Almas Sofredoras - Parte II

Ao abrir os olhos, Slady entende toda a situação.

'Eu estou muito longe de Libretãnhya... De minhas filhas...' --Pensou Slady

Ao se sentar, ainda vê o corpo inconsciente de Ferinish. Ela ainda estava fraca devido aos experimentos e as injeções feitas.

"..."

Ele se levantou e segura seu corpo em seus braços, começando a andar naquele cenário que congela até os ossos. Após alguns minutos depois, ele encontra uma cabana de madeira, parecia bastante abandonada.

Ele colocou Ferinish no chão por um momento, começando a abrir a porta daquela cabana para se encontrar com... cadáveres...

Era de uma família, um homem e uma mulher, um menino e uma menina. Pela análise de Slady, a família acabou morrendo de fome e seus corpos já estavam criando fragmentos de gelo envolta deles.

"..."

Ele suspirou, agora pensando que teria que retirar aqueles corpos...

Minutos depois, Ferinish ainda não tinha acordado e Slady já tinha enterrado os corpos. Ele abria a cabana para começar a andar pelo local, que apesar da situação deprimente, era o único lugar que ele e Ferinish poderiam estar.

A casa tinha diversos insetos. No banheiro, tinha um buraco com poça de água suja, onde provavelmente, aquela pobre família tomava seu banho.

Ele se afastou da cena, começando a retirar toda a sujeira que tinha naquela casa. Após um bom tempo de trabalho, Slady vai até um quarto, onde tinha colocado Ferinish em uma cama, que por sorte, era bem quente.

"Se só tem uma cama de casal nessa casa..."

Ele se senta na beirada da cama, tocando no colchão da cama, pensativo.

"Essa cama não é tão fundo, então as crianças dormiam aqui e o pais... no chão."

Ele não consegue evitar sentir seu coração doer por dentro, afinal, provavelmente aquela familia eram de pessoas boas, não mereciam tamanha crueldade em seu fim.

"Eu preciso achar uma forma de esquentar-me."

Slady se levanta e sai daquela cabana, suas garras mecânicas saem de dentro de suas costas, começando a cortar todas as árvores ao redor em uma velocidade absurda.

Ao cair no chão, as garras mecânicas cortam as árvores em alguns cubos, então ele começa a trazer aquele material para dentro da cabana, colocando dentro de uma laleira de tijolo e acendendo seu fogo com um taco de cigarro que tinha coletado do chão.

Aquilo foi um alívio enorme, Slady ja tinha um costume com o frio devido aos Inférius Nevascos, mas não costumava a viver no frio.

"..."

Ele fecha as janelas da cabana e a porta, se sentando na frente da laleira, que era a única fonte de luz naquela cabana. Ele retira o sobretudo e a camisa, querendo aproveitar aquele calor delicioso.

De repente, Ferinish acabou acordando, recuperando toda a sua força e olha ao redor, confusa. Ao ver Slady, seu olhar se foca em seu peito desnudo. Mas ela não sente vergonha, pois já tinha visto-o desse jeito durante o período que estavam aprisionados com os cientistas.

"Que lugar é esse?"

Ferinish coça seu cabelo bagunçado, sentindo uma tontura após o efeito das injeções. Ela se levanta devagar e se aproxima de Slady.

"É o unico lugar que temos por enquanto, se caso a gente encontrar alguma civilização nesse lugar congelado."

"Entendo."

Ferinish se senta ao lado de Slady com uma expressão e um tom naturalmente frio. Então ela começa a abrir um pouco o kinomo dela, expondo um pouco o peito.

Slady desvia o olhar por respeito. Ferinish olha para ele, apreciando o cuidado dele com a sua privacidade.

"Você pode olhar, mas não abuse da sorte."

Slady apenas concorda com a cabeça, olhando para o decote de Ferinish com desinteresse e apenas volta a olhar para a chama da laleira.

O desinteresse de Slady surpreendeu um pouco Ferinish, que apenas tinha olhares maliciosos dos cientistas em relação ao seu corpo ou poder.

"Obrigada."

Ela estufa o peito, se sentindo mais confortavel para sentir o aquecimento em seu peito

Os dois ficam em silêncio por um bom tempo, apenas aproveitando o momento entre eles.

Slady olha para a janela, enxergando a escuridão através de seu olho biônico.

"Já anoiteceu."

"Sim."

Slady se levanta, respirando fundo.

"Não há água para banho, vamos ter que nos contentar com o fedor."

Ferinish deu de ombros.

"Sem problemas."

Ela se levanta, fechando o kinomo, escondendo seu peito

"Você pode dormir na cama, eu posso dormir no chão."

"Não, pode ir na cama, eu já dormi em muitos lugares desconfortáveis."

"Você já foi gentil em me colocar na cama, deixa eu retribuir o favor."

Então...

"Vocês deveriam dormir juntos."

Truth aparece na mente de Slady, que apenas olha para ela com um olhar sem emoção.

"Seu chato."

Ela faz um bico com os lábios e cruza os braços, Slady apenas deu um olhar de perdoo á ela e volta a falar com Ferinish.

"Então porque a gente não dorme juntos? Podemos nos aquecer e ficar confortáveis."

Slady usa a ideia de Truth. Ferinish coloca a mão no queixo, pensativa.

"Sem problemas, podemos sim."

Com a discussão terminada, Slady solta um suspiro e começa a por a camisa em seu corpo e coloca o sobretudo em um canto.

