Capítulo 21: Vento Cortante da Justiça

Capítulo 21: Vento Cortante da Justiça

O sol mal havia surgido no horizonte quando Gabriel já estava a caminho. As ruas da cidade ainda estavam silenciosas, exceto por alguns trabalhadores madrugadores e patrulheiros. Ele avançava com passos firmes, o pergaminho da missão bem guardado em seu cinto de utilidades. O local indicado era uma região arborizada na zona oeste, onde o bandido de nível 4 havia sido avistado por último.

Gabriel sabia que não seria difícil derrotá-lo — afinal, seu poder já havia superado esse nível há algum tempo. Mas o objetivo não era apenas vencer, era capturar com eficiência e evitar chamar atenção desnecessária.

Pouco antes do meio-dia, Gabriel avistou uma pequena clareira entre as árvores. E lá estava o alvo: um homem de porte atlético, barba por fazer e olhos desconfiados. Ele parecia nervoso, examinando os arredores com frequência, como alguém acostumado a fugir.

Gabriel não hesitou.

— Você é o bandido procurado — disse, saindo das sombras das árvores. — Renda-se.

O homem arregalou os olhos ao ver Gabriel. Não disse nada. Apenas puxou a adaga presa à cintura e correu em sua direção.

Gabriel levantou a mão direita com calma. O ar ao redor começou a rodopiar violentamente, levantando folhas, poeira e até pequenas pedras. A seguir, ele pronunciou com firmeza:

— Magia de Vento: Lâmina Cortante Nível 5.

Em um instante, diversas correntes de vento afiado como lâminas foram lançadas em direção ao bandido. A velocidade era impressionante. O homem tentou se esquivar, mas uma das lâminas atingiu seu ombro, desarmando-o. Outra passou rente à perna, cortando superficialmente, o suficiente para fazê-lo cair de joelhos.

Antes que o bandido pudesse tentar fugir ou contra-atacar, Gabriel já estava ao seu lado, com a espada em punho.

— Fim da linha — disse, amarrando o homem com cordas encantadas de contenção que trazia consigo.

Horas depois, Gabriel retornava à associação. A atendente o viu chegar com o bandido desacordado amarrado sobre os ombros. Sem surpresa, apenas anotou a missão como concluída.

— Parece que você está começando a se especializar nisso — comentou ela, meio divertida.

Gabriel apenas deu de ombros.

— É eficiente. E rende bem.

Depois de confirmar a entrega, ele saiu da associação e seguiu seu caminho, pronto para descansar — ou talvez para buscar a próxima missão. Seu avanço não dava sinais de desacelerar.

Alguns dias haviam se passado desde a última missão. Gabriel, agora acostumado com a rotina eficiente e precisa das caçadas, começava a desejar algo que o desafiasse de verdade. Os bandidos de nível 3 e 4 já não apresentavam perigo algum, e até os monstros de nível 4 estavam se tornando previsíveis demais. Era hora de subir mais um degrau.

Ao chegar na associação naquela manhã, o clima estava movimentado. Vários caçadores discutiam entre si, alguns observando atentamente os quadros de missão nas paredes, outros aguardando sua vez na fila.

Gabriel foi direto ao balcão. A atendente, que já o conhecia, o cumprimentou com um sorriso profissional.

— Procurando por algo mais... emocionante hoje? — ela perguntou, observando sua expressão serena.

— Monstros de nível 5. Quero um novo tipo de alvo.

Ela assentiu e puxou um pergaminho mais ao fundo do arquivo.

— Largatos mágicos. Região rochosa ao sul da cidade, perto das colinas de Drael. Não é uma missão comum — ela avisou. — Esses monstros têm pele resistente e podem cuspir ácido em curto alcance. Já feriram alguns caçadores.

Gabriel pegou o pergaminho e assentiu com firmeza.

— Aceito.

O caminho até as colinas de Drael foi longo. Ao se aproximar do local indicado, o terreno começou a mudar — o solo ficava mais seco, rachado, e pedras irregulares cobriam boa parte do chão. As árvores diminuíam em número, dando lugar a arbustos secos e vegetação rasteira. O calor naquela área era mais intenso.

Foi ali, em meio a formações rochosas de tons avermelhados, que Gabriel finalmente avistou os largatos mágicos.

Eram imensos — com quase dois metros de comprimento, escamas acinzentadas que brilhavam sob o sol, e olhos dourados que pareciam calcular cada movimento. Seus corpos eram esguios, com garras afiadas e uma cauda longa e flexível. Eles andavam em grupo, três deles no total, em meio a rochas.

Gabriel estudou o ambiente com atenção, buscando o melhor momento para agir. Ele sabia que enfrentá-los de frente não era uma boa ideia, não por medo, mas por estratégia. Precisava neutralizá-los rapidamente antes que tentassem cuspir ácido.

Ergueu o braço e murmurou as palavras-chave da magia escolhida:

— Magia de Metal: Espinhos Perfurantes Nível 5.

Do solo ao redor, várias estacas metálicas emergiram, disparando como lanças em direção aos largatos. Uma delas foi atravessada no peito, tombando com um grito seco. Outro conseguiu desviar, mas teve a cauda perfurada e foi imobilizado. O terceiro tentou fugir, soltando um jato de ácido que atingiu uma pedra próxima — a rocha fumegou, derretendo parcialmente.

Gabriel saltou e, em pleno ar, concentrou energia na palma da mão.

— Magia de Vento: Lâmina Ascendente.

A rajada cortou o ar como uma foice invisível, atingindo o largato fugitivo com precisão. O impacto o lançou de lado, inconsciente.

Ao final da luta, Gabriel inspecionou os corpos, retirando os cristais mágicos, escamas resistentes e outras partes valiosas. Mesmo monstros selvagens podiam render recursos úteis — a associação pagava bem por materiais raros.

De volta à associação, o cheiro de sangue e poeira ainda impregnava nas roupas dele. Entregou os recursos, fez o relatório, e ouviu a confirmação da missão concluída.

— Está caçando acima da média, como sempre — comentou a atendente, enquanto registrava a entrega.

Gabriel não respondeu. Apenas olhou para o quadro de missões novamente. Por mais que avançasse, por mais que os inimigos ficassem mais fortes, ainda assim ele sentia que algo maior o aguardava no horizonte.

Mas até lá… ele continuaria caçando.