Capítulo 27: Novos Zumbis

Capítulo 27: Novos Zumbis

O céu nublado dava o tom perfeito para o novo desafio de Gabriel. Após alguns dias de descanso na praia, sentia que seu corpo estava recarregado — não só fisicamente, mas mentalmente também. Porém, aquele mundo não permitia descanso por muito tempo. Os monstros continuavam a surgir, as ameaças se espalhavam, e os caçadores tinham sempre trabalho a fazer.

Dessa vez, Gabriel decidiu enfrentar criaturas que nunca havia enfrentado antes: zumbis blindados e zumbis explosivos de nível 6 — aberrações que começavam a aparecer em regiões mais distantes da cidade. Não eram comuns, e por isso, os caçadores de patentes mais altas estavam sendo enviados para contê-los.

A região era sombria. Florestas secas, árvores retorcidas e o ar carregado de podridão mágica. O solo era escuro, como se as raízes da terra tivessem apodrecido. Ao longe, grunhidos ecoavam, e um fedor de carne queimada se espalhava pelo vento.

O primeiro inimigo apareceu.

O zumbi blindado tinha mais de dois metros de altura. Seu corpo era coberto por placas enferrujadas de metal fundido à carne. Seus olhos brilhavam em vermelho, e ele empunhava uma clava feita de ossos endurecidos. Os passos do monstro afundavam o chão com peso brutal.

— Vamos ver o quanto você aguenta... — murmurou Gabriel, erguendo a mão direita, onde uma névoa azulada começou a se formar.

A batalha começou.

Gabriel lançou magia de gelo nível 6, criando lanças gélidas que perfuraram o ar e atingiram o torso do zumbi. O impacto fez o monstro recuar por um instante, mas as placas de metal absorveram parte do dano.

O zumbi blindado rugiu e partiu em investida, tentando esmagar Gabriel com a clava. Mas Gabriel era ágil — desviou com um salto para o lado e contra-atacou, criando uma parede de gelo que bloqueou o avanço do inimigo.

— Está resistente demais pra só gelo... — disse, e então, seu corpo brilhou com energia elétrica.

Com um movimento brusco da mão esquerda, Gabriel invocou magia de raio nível 6. Rajadas de eletricidade caíram como trovões, atingindo diretamente o zumbi. O metal em seu corpo conduziu o choque violentamente. O monstro estremeceu e gritou, rachaduras começaram a surgir na armadura fundida.

Sem perder tempo, Gabriel combinou as magias. Criou estacas de gelo e as lançou junto com um novo raio. O ataque atravessou o peito do monstro e, finalmente, ele caiu no chão, soltando um último gemido grave antes de virar cinzas.

Mas a paz não durou.

Do lado oposto, outro inimigo surgiu — desta vez, mais perigoso.

O zumbi explosivo tinha um corpo distorcido, inchado em várias partes. Veias púrpuras brilhavam em sua pele acinzentada, e uma fumaça negra saía pelas fissuras. Seus olhos não eram vermelhos, mas de um verde corrosivo. Seu andar era instável, como se fosse explodir a qualquer momento.

Gabriel não hesitou.

Ele começou com magia de gelo, tentando desacelerar os movimentos do monstro, congelando o chão ao redor. O zumbi escorregou, mas ainda avançava, soltando uma risada horrível que ecoava como um chiado demoníaco.

— Não vou te deixar chegar perto — disse Gabriel, e canalizou raios azuis em espiral ao redor de seu corpo.

Com um salto, lançou um raio concentrado na cabeça do zumbi. O impacto causou uma reação imediata: o corpo do monstro começou a tremer violentamente, os olhos brilharam mais forte e... BOOM!

O zumbi explodiu no ar, espalhando uma fumaça tóxica que se dispersou rapidamente graças ao vento mágico que Gabriel conjurou como escudo.

Ele se afastou, respirando com calma, observando os vestígios da batalha.

— Esses monstros estão ficando cada vez mais estranhos... e perigosos.

