Capítulo 20: Caçada nas Colinas
Algum tempo havia se passado desde a última missão de Gabriel. A cidade seguia seu ritmo, mas ele já sentia o desejo de sair novamente e testar seus poderes. A calmaria o entediava. Já não era apenas uma questão de dinheiro ou experiência, era simplesmente o hábito — ou talvez a natureza do caçador dentro dele despertando.
Naquela manhã, o céu estava limpo e o ar, fresco. Gabriel vestiu seu manto leve, ajustou o cinto de utilidades, conferiu sua espada e seguiu direto para a associação. O prédio da associação, com suas paredes de pedra escura e janelas reforçadas, estava movimentado, como sempre. Caçadores entravam e saíam, alguns conversando animadamente sobre suas façanhas, outros em silêncio, com olhares cansados e cheios de cicatrizes.
Ao se aproximar do balcão, a atendente — uma mulher de cabelos presos num coque impecável — o reconheceu imediatamente.
— Gabriel. Faz um tempo desde que você apareceu por aqui — comentou com um leve sorriso. — Algum pedido especial hoje?
— Missões de caça, nível 4 — respondeu ele, direto.
A atendente digitou algo rapidamente em uma pequena tela mágica diante dela. Um brilho suave surgiu sobre o vidro, e depois de alguns segundos, ela assentiu.
— Temos algo que talvez o interesse. Porcos selvagens mágicos de nível 4. Estão atacando caravanas nas colinas a leste. São resistentes e se movem em grupo. Quase como soldados… mas bem mais brutos.
Gabriel pegou o pergaminho com os detalhes da missão, leu rapidamente e assentiu.
— Vou cuidar disso.
...
As colinas a leste da cidade eram vastas e cobertas por gramíneas altas, que dançavam com o vento. As árvores eram escassas, mas a região tinha pequenos riachos e pedras espalhadas. Era um local calmo — se não fosse pela presença dos porcos selvagens mágicos.
Ao chegar próximo ao local indicado, Gabriel avistou as criaturas.
Eram enormes — com cerca de um metro e meio de altura até o ombro, o corpo coberto por uma mistura de pelos grossos e placas naturais de pedra mágica que pareciam formar uma armadura ao redor de suas costas e flancos. Seus olhos brilhavam com uma luz âmbar intensa, e suas presas curvas emanavam uma aura azulada. As patas deixavam marcas profundas na terra e, ao se moverem, emitiam pequenos estalos elétricos — provavelmente um efeito da energia mágica que circulava por seus corpos.
— Interessante... — murmurou Gabriel, observando.
Havia cinco deles, se alimentando de arbustos e revirando o solo em busca de raízes. Pareciam calmos, mas qualquer aproximação era suficiente para os tornar agressivos — conforme constava no relatório.
Gabriel não perdeu tempo. Estendeu a mão direita, conjurando lâminas de metal no ar, afiadas como navalhas. Com um gesto suave, disparou as lâminas giratórias em direção ao primeiro porco. O impacto foi brutal — a criatura foi lançada para trás, rolando entre as pedras.
Os outros quatro grunhiram furiosamente, com os olhos brilhando mais intensamente. Eles se lançaram contra Gabriel com surpreendente velocidade. Mas ele já esperava.
Com a mão esquerda, conjurou um círculo de gelo ao redor de si, e no momento do impacto, estacas geladas emergiram do solo, atingindo dois dos porcos diretamente. O terceiro desviou por pouco, mas antes que pudesse atacar, Gabriel já estava ao seu lado, girando a espada com precisão.
A batalha não durou muito. Ele se movia com eficiência, combinando magias com ataques físicos, sempre com calma e controle. Ao final, os cinco porcos jaziam no chão, inconscientes, com marcas de gelo, cortes e magia espalhadas por seus corpos.
Ele se aproximou de um deles e inspecionou as placas de pedra mágica. Eram resistentes, talvez pudessem ser vendidas como material para armaduras. Ele retirou algumas partes cuidadosamente, guardando no cinto de utilidades.
O vento nas colinas voltou a soprar com tranquilidade. A missão estava cumprida.
Gabriel olhou para o céu, respirando fundo. Depois, virou-se e começou a caminhar de volta, os passos firmes e o olhar sereno. Era apenas mais um dia como caçador. Mas, pouco a pouco, ele estava se tornando um dos mais notáveis.
Gabriel carregava o corpo do último porco selvagem mágico nos ombros. As criaturas eram robustas, com músculos densos e uma pele resistente coberta por cerdas metálicas. Seus olhos, de um azul fosforescente, brilhavam mesmo depois de mortos — sinal da energia mágica que residia em seus corpos. Havia lutado contra quatro deles ao longo da tarde, usando principalmente magia de metal para resistir aos impactos e cortar através da grossa pele.
Ao chegar à cidade, não perdeu tempo. Caminhou diretamente para a associação, onde a movimentação de caçadores era intensa. A atendente de sempre o recebeu com um olhar acostumado.
— Gabriel, trouxe o que foi pedido?
— E mais um pouco — respondeu, depositando os materiais sobre o balcão: presas encantadas, cristais mágicos, placas de couro mágico. — Dois deles tinham cristais maiores que o normal.
A atendente anotou tudo e levou os itens para o avaliador. Depois de alguns minutos, voltou com a confirmação:
— Tudo em ordem. Seu pagamento será processado até o fim do dia.
Gabriel assentiu. A missão havia sido oficialmente concluída, e o lucro era justo. Mas ele não queria parar por ali.
— Me mostra o quadro de missões — pediu.
A atendente girou um pequeno espelho mágico que refletia o mural de missões ativas. Gabriel começou a analisar. Havia algumas caçadas a slimes, outras envolvendo a patrulha de fronteiras, mas o que chamou sua atenção foi uma missão nova, marcada com um selo vermelho: "Bandido procurado – Nível 4".
— Vou pegar essa aqui — disse, apontando para a missão.
A atendente hesitou por um instante, mas depois assentiu.
— Você já tem registro suficiente. Está autorizado.
Gabriel recebeu o pergaminho com as informações do bandido: um criminoso fugitivo, acusado de roubo e tentativa de assassinato, visto pela última vez nos arredores da floresta oeste.
…
No caminho de volta para casa, Gabriel analisava os detalhes da nova missão. Ainda havia tempo suficiente no dia para caçar outro monstro ou até mesmo iniciar a caçada ao bandido, mas preferiu planejar com calma. Os bandidos de nível 4, mesmo não sendo uma ameaça real para ele, às vezes usavam truques ou armadilhas.
Assim que chegou em casa, guardou os itens excedentes, trocou parte do equipamento e descansou um pouco. Amanhã, voltaria à estrada. Poderia ser um novo monstro. Ou um novo criminoso.
Gabriel não se importava — enquanto a missão estivesse ativa, ele continuaria.