Capítulo 5: As Feridas Invisíveis
Narrado por Isabel
Depois da revelação de Teresa, a casa mergulhou num silêncio diferente. Não era mais aquele silêncio duro, repleto de julgamentos invisíveis. Era um silêncio reflexivo, quase vulnerável. Meus irmãos evitavam meus olhos, mas não com hostilidade — e sim com dúvida, como se estivessem, finalmente, tentando me enxergar por outra lente.
Na manhã seguinte, encontrei Miguel na cozinha, parado diante da chaleira fervendo, como se o vapor pudesse responder algo. Quando ele se virou para mim, seus olhos estavam baixos.
— Eu… nunca imaginei que a mãe tivesse passado por isso — murmurou.
Sentei em silêncio à sua frente. Não havia o que dizer. Eu mesma ainda estava processando tudo.
Pouco depois, Clara entrou. Normalmente, ela passaria direto, talvez lançando um olhar rápido e indiferente. Mas, naquele dia, ela hesitou, sentou-se conosco, e o quebrou-se uma barreira que parecia eterna.
— Fomos duros contigo — ela disse, sem rodeios. — Achávamos que eras a preferida… Nunca pensamos que tu também carregavas um peso.
Ouvir isso doía e aliviava ao mesmo tempo. Porque, sim, eu sempre carreguei algo. Uma sensação de estar no centro e, ao mesmo tempo, à margem. Sempre tentando entender por que o amor da mãe por mim parecia despertar ressentimento ao invés de acolhimento.
— Talvez todos tenhamos feridas que ninguém vê — respondi, com a voz embargada.
Era verdade. Cada um de nós tinha um silêncio, uma perda, uma ausência que moldou a forma como sentimos e reagimos. O que nos faltava não era amor. Era compreensão.
Naquele dia, não houve abraços nem grandes gestos. Mas houve escuta. Houve o início de algo novo. Pela primeira vez, meus irmãos me olharam como alguém real, não como um espelho da dor deles.
E eu, finalmente, deixei de me sentir culpada por ter sido amada.