Capítulo 22: A Névoa da Morte

Capítulo 22: A Névoa da Morte

A manhã surgiu com o céu coberto por nuvens escuras. Um vento gelado soprava pelas ruas de Nova City, como se pressagiasse algo sombrio. Gabriel, no entanto, estava decidido. Ele não procurava conforto — queria desafio, algo novo.

Na associação, ele foi direto ao quadro de missões. Seus olhos se fixaram em um aviso incomum, recém-colocado. O pergaminho estava amarelado, e o selo de alerta vermelho indicava que poucos caçadores haviam retornado após aceitar aquela missão.

"Relatos de criaturas do tipo Zumbi, avistadas nas ruínas de Brelmor. Nível estimado: 5. Natureza desconhecida. Alvo altamente perigoso. Recompensa adicional por informações obtidas."

Gabriel leu atentamente e arqueou uma sobrancelha. Nunca ouvira falar de zumbis em nenhuma das zonas próximas. Era um tipo de monstro incomum, até mesmo em rumores.

Aceitou a missão.

As ruínas de Brelmor ficavam a três horas de caminhada ao norte da cidade. Antigamente, era uma vila pacífica, abandonada após um surto de doenças mágicas há mais de cinquenta anos. Diziam que a terra ali ainda era corrompida, infestada por magia maligna.

Quando Gabriel chegou, o céu estava ainda mais carregado. As construções antigas, de pedra e madeira apodrecida, pareciam prestes a desabar. Havia névoa cobrindo o solo, espessa e úmida, dificultando a visão além de alguns metros.

Foi então que os ouviu.

Passos arrastados. Gemidos baixos. O som de carne se raspando contra madeira podre.

E então, viu o primeiro.

A criatura que surgiu da névoa era repulsiva. Tinha a pele acinzentada, coberta por rachaduras profundas e veias escuras pulsando com energia pútrida. Seus olhos não possuíam pupilas, apenas esferas brancas leitosas. As roupas em farrapos sugeriam que já foi humano. As unhas estavam alongadas, negras como carvão, e sua boca entreaberta revelava dentes partidos, ainda sujos de sangue seco. O corpo, embora parcialmente em decomposição, movia-se com uma rigidez letal, como se algo invisível o manipulasse.

Outros dois surgiram atrás do primeiro, formando um pequeno grupo.

Gabriel sentiu a energia maligna no ar. A magia ali era densa… pesada. Mas ele já havia tomado sua decisão.

Ergueu a mão direita e canalizou seu poder.

— Magia de Veneno: Névoa Corrosiva Nível 5.

Do solo e do ar ao redor, uma nuvem verde começou a se formar. Densa, vibrante, carregada de toxinas. A névoa avançou rapidamente em direção aos zumbis, envolvendo-os por completo.

As criaturas começaram a se contorcer, seus gemidos tornaram-se gritos roucos. A carne exposta começou a borbulhar, corroída lentamente. Um deles caiu de joelhos, enquanto os outros tentavam recuar, mas já era tarde demais.

Gabriel observou tudo com frieza. O cheiro era insuportável, mas ele se manteve firme. Após alguns minutos, tudo o que restava eram cadáveres imóveis, derretidos, e a névoa começando a se dissipar.

Depois de certificar-se de que não havia mais ameaças, Gabriel colheu alguns fragmentos de cristal negro que pulsavam levemente com energia corrompida. Eram resquícios do que animava aquelas criaturas. Materiais valiosos para estudiosos da magia sombria… e de bom valor para a associação.

Já de volta à cidade, entregou os materiais e o relatório. A atendente pareceu surpresa.

— Você… enfrentou zumbis e voltou. Sozinho. Isso é inédito.

Gabriel deu de ombros.

— Eles eram lentos. E podres.

Ela riu, meio nervosa.

— Mesmo assim, não é o tipo de missão que um caçador faz sem preparação. Vamos precisar que os estudiosos analisem esses cristais.

Gabriel apenas assentiu. Não estava preocupado com o que viriam a descobrir. Para ele, era só mais um passo em sua jornada. E, se o mundo continuasse lhe jogando criaturas podres, ele continuaria a esmagá-las — com veneno, fogo, ou qualquer outra magia que estivesse à sua disposição.

