Capítulo 28: Vinte e Oito Degraus

Capítulo 28: Vinte e Oito Degraus

Gabriel agora estava entre os caçadores mais promissores da cidade, ocupando o Rank 25.746. Para muitos, essa ascensão parecia impossível em tão pouco tempo. Mas para ele, isso tudo estava acontecendo de forma natural. Ele não se esforçava, não treinava. O poder simplesmente crescia dentro dele, como se algo invisível o estivesse empurrando para o topo.

Algum tempo se passou.

A rotina continuava. Gabriel passava seus dias caçando monstros ou capturando bandidos. Havia momentos em que não fazia absolutamente nada por dias, mas mesmo assim, sentia-se mais forte. O tempo estava ao seu favor. Enquanto outros suavam e se arriscavam para subir de nível, ele apenas vivia... e evoluía.

Certo dia, ao andar tranquilamente pela cidade, passou por uma loja de roupas e viu um cartaz com a promoção de “aniversário do mês”. Aquilo fez ele parar por alguns segundos.

— Aniversário… — murmurou. — Eu já fiz dezoito anos?

Foi nesse momento que percebeu: havia passado da data. Já era maior de idade, e sequer tinha notado. Tanta coisa havia acontecido desde que se tornara caçador que esquecer disso parecia quase normal.

Um pensamento surgiu: “Por que não comemorar?”

E logo em seguida: “Maria.”

Sem pensar duas vezes, Gabriel foi direto para a associação. O ambiente era o mesmo de sempre — caçadores conversando, alguns entregando missões, outros apenas descansando. Maria, com seu jeito sereno, atendia alguns papéis no balcão. Cabelos castanhos escuros bem presos, óculos de armação fina, olhos atentos — como sempre.

Quando ela notou a aproximação de Gabriel, sorriu levemente.

— Hoje você está com cara de quem não veio vender nem caçar — comentou.

— Acertou. Hoje… eu queria te convidar para sair. Fiz dezoito anos há alguns dias e só percebi agora.

Maria pareceu surpresa por um instante.

— Esqueceu o próprio aniversário?

— Acontece — ele respondeu, despreocupado. — Mas não é tarde pra comemorar, certo?

Ela olhou ao redor, pensativa por alguns segundos.

— Tudo bem. Acho que posso sair por hoje.

— Ótimo. Vamos?

Os dois saíram juntos. A cidade estava agradável naquela tarde. Caminharam por ruas tranquilas, onde o movimento era leve e o sol já se preparava para se esconder no horizonte. Foram para um restaurante discreto, com uma vista bonita da cidade ao entardecer.

Durante o jantar, conversaram sobre tudo. Maria falava de quando começou a trabalhar na associação, das histórias engraçadas que via nos formulários dos caçadores. Gabriel escutava, comentava, sorria. Às vezes, ela o observava com uma expressão intrigada — talvez tentando entender como alguém podia parecer tão tranquilo, mesmo com um crescimento tão absurdo.

Depois do jantar, Gabriel a acompanhou de volta até perto da casa dela. Antes de se despedirem, ele disse:

— Obrigado por sair comigo hoje. Foi uma boa noite.

— Foi sim — ela respondeu, com um sorriso sincero. — Feliz aniversário atrasado, Gabriel.

Ele acenou, e os dois se separaram.

Naquela noite, enquanto voltava para casa, Gabriel andava pelas ruas silenciosas com as mãos nos bolsos e o olhar voltado para o céu estrelado. Havia algo de estranho, mas reconfortante, em simplesmente viver — e mesmo assim, crescer mais forte a cada dia.

A noite já havia avançado quando Gabriel chegou em casa. Sentou-se no sofá por alguns minutos, olhando para o vazio, ainda com o gosto suave do vinho que havia tomado com Maria durante o jantar. O silêncio de seu lar era quase reconfortante, mas não o suficiente.

Naquela noite, ele não queria dormir sozinho.

Levantou-se com calma, trocou de roupa por algo mais leve e saiu novamente pelas ruas calmas da cidade. Não demorou muito até chegar diante da residência de Maria. A casa era simples, de dois andares, com uma varanda modesta e luzes amareladas acesas nas janelas.

Bateu duas vezes na porta.

Depois de alguns segundos, Maria apareceu. Ela usava uma camisola clara, confortável, e parecia levemente surpresa ao vê-lo ali — mas não assustada.

— Gabriel?

— Eu queria te ver de novo... e dormir com você hoje.

Maria o encarou em silêncio por um instante. Não parecia haver malícia nas palavras dele. Era um pedido direto, quase inocente. Ela respirou fundo, depois abriu mais a porta.

— Entra.

Gabriel entrou, e os dois se olharam por alguns segundos, até que Maria sorriu com suavidade.

— Eu já imaginava que você apareceria.

— É mesmo? — ele disse, tirando os sapatos.

— Você tem esse jeito calmo, mas é mais direto do que parece.

Maria o conduziu pela casa, até o quarto dela. O cômodo era organizado, decorado com cores quentes e uma cama de casal encostada à parede. O silêncio entre os dois dizia mais do que qualquer conversa.

Se aproximaram, lentamente. Gabriel acariciou o rosto de Maria com delicadeza, e ela retribuiu o gesto com um beijo leve. Aquilo evoluiu naturalmente, sem pressa, sem ansiedade. Ambos sabiam o que queriam.

Foi uma noite silenciosa, marcada por intimidade, toques e suspiros. Sem promessas, sem obrigações. Apenas duas pessoas que decidiram compartilhar o mesmo espaço, o mesmo calor.

Quando finalmente adormeceram, Gabriel estava deitado de lado, com o braço ao redor do corpo de Maria, ouvindo a respiração tranquila dela enquanto a noite seguia em paz. Naquele momento, ele não pensava em monstros, missões ou níveis. Apenas descansava.

No dia seguinte, ao acordar, sentia-se estranho. Não porque havia feito algo errado, mas porque, pela primeira vez em muito tempo, havia simplesmente… vivido.