Capítulo 36: A Beira do Topo

Capítulo 36: A Beira do Topo

Algum tempo se passou.

Gabriel havia alcançado o nível 9.

Sua ascensão era cada vez mais evidente. No ranking oficial da cidade de Nova City, seu nome agora brilhava entre os 14.957 primeiros, aproximando-se do tão desejado Top 10 mil — uma façanha que muitos caçadores sequer sonhavam em alcançar em toda a vida.

Quatro anos haviam se passado desde que o sistema despertou nele. Quatro anos de progresso implacável, de batalhas vencidas sem dificuldades, de monstros derrotados como se fossem sombras frágeis diante de sua força crescente.

E naquele dia, ele sentia que era hora de testar o limite dos monstros de nível 8.

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Gabriel atravessava uma região montanhosa ao sul de Nova City, conhecida como as Terras Cortadas — um local formado por ravinas estreitas, pedras afiadas como lâminas e o silêncio de uma natureza selvagem. Era ali que, segundo registros recentes da associação, um novo tipo de monstro de nível 8 havia aparecido.

Ele não teve que procurar muito.

No alto de um penhasco, surgiu uma criatura colossal. Media mais de quatro metros de altura, com o corpo coberto por placas de ferro natural que pareciam ter sido fundidas ao osso. Suas mãos terminavam em garras de obsidiana, e seus olhos brilhavam com um tom vermelho-alaranjado. Havia vapor saindo de seu dorso, como se sua respiração interna fosse uma fornalha.

Era um Golem Vulcânico, um monstro de pura força e calor.

Gabriel apenas observou, imóvel.

O monstro rugiu e desceu o penhasco como um touro desgovernado, a cada passo rachando o solo com o peso de seu corpo. Mas antes que o Golem pudesse sequer erguer os braços, Gabriel já estava movendo-se com velocidade extrema, desaparecendo e reaparecendo ao lado da criatura.

Com um aceno suave da mão, lançou uma rajada de magia de água comprimida em forma de lâmina. O ataque cortou parte da carapaça do golem como se fosse manteiga.

O monstro tentou reagir com um soco flamejante, mas Gabriel simplesmente elevou a palma da mão e, com magia de gelo nível 8, congelou instantaneamente o braço do inimigo, quebrando-o em mil pedaços com um leve toque de psicocinese.

— Só isso? — murmurou ele, enquanto dava um passo à frente.

Com um gesto calmo, invocou várias estacas de terra afiadas, que perfuraram o golem de baixo para cima. A criatura gritou, mas antes que pudesse derreter as lanças com seu calor interno, Gabriel já havia envolvido todo o corpo do monstro com magia de vento cortante, multiplicando os ataques em todas as direções.

Sem esforço, o Golem Vulcânico começou a ruir, parte por parte, até cair de joelhos e explodir em uma nuvem de vapor.

No centro da fumaça, uma pedra avermelhada e pulsante flutuava lentamente. Era o núcleo de fogo do monstro.

Gabriel pegou o item e o guardou com cuidado. A energia daquele núcleo era intensa — poderia ser usada para criar uma arma ou armadura que queimasse ao toque. Mas, por ora, era apenas mais uma conquista.

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Ele olhou para o céu nublado e respirou fundo.

Estava cada vez mais perto dos melhores caçadores da cidade, mas algo dentro dele dizia que aquilo ainda era apenas o começo. A verdadeira elite, os seres de rank mais elevado, os monstros de classificação extrema… todos aguardavam, ocultos nas sombras do mundo.

Gabriel sorriu.

E seguiu adiante.

Gabriel desceu os rochedos com tranquilidade, sentindo o vento seco das Terras Cortadas soprar contra o rosto. O calor deixado pelo Golem Vulcânico ainda pairava no ar como uma brisa morna, mas ele já não sentia aquilo como ameaça — seu corpo havia se adaptado a temperaturas extremas com o tempo.

Ao chegar ao vale, ele avistou outros sinais de atividade incomum. Árvores chamuscadas, pedras rachadas e marcas profundas no solo.

— Mais monstros nível 8 passaram por aqui — murmurou.

Seguindo os rastros, não demorou a encontrar outro inimigo.

Dessa vez, tratava-se de um Escorpião do Abismo, uma criatura grande como um carro, com carapaça negra brilhante e patas afiadas como foices. Sua cauda vibrava com energia venenosa, e seus olhos múltiplos brilhavam em tom esverdeado.

Ele avançou com uma velocidade surpreendente, mas Gabriel apenas estendeu uma das mãos com despreocupação e ativou magia de controle nível 8.

A criatura congelou no lugar. Seu cérebro rudimentar, dominado, não oferecia resistência à força mental esmagadora de Gabriel. O caçador poderia matá-la ali mesmo — mas preferiu se divertir um pouco.

— Vamos ver o quanto você aguenta sem controle — disse, desfazendo o efeito com um estalo de dedos.

O escorpião se moveu novamente, agressivo, liberando jatos de veneno ácido contra ele. Gabriel desviou com passos calmos, ativando uma barreira de vento que redirecionava os ataques. Em seguida, ergueu ambas as mãos e fez pedras gigantescas flutuarem ao redor do monstro. Com um movimento seco, esmagou-o entre duas delas.

O som do impacto ecoou pelo vale.

Quando a poeira baixou, tudo o que restava era o exoesqueleto quebrado e o núcleo venenoso que Gabriel logo recolheu.

— Dois núcleos em um único dia. Nada mal.

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Com os itens devidamente guardados, ele decidiu seguir por uma trilha pouco conhecida, nas bordas das Terras Cortadas, onde — segundo rumores entre caçadores de níveis médios — apareciam monstros ainda mais raros.

E foi lá que ele encontrou algo inesperado.

No topo de uma colina, cravado no chão como uma sentinela adormecida, havia um drone antigo, coberto por musgo e poeira. Mas seus olhos azuis ainda brilhavam fracamente.

Gabriel se aproximou cauteloso… e então o drone se ativou com um som agudo. Seus braços se abriram revelando lâminas ocultas, e uma interface holográfica surgiu acima de sua cabeça, mostrando:

DRONE GUARDIÃO MK-II — Nível 8 — Modo Defensivo Ativo

Mas para Gabriel, aquilo era só mais um teste.

Ele lançou magia de raio contra o painel do drone, danificando seu núcleo auxiliar. Em seguida, com psicocinese, puxou as lâminas de suas juntas, desmontando o inimigo parte por parte, como se estivesse desmontando um brinquedo de metal.

A máquina explodiu em faíscas e fumaça antes mesmo de chegar perto dele.

Mais um núcleo para a coleção.

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Ao final do dia, com o céu alaranjado pelo pôr do sol, Gabriel sentou-se sobre uma pedra alta, observando a paisagem.

Três monstros de nível 8, nenhum esforço real, e mais um passo em direção ao topo.

Ele sabia que ao cruzar o rank 10.000, as coisas poderiam mudar. Monstros mais inteligentes, bandidos mais ousados, talvez até convites para entrar em guildas grandes.

Mas por enquanto, ele só queria seguir caçando.

— Ainda tem muita coisa que esse mundo pode me mostrar — disse para si mesmo, antes de se levantar e desaparecer entre as sombras do vale.