Capítulo 18: Três Meses Depois
O sol nascia preguiçoso no horizonte, tingindo de dourado os telhados de Nova City. Uma brisa suave atravessava a cidade ainda acordando, e a luz invadia pela fresta da cortina do quarto de Gabriel, iluminando o cômodo silencioso.
Gabriel despertou lentamente, seus olhos se ajustando à claridade. Ao seu lado, Aline dormia profundamente, o rosto sereno, os longos cabelos loiros espalhados pelo travesseiro. Ele a observou por alguns segundos, sem pressa. Tinha se acostumado a acordar sozinho — mas naquela manhã, a presença de alguém ao seu lado parecia... diferente.
Levantou-se com cuidado, vestiu-se e foi até a sala. O silêncio da casa era confortável. Era difícil acreditar que três meses haviam passado desde que ele ganhara aquele sistema estranho. Três meses desde que era apenas um garoto comum, no nível 1, coletando ervas para juntar algumas moedas. Agora…
Abriu a janela de status, e ali estava:
Nível de Poder: 5
Expectativa de Vida: 150 anos
Classificação na Cidade (Nova City): 50.432
Gabriel respirou fundo. Aquela era uma marca importante. Em apenas três meses, tinha superado o que a maioria dos caçadores demorava um ano ou mais para alcançar. Tudo sem batalhas incessantes, sem quase morrer em masmorras, sem arriscar a própria vida em confrontos desiguais.
Ele só... existia. E com o tempo, o nível subia.
Era um poder que ninguém mais tinha. E embora às vezes questionasse o quão "justo" isso era, ele já havia aceitado essa vantagem como parte de sua vida. Não devia nada a ninguém. Não havia roubado. Apenas foi escolhido.
Voltou para o quarto por um momento, pegou papel e caneta e deixou um pequeno bilhete para Aline, que ainda dormia: "Obrigado pela companhia. Foi uma boa noite." Não prometeu reencontro. Ambos sabiam o que aquela noite significava — algo leve, sem amarras.
Depois de sair, Gabriel caminhou calmamente pelas ruas da cidade. O clima estava agradável, e Nova City fervilhava de atividades. Comerciantes abrindo suas barracas, aventureiros conversando em voz alta nas tavernas, crianças correndo com sorrisos no rosto. Ele se sentia parte da cidade de forma diferente agora.
No caminho até a associação, passou por um enorme painel de missões. Os nomes, recompensas e níveis estavam expostos em cristais flutuantes. Missões de coleta, de patrulha, de caçada... mas o que chamou a atenção de Gabriel foram as recompensas por capturas vivas. Especialmente os alvos de nível 3 a 4.
Ele começava a entender o verdadeiro jogo por trás da profissão. Caçar monstros rendia pouco. Eram perigosos, sujos, e quase sempre os recursos vendidos não compensavam o risco. Mas bandidos... bandidos valiam ouro. Principalmente vivos.
E ele já havia provado que podia lidar com esse tipo de alvo com facilidade.
Com os olhos fixos em uma missão recente — um ladrão de cargas, nível 3, foragido nas zonas externas da cidade — Gabriel sorriu. Estava pronto para ir além.
Mais do que subir de nível, agora ele queria deixar sua marca.
E a cidade, aos poucos, começava a conhecer o nome “Gabriel”.
Capítulo 18: Três Meses Depois (Continuação)
Com passos decididos, Gabriel atravessou a entrada da associação de caçadores. A recepção estava movimentada, como sempre — caçadores entrando e saindo, negociando recompensas, relatando missões. O lugar exalava o cheiro de suor, couro e fumaça de velas mágicas que pairavam em luminárias nos cantos da sala.
Ele caminhou até o balcão principal. A atendente, uma mulher de cabelos castanhos presos em um coque firme, o reconheceu de imediato.
— Bem-vindo de volta, Gabriel. Missões de recompensa novamente?
— Sim — respondeu com um leve aceno. — Algo no nível 4.
A mulher tocou em um cristal sobre o balcão, e diversas imagens e descrições de criminosos começaram a flutuar diante deles. Roubos, agressões, fraudes... mas um em especial chamou a atenção de Gabriel.
Nome: Karrel Morn
Nível de Poder: 4
Crime: Assaltos armados nas estradas da Zona Leste
Última localização: Floresta densa ao sul da estrada de pedra
— Vou pegar esse — disse, apontando para o rosto de Karrel, estampado com uma expressão arrogante.
A atendente assentiu, registrando seu nome na missão.
**
Algumas horas depois, Gabriel já adentrava a floresta indicada. A vegetação era densa e abafada. As árvores altas bloqueavam boa parte da luz do sol, criando um clima úmido e um tanto opressor. Ele sabia que estava perto. Pegadas recentes e sinais de acampamento improvisado revelavam que o bandido não havia saído dali ainda.
Gabriel parou por um instante, sentindo o ar ao seu redor. O silêncio era quase absoluto. Era o momento de decidir.
— Gelo ou vento... — murmurou para si mesmo, olhando para a palma da mão enquanto pequenas faíscas de energia começavam a se formar.
A magia de gelo oferecia mais controle. Era boa para capturar, para imobilizar. E no meio da floresta, poderia ser uma vantagem congelar o ambiente ao redor, prendendo o inimigo sem danos severos.
Já a magia de vento era mais destrutiva. Cortante, imprevisível. Gabriel gostava da sensação de usá-la, mas podia ser excessiva para capturas vivas.
Após alguns minutos ponderando, fechou a mão, concentrando o mana no peito.
— Vai ser gelo. — E sentiu a magia subir como uma corrente fria em suas veias. O ar ao seu redor começou a ficar mais gélido, pequenas partículas brancas se formando na atmosfera.
**
Karrel Morn estava sentado próximo a uma fogueira fraca quando o frio repentino o fez estremecer. Levantou-se rapidamente, puxando sua adaga, olhando ao redor.
Mas já era tarde.
O chão sob seus pés congelou num estalo súbito, prendendo suas pernas até os joelhos em uma prisão de gelo. Um segundo depois, seus braços foram envolvidos por correntes de gelo conjuradas no ar, imobilizando seus movimentos. Gabriel apareceu por entre as árvores com expressão calma, os olhos brilhando com energia mágica.
— Quem... quem é você?! — gritou Karrel, se debatendo inutilmente.
— Só alguém que vai levar você de volta pra cidade — respondeu Gabriel, aproximando-se e tocando a testa do bandido. Um círculo mágico brilhou, e Karrel desmaiou com um feitiço de sono leve.
**
Horas depois, Gabriel adentrava novamente a associação, trazendo o bandido inconsciente amarrado com cordas reforçadas.
— Captura viva — disse simplesmente, deixando o corpo aos pés dos guardas locais. A atendente o cumprimentou com um sorriso satisfeito.
— Boa escolha de missão, Gabriel. Está se tornando bastante eficiente nesse ramo.
Ele apenas assentiu, aceitando as moedas de prata entregues em uma pequena bolsa de couro. Sem dizer mais nada, saiu da associação e voltou a caminhar pela cidade, já pensando em qual seria sua próxima missão.
A cidade começava a notá-lo.
E o nome “Gabriel” estava cada vez mais presente nas conversas daqueles que o viam passar.