Capítulo 7 A Reconciliação

Capítulo 7: Reconciliação

Narrado por Isabel

O silêncio daquela tarde era diferente. Não era o silêncio de quem evita — era o de quem espera. Sentei-me no sofá com o diário da mãe ainda quente nas minhas mãos, como se a tinta tivesse acabado de secar. Meus irmãos estavam ali, juntos, quase imóveis, como se sentissem que algo importante estava prestes a acontecer.

Respirei fundo. Meu coração batia com a força de anos contidos.

— Encontrei o diário da mãe — comecei. — Ela escreveu sobre cada um de nós. Mas, principalmente, sobre as dores que nunca teve coragem de dizer em voz alta.

Miguel desviou o olhar. Clara apertou os dedos entrelaçados no colo.

— Ela não me amava mais — continuei. — Me amava com medo. Com gratidão. Com culpa. Eu fui, para ela, o que restou depois de uma perda sem nome. Não era favoritismo. Era sobrevivência.

Vi lágrimas escorrendo silenciosas pelo rosto de Clara. Miguel fechou os olhos, engolindo o que não conseguia dizer.

— Nós fomos injustos contigo — ele disse por fim, com a voz embargada. — Achávamos que tu tinhas tudo, quando na verdade carregavas sozinha a parte mais pesada da dor dela.

Foi então que Teresa entrou na sala. Seus olhos percorreram cada um de nós, e, ao ver o diário nas minhas mãos, ela entendeu. Não precisou de explicações.

— Mãe — falei, com a voz trêmula —, agora nós sabemos.

Ela sentou-se ao nosso lado e nos olhou com uma serenidade que só se conquista depois de muita dor.

— Nunca houve filhos favoritos — disse, com os olhos úmidos. — Houve feridas diferentes em cada um de vocês. E amor… amor igual, mesmo que tenha se mostrado de formas diferentes.

Nos abraçamos ali mesmo. Entre lágrimas, palavras partidas e promessas silenciosas. Pela primeira vez, nos olhamos não como rivais, mas como sobreviventes de uma mesma história mal contada.

Naquele momento, senti que a culpa começava a se dissolver. O amor, enfim, começava a se reorganizar.