O dia amanheceu silencioso na mansão. O clima estava diferente, como se algo grande fosse acontecer — e estava. Paola acordou com um leve incômodo no estômago, uma mistura de nervosismo e ansiedade. Sabia que aquele dia exigiria mais do que obediência… exigiria atuação.
Felipe bateu suavemente à porta do quarto.
— Paola? Acordou? — Sua voz estava calma, mas direta.
— Sim… estou me levantando — respondeu ela, sentando-se na cama com os cabelos um pouco bagunçados.
— Hoje meus pais vêm nos visitar. Quero que você finja que é minha namorada. Entendeu?
— Sim… — ela engoliu seco.
— E mais uma coisa — continuou, entrando no quarto sem pedir permissão —, nada de perguntas ou histórias. Você vai dizer apenas o seu nome, que seus pais moram fora e que você está aqui só de passagem. O resto, eu cuido.
Ela assentiu, sentindo a pressão pesar sobre seus ombros.
Foi ao closet improvisado no quarto e escolheu uma roupa simples, como ele havia indicado anteriormente. Vestiu uma calça jeans de cintura alta, uma blusa de manga longa branca de tecido leve, e um sapatinho nude. Prendeu o cabelo num coque baixo e discreto. Nada chamativo, nada que transparecesse insegurança. Passou um leve batom rosado e pronto — simples, elegante e discreta.
Ao descer, Felipe já a esperava na sala, vestido de maneira impecável com uma camisa azul-marinho bem alinhada e uma calça preta social. Ele a observou de cima a baixo, sem dizer uma palavra. Apenas assentiu com a cabeça.
— Eles já estão vindo. Se comporta, entendeu?
Minutos depois, a campainha tocou. Paola congelou. O coração batia como um tambor. Felipe caminhou até a porta e abriu com um sorriso.
— Mãe, pai. Que bom ver vocês!
Dona Helena Albuquerque, uma mulher elegante de cerca de 55 anos, cabelos loiros bem cuidados e olhar gentil, foi a primeira a entrar.
— Meu filho! Que saudades! — disse, abraçando-o com entusiasmo.
Logo atrás, veio o pai, Augusto Albuquerque, alto, imponente, vestindo um blazer escuro e uma expressão séria, mas cordial.
— Felipe. Está mais magro. Está se alimentando direito? — perguntou com a austeridade típica de um patriarca tradicional.
Paola se manteve atrás, um passo em silêncio, até que Felipe puxou sua mão e a apresentou:
— Esta é Paola… minha namorada.
Helena sorriu calorosamente.
— Ah, então é você! Mas que menina linda! Prazer, querida! — disse, estendendo a mão.
Paola apertou suavemente, sorrindo timidamente.
— O prazer é meu, senhora Helena.
— Pode me chamar só de Helena, minha flor — respondeu a mulher, encantada com o jeito recatado de Paola.
Felipe guiou todos até a sala de jantar, onde a mesa já estava posta. Na cabeceira, estava Heitor Albuquerque, irmão mais novo de Felipe, 28 anos, terno claro, cabelos escuros bem penteados, olhar penetrante e sorriso simpático. Ao ver Paola, ele congelou por um segundo. Seus olhos se fixaram nos dela.
— Mano… que mulher linda você arranjou. Nunca pensei que você ia desencalhar — disse com um sorriso provocador, fazendo Felipe revira os olhos.
— Heitor, como sempre, inconveniente — retrucou Felipe, sentando-se.
— Só tô elogiando. E com razão — disse, sorrindo para Paola.
Ela sorriu timidamente, abaixando o olhar.
Durante o café, Helena fez perguntas suaves.
— E seus pais, querida?
— Eles moram fora… trabalham muito. Eu vim passar um tempo, conhecer a cidade — respondeu, como havia ensaiado.
Felipe completou:
— A gente se conheceu há pouco tempo. Foi… por acaso. Mas desde então, não desgrudamos.
Augusto pigarreou.
— Felipe, você já tem 30 anos. Está na hora de pensar em família, casamento… netos. Não pode viver sozinho nessa mansão o resto da vida.
Felipe respirou fundo.
— Estamos indo com calma, pai.
Enquanto a conversa fluía, Heitor continuava olhando para Paola com fascínio. O jeito dela, a postura, a voz calma — tudo nele parecia hipnotizado.
Quando a visita terminou, e os pais foram embora, Felipe ficou em silêncio por um tempo. Paola subiu para o quarto, aliviada por ter sobrevivido àquele encontro sem tropeços. Mas no olhar de Heitor, havia algo a mais. E talvez esse olhar fosse apenas o começo de um novo conflito...