Alguns dias se passaram desde a missão nas ruínas de Brelmor. Gabriel, com sua postura calma e olhar frio, voltou à associação. Ao se aproximar do balcão principal, foi atendido pela mesma funcionária de sempre — uma mulher de cabelos castanhos escuros, óculos de armação fina e olhos atentos.

— Olá, Gabriel — disse ela, com um leve sorriso. — Veio pegar outra missão?

Gabriel balançou a cabeça negativamente.

— Na verdade, vim fazer uma pergunta. É obrigatório aceitar missões diretamente aqui para poder caçar monstros? Ou posso caçar por conta própria e depois só vender os recursos?

A atendente franziu levemente o cenho, surpresa com a pergunta. Mas logo consultou rapidamente alguns registros e respondeu:

— Na verdade, não é obrigatório. Desde que você não entre em áreas restritas ou protegidas, tem permissão para caçar livremente. A única exigência é que os monstros estejam dentro do limite de risco do seu nível. Depois, pode vender o que coletar normalmente. Só as recompensas específicas de missão é que exigem registro antecipado.

Gabriel assentiu, satisfeito com a resposta.

— Bom saber. Então… provavelmente vou passar um bom tempo longe. Pretendo caçar sem parar por um tempo. Quando eu voltar, trarei bastante coisa para vender.

A atendente abriu um sorriso profissional, mas levemente curioso.

— Entendido. Boa caçada, Gabriel. Tente não morrer.

Gabriel sorriu de canto, quase imperceptivelmente.

— Não se preocupe. Eu não morro fácil.

No dia seguinte, Gabriel deixou a cidade antes mesmo do amanhecer. Ele havia estudado algumas regiões próximas, e decidiu se dirigir a uma floresta densa ao sul, conhecida como Floresta de Tarvek. Relatórios indicavam que javalis selvagens mágicos de nível 5 haviam sido avistados por lá.

A caminhada levou horas. Ao chegar, o ambiente era úmido e escuro, mesmo com o sol alto. Troncos largos e musgos espessos cobriam o solo. Galhos retorcidos bloqueavam parte da luz. Era um ambiente ideal para emboscadas… e para monstros territoriais.

Depois de algum tempo explorando, Gabriel escutou o som de algo pesado correndo entre os arbustos. Ele se posicionou rapidamente atrás de uma árvore, e então viu a criatura.

O javali selvagem mágico era muito diferente de um animal comum. Tinha quase dois metros de comprimento, com músculos saltando sob a pele grossa, coberta por pelos escuros e espinhos rígidos. Seus olhos brilhavam em um tom amarelado intenso, como se tivessem uma energia mágica própria. As presas curvas, afiadas e reforçadas por uma camada de metal natural, pareciam capazes de atravessar uma parede. E em suas patas traseiras, havia uma leve emissão de energia mágica que deixava pegadas fumegantes no solo.

A criatura farejou o ar. Estava em busca de algo. Ou alguém.

Gabriel então sussurrou:

— Magia de metal: Lâmina Cortante.

Duas espadas curvas de energia metálica se formaram ao seu lado, flutuando no ar. Com um movimento rápido da mão, ele lançou as lâminas em direção ao javali.

O monstro rugiu e tentou desviar, mas uma das lâminas cortou seu flanco, espalhando sangue escuro no chão. Enfurecido, o javali investiu contra ele, destruindo tudo à frente. Gabriel saltou para o lado e canalizou mais poder.

— Magia de metal: Prisão de Lâminas!

Do chão surgiram estacas metálicas que envolveram o javali, impedindo seu movimento. A fera se contorceu, urrando, tentando quebrar a prisão com força bruta. Mas Gabriel não hesitou.

Com um gesto final, lançou uma terceira lâmina, que girou como um disco cortante e atingiu o pescoço da criatura, encerrando a luta com precisão.

Gabriel se aproximou calmamente e coletou os recursos: presas, couro mágico, glândulas energéticas.

Ele respirou fundo e olhou ao redor.

Ainda havia muitos monstros por ali. E ele não tinha pressa em voltar.