein? — murmurou Gabriel, quase desapontado. — Não vai muito longe assim.

Ele pegou a bolsa de volta e a devolveu ao lojista, que agradeceu com reverência e olhos arregalados.

— Muito obrigado, senhor caçador! — disse o homem, quase gaguejando. — Posso... posso relatar isso à associação em seu nome!

— Faça isso — respondeu Gabriel com um aceno breve, virando-se em seguida.

Alguns caçadores que estavam por perto o observavam com atenção. Outros murmuravam entre si sobre o quanto ele estava ficando forte. Gabriel ouviu alguns cochichos, mas não deu importância. Não mais. Já havia aceitado que seu avanço chamaria olhares — e não pretendia mais se esconder.

Ele deixou o bandido aos cuidados de dois guardas da cidade que se aproximaram correndo, e logo desapareceu pelas ruas de paralelepípedo, como se nada tivesse acontecido.

Era apenas mais um fim de tarde comum para ele.