Capítulo 25: Ecos da Morte
Após chegar no nível 6 de poder Gabriel já estava na posição 30k
Classificação: Rank 30,346
Cidade: Nova City
A manhã estava encoberta por nuvens densas quando Gabriel saiu de casa. O ar tinha um cheiro diferente naquele dia — uma mistura de terra úmida e algo pútrido que só poderia significar uma coisa: os zumbis estavam ativos mais cedo do que o habitual.
Ele caminhava pelas ruas de Nova City como uma sombra discreta entre os prédios e becos. Os olhares começavam a segui-lo com mais frequência. Não era mais apenas um novato. Aos olhos de muitos, seu nome já ganhava espaço entre os caçadores promissores. Rank 30,346. Um número que ainda parecia pequeno diante da população gigantesca da cidade, mas para Gabriel, era mais um degrau firme na sua escalada silenciosa.
No salão da associação, ele nem precisou dizer nada. Maria, agora acostumada com sua presença constante, apenas entregou o formulário para caçadores autônomos, dispensando o protocolo. Gabriel já não pegava mais missões diretas. Ele caçava o que quisesse, quando quisesse.
…
Ao chegar ao terreno baldio próximo à antiga zona industrial da cidade, ele sentiu imediatamente a mudança de atmosfera. A névoa era espessa, o ar gélido, e um silêncio mórbido envolvia o ambiente. Nenhum animal, nenhum som — apenas os passos dos mortos.
Zumbis comuns eram as figuras clássicas do horror: pele esverdeada em decomposição, olhos esbranquiçados e dentes amarelados, roupas rasgadas que ainda carregavam manchas escuras do que um dia poderia ter sido sangue. Seus movimentos eram lentos, os corpos rígidos e desconexos, como marionetes quebradas.
Zumbis corredores, por outro lado, eram algo diferente — e muito mais perigosos. Suas peles eram secas e pálidas, com veias negras pulsando por todo o corpo. Tinham o rosto contorcido em expressões permanentes de raiva, e seus olhos vermelhos brilhavam no meio da névoa. As unhas eram longas, afiadas, e seus movimentos rápidos e imprevisíveis, quase bestiais.
Gabriel não perdeu tempo. Com um gesto ágil das mãos, começou a conjurar magia de veneno nível 6. Uma nuvem verde densa espalhou-se entre os zumbis comuns, fazendo suas carnes apodrecerem ainda mais rápido. Eles cambalearam, soltando grunhidos abafados antes de caírem no chão, se desintegrando lentamente.
Quando os zumbis corredores avançaram em sua direção, Gabriel respondeu com magia de gelo. Estalou os dedos, e um campo de gelo se formou sob seus pés, subindo como lanças afiadas. Os monstros tentaram desviar, mas três foram empalados, congelados no mesmo instante com expressões distorcidas.
Os que sobreviveram tentaram contorná-lo pela lateral. Gabriel então estendeu a mão direita, convocando magia de fogo nível 6. Uma muralha de chamas intensas se ergueu à sua frente, engolindo os inimigos em uma tempestade incandescente. Os gritos dos mortos-vivos foram abafados pelas chamas, e logo o ar voltou a ficar silencioso, apenas com o som da madeira queimada e o crepitar das brasas.
Quando tudo terminou, ele ficou em silêncio por alguns segundos, respirando fundo. O cheiro de carne queimada e podridão ainda impregnava o ar, mas Gabriel não parecia incomodado.
Ele caminhou entre os corpos destruídos, selecionando os recursos que podiam ser vendidos — ossos resistentes, núcleos mágicos contaminados, fragmentos de magia residual.
…
De volta à associação, Maria o recebeu com o mesmo olhar de sempre, mas havia algo diferente em seu tom:
— Zumbis... Você está indo para lugares que muitos evitam.
Gabriel colocou os itens no balcão e deu um leve sorriso.
Ele se despediu e saiu pelas ruas de Nova City, mais calmas naquela noite, mas com o céu pesado acima da cidade.
A noite viria em breve.
E Gabriel... ainda tinha muito o que caçar.
Alguns dias haviam se passado desde sua última caçada aos zumbis, e Gabriel, por mais que estivesse avançando bem, começava a sentir o tédio crescer. Seu corpo estava em constante evolução, mas sua mente clamava por algo diferente — algo mais direto, mais humano.
Foi então que, ao acordar em uma manhã morna e nublada, ele decidiu que era hora de sair da monotonia. Caçar bandidos sempre oferecia um tipo diferente de emoção. Era mais caótico, imprevisível... e, de certa forma, mais satisfatório. Não havia núcleos mágicos, mas a sensação de prender alguém que fazia mal a outros cidadãos tinha um gosto próprio.
