Capítulo 24: Surpresas no Caminho
Algum tempo havia se passado desde as últimas caçadas de Gabriel. O calor das regiões vulcânicas, o veneno espalhado pela floresta e as criaturas mágicas de todos os tipos já não o surpreendiam tanto quanto antes. Ele se acostumava cada vez mais com aquela vida intensa, perigosa, mas recompensadora. E agora, enfim, havia atingido o nível 6.
Era um progresso notável, considerando que fazia apenas alguns meses desde que ele havia se tornado um caçador. Gabriel sentia-se mais forte, mais confiante, e com uma percepção muito mais aguçada do mundo ao seu redor. Mas, naquele dia, ele não pensava em monstros nem em magias.
Pensava em outra coisa.
Ou melhor, em alguém.
Desde que começara a frequentar a associação, Gabriel havia trocado várias palavras com a atendente de cabelos castanhos escuros e olhar sereno. Ela parecia sempre atenta, séria em suas obrigações, mas com um leve traço de curiosidade quando o via se aproximar. O nome dela era Maria, e Gabriel sabia disso mesmo sem nunca ter perguntado — havia lido discretamente o crachá no peito dela em suas visitas anteriores.
Naquele dia, ele foi até a associação. Mas não levava itens para vender, nem buscava caçadas.
Ao chegar, Maria olhou para ele com seu costumeiro profissionalismo, ajustando os óculos de armação fina sobre o nariz.
— Boa tarde, Gabriel. Veio vender recursos ou pegar uma missão?
Gabriel sorriu, tranquilo.
— Hoje não vim por nenhum dos dois. Na verdade... eu vim te chamar pra sair.
Maria o olhou surpresa. Seus olhos se arregalaram levemente, mas não fugiram do olhar dele. Parecia não esperar aquele tipo de abordagem — não de Gabriel, não ali, na associação.
Ela hesitou por um instante.
— Sair… comigo?
Gabriel assentiu, mantendo a calma.
— Sim. Você me parece alguém interessante, e eu gostaria de te conhecer melhor — disse ele, sincero.
Maria manteve o olhar por alguns segundos. A seriedade profissional ainda estava ali, mas aos poucos foi substituída por um sorriso discreto, quase tímido.
— Tudo bem… por que não?
…
Pouco depois, os dois estavam caminhando juntos pelas ruas da cidade. Conversaram sobre tudo e nada ao mesmo tempo: as missões da associação, os tipos estranhos de caçadores que apareciam por lá, algumas memórias do passado de Maria e o início da jornada de Gabriel.
O clima era leve, sem pressões. Maria se mostrava mais descontraída fora do ambiente da associação, e Gabriel achava aquele lado dela encantador.
Já ao entardecer, enquanto caminhavam pelas ruas tranquilas de Nova City, Gabriel fez o convite:
— Quer ir até minha casa? Podemos continuar a conversa por lá.
Maria parou por um momento, pensativa. Depois assentiu com um leve sorriso nos lábios.
— Tudo bem. Vamos.
…
A casa de Gabriel era espaçosa, reformada recentemente. Quando entraram, ele preparou algo para beberem e os dois continuaram conversando por mais um bom tempo. Riram de situações inesperadas e falaram sobre suas visões de mundo.
O clima entre eles se tornou mais íntimo, até que Gabriel, com naturalidade, convidou Maria para o seu quarto. Ambos sabiam o que queriam. Não havia promessas, nem ilusões. Era uma noite de desejo mútuo, entre dois adultos conscientes.
E assim foi.
Naquela noite, Gabriel e Maria dormiram juntos — não como um casal apaixonado, mas como dois mundos que por um momento, resolveram se encontrar.
Capítulo 24: Surpresas no Caminho (Continuação)
Na manhã seguinte, Gabriel acordou com a luz suave entrando pelas frestas da janela. Maria ainda estava deitada ao seu lado, tranquila, os cabelos castanhos escuros espalhados sobre o travesseiro. Por alguns segundos, ele ficou ali, observando em silêncio, até que decidiu se levantar sem fazer barulho.
Era hora de voltar à rotina. A noite havia sido boa, inesperada até, mas Gabriel ainda era um caçador. E como tal, precisava continuar progredindo — ainda mais agora que havia chegado ao nível 6.
…
Naquela manhã, ele seguiu para uma área mais densa da floresta, onde havia relatos de lobos mágicos de nível 6. Essas criaturas eram diferentes das versões anteriores que enfrentara meses atrás. Agora, os lobos tinham pelagens densas com tons acinzentados e traços dourados próximos à cauda e focinho. Os olhos brilhavam com uma tonalidade âmbar intensa, e a presença deles era marcada por um silêncio opressor na floresta — como se as outras criaturas tivessem aprendido a evitá-los.
Gabriel escolheu usar magia de fogo, canalizando seu poder para ataques precisos. As lutas não foram simples, mas ele dominava bem seus feitiços e movimentos. Cada conjuração era rápida, quase automática, fruto da experiência acumulada ao longo daqueles nove meses.
Ele matou o necessário, coletou os recursos valiosos e seguiu de volta para a cidade.
…
Na associação, Maria estava em seu posto de sempre, organizando papéis e recebendo caçadores. Quando Gabriel entrou com os itens da caçada, ela o observou com mais atenção do que o habitual. Havia algo nos olhos dela — não só familiaridade, mas também um misto de curiosidade e... espanto.
— Lobos de nível 6? — ela perguntou ao ver os materiais. — Você saiu hoje de manhã, e já voltou com isso?
Gabriel sorriu, apoiando os itens sobre o balcão.
— Estavam mais próximos do que imaginei. Não foi tão complicado.
Maria o encarou por alguns segundos, avaliando em silêncio. Depois suspirou, pensativa.
— Ainda nem se passou um ano desde que você começou. Faz apenas nove meses… e você já está no nível 6. Isso é... anormal. — Ela disse, sem esconder o tom de admiração. Você está avançando mais rápido do que qualquer registro recente.
Gabriel deu de ombros, tentando parecer modesto.
— Acho que estou no caminho certo, só isso.
Maria sorriu de leve, mesmo que visivelmente intrigada. Aquilo tudo parecia quase inacreditável, mesmo para alguém que via dezenas de caçadores por semana.
— Só cuidado para não chamar atenção demais — disse ela, em um tom mais sério. — Gente que cresce rápido demais acaba despertando olhos... certos tipos de olhos.
Gabriel assentiu, entendendo bem o aviso. Ele já sabia que seu crescimento acelerado poderia levantar suspeitas. Mas, ao mesmo tempo, ele não pretendia se esconder.
Ele queria mais. Mais força, mais poder. E nada nem ninguém o impediria de continuar subindo.
E ele ainda estava longe de parar.