Mesmo com a força que possuía agora, Gabriel entendia que havia muito mais escondido nesse mundo do que apenas lobos, bandidos ou slimes. As criaturas evoluíam. E ele também precisaria continuar evoluindo.

Naquela noite, após o combate, Gabriel seguiu para a associação apenas para vender os itens obtidos. Não quis conversar, nem chamar atenção. Só entregou o necessário, recebeu o dinheiro e saiu.

O olhar da atendente Maria o seguiu enquanto ele deixava o lugar. Ela não precisava dizer nada. Já sabia: Gabriel havia vencido mais uma vez. Mas ela também sentia — o verdadeiro perigo ainda estava por vir.

Gabriel deixou para trás os restos em chamas dos zumbis que havia derrotado. O céu permanecia escuro, como se recusasse a testemunhar os horrores daquela floresta envenenada. O cheiro de carne queimada, ozônio e magia tóxica ainda pairava no ar, grudando na pele e na roupa como uma sombra silenciosa.

Com os itens recolhidos — pedaços resistentes de armaduras dos zumbis blindados, fragmentos cristalizados de energia negra e núcleos envenenados que pulsavam em tons doentios — Gabriel caminhou de volta em direção à cidade. Seus passos eram firmes, mas havia uma quietude em seu semblante. Ele não lutava apenas por dinheiro ou por fama; lutava por algo mais profundo, ainda sem nome.

Ao chegar à associação, entregou os recursos à atendente da recepção. Maria, como de costume, o recebeu com um leve sorriso — mas agora havia algo a mais no olhar dela. Um reconhecimento silencioso. Ela não o tratava mais como um caçador qualquer. Gabriel já era diferente.

— Foram zumbis de novo? — perguntou ela, recebendo os itens.

— Sim. Um blindado e um explosivo... e alguns outros menores — respondeu ele, breve como sempre.

Ela examinou os materiais. Sabia que não eram fáceis de obter. Gabriel havia saído ileso de mais uma batalha que poderia ter custado a vida de qualquer outro caçador.

— Eu vou cuidar da venda — disse ela. — Você já pode pegar o pagamento no terminal.

Gabriel assentiu, pegou os créditos e deixou a associação em silêncio.

Algum tempo se passou.

Gabriel continuou sua rotina solitária e letal. Caçava monstros com regularidade, evitava se envolver com grupos ou guildas, e raramente aceitava missões de escolta ou defesa. Seu foco era em evolução, e isso o tornava mais eficiente do que qualquer outro caçador comum.

Foi apenas depois de uma caçada longa contra uma alcateia de lobos negros de nível 6 que ele sentiu. Algo havia mudado. Uma leve pressão em seu corpo... uma vibração diferente em sua magia... e então o aviso surgiu:

[Você alcançou o Nível 7.]

Gabriel fechou os olhos por um momento, respirando fundo. Não comemorou. Mas sentiu. Era uma marca importante. Um novo patamar.

Havia levado um pouco mais de um ano para alcançar aquele nível desde que havia pisado pela primeira vez no mundo dos caçadores. No total, haviam se passado dois anos desde o início de sua jornada.

Para qualquer outro caçador, aquilo seria impensável. A maioria levava mais de cinco anos apenas para chegar ao nível 5. Chegar ao nível 7? Isso era privilégio de veteranos com décadas de experiência ou gênios absurdos. E Gabriel... bem, ele estava no seu próprio ritmo. Um ritmo anormal. Um ritmo que começava a chamar atenção.

Alguns já o observavam nas ruas. Outros cochichavam quando ele passava. Maria notava os olhares desconfiados de alguns superiores da associação. Mas ninguém ousava interferir ainda. Afinal, Gabriel fazia o trabalho que muitos não conseguiam — e sempre voltava inteiro.

Naquela noite, sentado em silêncio em sua nova casa, Gabriel observava a cidade pela janela. Lá fora, tudo seguia seu curso. Mas dentro dele, a sensação era clara: ele estava apenas começando. E algo maior... muito maior... o aguardava.