***

Os dois se deitam juntos na cama, ambos olhando apenas para o teto.

"Você parece desconforta-"

"Não estou!" -- Disse Ferinish.

que apesar de não estar vermelha, estava um pouco nervosa com a aproximidade.

"É que... eu nunca dormi com ninguém..."

"A gente dormiu juntos naquela de contenção." -- Responde Slady

Ferinish se vira de frente á ele, apoiando sua cabeça em seu braço.

"A gente estava sob efeito da droga daqueles malditos."

"Tem um ponto."

Slady suspira, virando de costas para Ferinish.

"Eu não vou fazer nada que te machuque, você pode se aproximar quando quiser."

"Obrigada."

Ferinish apenas observa as costas de Slady com uma expressão fria, suas mãos quentes vão em direção as costas dele, começando a fazer desenhos invisíveis. Slady ignorou aquilo, deixando-a fazer o que quiser.

Se sentindo mais confiante, Ferinish se aproxima mais de Slady, apoiando seu peito nas costas dele e seu rosto na nuca dele, mas tentando tomar cuidado para não ser ousada.

"Estou sendo estranha assim?" -- Susurra Ferinish no ouvido dele

"Não, você apenas está pegando confiança em uma pessoa." -- Disse Slady, dando de ombros

Então a mulher se sentiu cada vez mais confortável, ainda hesitante em toca-lo e ser tocada por ele.

"Obrigada por entender, eu não estou acostumada em ser bem tratada... se eu for para ser sincera, você está sendo a primeira pessoa que não me olhou com maldade." -- Disse Ferinish com tom sincero e quase inocente.

"Eu me sinto honrado por isso."

Slady se vira de frente á Ferinish, que se assustou um pouco, mas não se afastou. Apenas manteve uma distância mais respeitosa.

'Ele parece muito assustador com esse olho dele.' -- Pensou Ferinish

"Eu vejo a falta de sono em você. Então para a gente descontrair... quer me contar o porque do medo de toque, Ferinish?"

A pergunta deu um pequeno aperto no coração de Ferinish, que se sentiu muito vulnerável. O que era irônico, uma mulher tão forte e poderosa como ela, se sentindo fraca com aquela pergunta.

"Eu vou falar, mas pode ficar apenas entre nós?"

"Sim, apenas entre nós."

Ferinish respirou fundo, olhando para Slady no fundo de seus olhos.

"Quando eu fui criada por aqueles cientistas, eles me vangloriavam como algo perfeito que eles poderiam usar para matar qualquer um que quissesem... Após cada missão, eu chegava exaustada e machucada, mas eles não deixavam eu descansar. Se eu tentasse ir contra, eles me neutralizavam e me colocavam em uma simulação de combate eterno, onde eu tinha que ficar lutando e lutando sem parar, sentindo tudo que acontecia comigo. Eu sentia meu braço, pernas, olhos, tudo sendo arrancado de mim. Mas na vida real, eu estava ilesa. E quando eles me retiravam, aqueles cientistas me colocavam em mais missão, até repetir esse mesmo processo."

Agora, com lagrimas saindo de seus olhos, ela coloca a mão sobre seu próprio braço, como se tivesse tentando proteger a si mesma.

"Por isso que não quero ser tocada por ninguém, todo toque parece doloroso, maldoso, eu não gosto disso, eu odeio ser tocada."

Slady olhava para Ferinish com inexpressividade, mas ele estava pensativo.

'Mesmo com tudo que ela passou... ela não deixou de ser uma boa mulher, ela era uma vítima, uma arma para aqueles monstros.'

"Eu sinto muito por isso, não dá pra imaginar o quão torturante deve ter sido pra você, Ferinish. Eu espero que um dia, seus traumas possam ser curados."

"Obrigada."

A frieza de seu rosto acabou desaparecendo por um momento, com Ferinish dando um pequeno, quase imperceptível, mas genuino, sorriso. Aquilo deu uma pontada no coração de Slady, até uma mulher como ela, que passou por tanto, consegue dar um sorriso e ele não é capaz disso.

"Como se sente após ter me contado esse segredo?" -- Perguntou Slady

"Eu me sinto... muito melhor." -- Responde Ferinish

Ferinish fecha os olhos, agora poderia descansar em paz naquela noite.

"Boa noite, Slady."

"Boa noite..."

Então ambos começam a entrar no estado de sono... dormindo juntos e em paz.

***

Em um reino próximo á aquela cabana, em um castelo feito de cristais de gelo, sentava-se uma mulher em seu trono. Seus cabelos eram cristalizados, seus olhos eram frios e possuam uma cor de azul escuro com uma espécie de fragmento cristalizado em sua íris. Sua roupa era um vestido que dava-lhe um ar de soberania e poder.

A porta daquela sala se abre, entrando uma mulher de cabelos azuis claros e olhos escuros, carregando uma linda lança de gelo. Sua roupa era como a de um soldado, dando-a um ar de dureza e autoridade.

"Vossa majestade..."

Ela se ajoelha á frente da mulher, apoiando seu braço em sua lança, que ao tocar ao solo, congela ao redor. A mulher sentada no trono apenas olha para a soldado, fazendo um gesto com a mão para ela continuar a fala.

"Encontramos dois intrusos próximos ao nosso reino. Devemos elimina-los?"

"Se renderem, traga-os, se lutarem, mate-os."