Capítulo 8 Onde o Amor Mora

Capítulo 8: O Último Capítulo — Onde o Amor Mora

A casa estava silenciosa naquela manhã, mas não era o silêncio de antes. Era outro. Um silêncio em paz.

Sentei no sofá com uma xícara de café entre as mãos e observei a luz entrar pela janela. Por tantos anos, aquele lugar foi palco de mágoas silenciosas, de disputas invisíveis, de palavras engolidas. Hoje, parecia apenas... casa. Como se, finalmente, tivesse se permitido ser o que sempre tentou: um lar.

Miguel entrou com seu jeito calado, mas os olhos cheios de coisas que ele ainda aprende a dizer. Clara veio logo depois, com um bolo recém-saído do forno. E minha mãe — Teresa — chegou em silêncio, como quem sabe que não precisa mais controlar tudo.

Nos sentamos juntos, rimos de histórias que antes doíam, lembramos de cenas que agora já não tinham espinhos. Pela primeira vez, senti que pertencíamos uns aos outros, não pela dor, mas pela escolha.

— Sabes, Isabel — disse minha mãe, com a voz embargada —, se eu pudesse voltar, teria feito tudo diferente. Mas talvez a gente tenha precisado passar por tudo isso pra chegar aqui.

Olhei pra ela, e depois pros meus irmãos.

— Talvez o importante não seja o que vivemos — respondi. — Mas o que escolhemos fazer com isso agora.

Nos abraçamos. Sem pressa. Sem peso.

E eu soube, ali, que a história da “filha favorita” tinha acabado. Não porque alguém venceu. Mas porque, enfim, todos nós entendemos que não era uma competição. Era só amor tentando existir do jeito que podia, em meio a tanta dor que ninguém soube nomear.

Levantei, caminhei até a janela e, ao olhar lá fora, senti algo dentro de mim se assentar.

A dor fez parte da nossa história. Mas o perdão escreveu o fim.

E que fim bonito foi.