Sem perder tempo, vestiu seus equipamentos, ajustou a capa de couro reforçada, verificou sua espada curta e seguiu em direção à associação.
O salão da associação estava relativamente vazio quando ele chegou. Maria, como sempre, estava atrás do balcão, organizando uma pilha de papéis com sua eficiência habitual. Assim que o viu se aproximar, ergueu os olhos e sorriu levemente.
Gabriel se apoiou no balcão com uma expressão casual.
— Dessa vez quero uma missão de caçador de recompensa. Algo com mais... personalidade.
Maria ergueu uma sobrancelha, intrigada, e começou a vasculhar os registros em uma prancheta de couro firme. Depois de alguns minutos, puxou um papel carimbado com tinta vermelha.
— Aqui está. Homem procurado por múltiplos assaltos e agressões armadas. Nível de poder estimado: 5. Está se escondendo nas ruínas da antiga estação ferroviária no setor 12. Local perigoso, mas nada que você não consiga lidar.
Gabriel pegou o papel e leu os detalhes com atenção. O alvo se chamava Ragan, um criminoso reincidente, conhecido por usar lâminas venenosas e emboscadas. Gabriel soltou um leve sorriso. “Pelo menos vai me dar um pouco de trabalho”, pensou.
— Vou trazer ele com vida.
Maria assentiu com um olhar sério.
— Boa sorte. E tome cuidado… esse sujeito já matou três caçadores inexperientes.
Gabriel virou-se sem responder. Em seus olhos, havia apenas foco. Ele saiu da associação e desapareceu pelas vielas da cidade, indo direto ao encontro do perigo.
O céu começava a escurecer.
E nas sombras da cidade, caçador e presa logo se encontrariam.
A antiga estação ferroviária era agora uma carcaça enferrujada do passado. Vagões abandonados jaziam como esqueletos de metal retorcido, trilhos tomados por mato alto e placas caídas marcavam o que um dia fora um centro de movimentação intensa. Era um bom esconderijo para quem não queria ser encontrado — e melhor ainda para quem desejava montar armadilhas.
Gabriel se aproximou com cautela. Suas botas mal faziam som sobre o solo irregular, e a capa ondulava suavemente ao vento. A aura mágica ao redor de seu corpo estava silenciosa, mas em prontidão. Ele canalizava a energia sutil da magia de gelo, apenas o suficiente para baixar sua temperatura corporal e reduzir seu cheiro — algo que ele aprendera a fazer por conta própria com o tempo.
Ele caminhou entre os trilhos, atento. Uma movimentação brusca entre os escombros de um vagão o alertou. Sem hesitar, Gabriel deu um salto para o lado — e logo uma lâmina cravada em veneno riscou o ar onde seu pescoço estivera milésimos antes.
— Rápido demais pra um caçador comum — disse uma voz rouca entre os destroços. — Você não é um novato, hein?
Gabriel se virou com calma, os olhos fixos na direção da voz. De trás de uma pilha de vergalhões retorcidos, surgiu Ragan, trajando roupas rasgadas de couro, presas com tiras improvisadas de pano. O olhar do bandido era afiado, e em suas mãos havia duas adagas curvas, com uma coloração verde-escura nas lâminas.
— Você é mais falador do que eu esperava — respondeu Gabriel, erguendo levemente uma das mãos. Um sutil brilho azul começou a se formar em torno de seus dedos.
Ragan lançou-se para frente com velocidade surpreendente, vindo em zigue-zague. Era claro que sabia lutar. Suas adagas giravam com precisão, mirando articulações e pontos cegos. Mas Gabriel era superior. Com um movimento súbito, conjurou uma parede de gelo em forma de espinhos à frente do inimigo, forçando-o a saltar para o lado.
No instante seguinte, o solo sob Ragan congelou parcialmente. O bandido escorregou, perdeu o equilíbrio, e antes que pudesse reagir, foi envolvido por correntes formadas de gelo cristalino.
Imóvel, Ragan rugia:
— Maldito! Isso não é magia de nível 5, é coisa de monstro!
Gabriel se aproximou e com um gesto desfez parte da prisão de gelo, mantendo os braços do bandido presos. Amarrou-o com cordas encantadas que levava consigo.
— Você vai voltar comigo. E vai pagar pelo que fez — disse em tom baixo.
A viagem de volta foi silenciosa. Ragan, derrotado, caminhava amarrado, tropeçando de tempos em tempos. Quando chegaram à associação, Maria já esperava, como se soubesse que Gabriel retornaria em breve.
— Missão completa? — perguntou, ao ver o bandido sendo conduzido.
— Sim — respondeu Gabriel, com simplicidade.
Maria chamou dois guardas, que levaram Ragan sob custódia. Gabriel entregou o papel da missão e virou-se para ir embora.