Capítulo 4: A Revelação
Narrado por Isabel
Eu nunca imaginei que uma noite comum pudesse carregar tanto peso. Estávamos todos reunidos na sala, ainda tentando digerir os fragmentos de lembranças trazidos pelo aniversário de Teresa. As fotos, os silêncios, os olhares... Tudo parecia sussurrar uma verdade escondida. Mas nada me preparou para o que estava por vir.
Teresa pigarreou suavemente, como se estivesse carregando um segredo há anos. Olhou para mim com uma ternura que misturava dor e coragem. Depois, seus olhos varreram a sala, pousando nos meus irmãos, que estavam tão desconfiados quanto silenciosos.
Foi então que ela disse:
— Isabel nasceu depois que perdi um bebê.
O mundo parou. Lembro-me de ter sentido uma fisgada no estômago, como se algo que sempre esteve dentro de mim finalmente tivesse encontrado nome. Teresa continuou, cada palavra marcada por uma emoção contida:
— Eu não sabia que ainda podia amar depois daquela dor. Quando Isabel chegou… foi como se meu coração tivesse recebido um sopro de vida de novo. Ela não era a minha filha favorita. Era o que sobrou da esperança.
Senti um nó na garganta. Aquelas palavras não me engrandeciam — me desnudavam. Eu não era mais o centro do ciúme dos meus irmãos. Eu era o lembrete de uma perda que ninguém nunca soube que existia.
Olhei para os meus irmãos. Pela primeira vez, vi neles algo diferente: choque, talvez até compaixão. Não houve acusações, nem defesas. Só o peso do silêncio. Um silêncio que, por um instante, uniu todos nós.
Naquele momento, compreendi. Eu não era amada mais — era amada diferente. A minha existência carregava um significado que ia além de mim. Eu era o ponto de luz no meio da escuridão da minha mãe. E, estranhamente, isso me fez sentir mais humana, mais próxima deles. Pela primeira vez, não me senti isolada. Senti-me inteira.