Não pensei que um café pudesse mudar tanto. Mas, desde aquele reencontro com Jonas, algo dentro de mim se rearranjou. Não era só sobre ele. Era sobre mim. Sobre quem eu estava me permitindo ser, agora que já não precisava viver na defensiva o tempo todo.
Nos dias seguintes, trocamos algumas mensagens. Coisas simples. Memes, links de livros, perguntas bobas como “preferes chuva ou sol?”. Mas cada interação carregava uma leveza que eu nunca tive coragem de experimentar. Era como se estivéssemos escrevendo uma história nova com a caneta da liberdade, sem a pressão do passado nem a culpa do silêncio.
Na quarta-feira, ele me chamou para jantar. Aceitei. Não hesitei. E, só isso, já foi uma vitória sobre a Isabel antiga — a que fugia de qualquer coisa que parecesse promissora demais.
Vestida com um vestido simples e o cabelo solto, me olhei no espelho e quase não me reconheci. Não pela roupa ou pela maquiagem, mas pelo brilho nos olhos. Um brilho que não era de esperança alheia, nem de falsa expectativa. Era meu. Genuíno. Sutil. Mas real.
Nos encontramos num restaurante tranquilo, sem pretensões. Ele sorriu ao me ver, como se o simples fato de eu estar ali fosse suficiente. E talvez fosse mesmo.
— Cada vez que te vejo, parece que o tempo volta e avança ao mesmo tempo — ele disse, depois de pedirmos a comida.
— É estranho, não é? — respondi. — Parece que nos conhecemos desde sempre, mas também estamos nos descobrindo de novo.
— Talvez seja isso o que torna tudo mais bonito.
Conversamos por horas. Rimos, trocamos confidências, falamos sobre as decisões que nos trouxeram até aqui. Em um momento mais sério, ele segurou minha mão e disse:
— Não quero apressar nada, Isabel. Mas quero que saibas que estou aqui. Que não vou desaparecer como tudo o que já te fizeram acreditar. Estou aqui, escolhendo ficar.
Meu coração apertou. Não por medo, mas por reconhecimento. Por ver que alguém estava ali, não tentando me consertar, mas disposto a me acompanhar enquanto eu me reconstruía.
— Obrigada — sussurrei. — Eu ainda me assusto com coisas simples. Mas quero aprender a ficar também. Quero tentar, mesmo com medo.
Ele sorriu, como quem entende. Como quem espera.
Voltando para casa naquela noite, olhei para as luzes da cidade com um sentimento que há muito tempo eu não conhecia: paz. Não era euforia, nem paixão desenfreada. Era uma sensação serena de estar onde eu devia estar.
Chegando em casa, mamã estava na sala, dobrando roupas. Sentou-se ao meu lado no sofá e me olhou com aquele olhar de quem sabe mais do que diz.
— Saíste com Jonas, não foi?
Assenti. Não havia como esconder.
Ela sorriu com ternura. — Sempre gostei dele. Tinha um jeito calmo, mas firme. Como quem sabe onde pisa.
—Ele voltou... e está sendo gentil. Não sei onde isso vai dar, mas, pela primeira vez, estou me permitindo tentar.
Mamã tocou minha mão. — Filha, tu passaste tanto tempo tentando não ser um peso para ninguém, que esqueceste que também tens direito de ser cuidada. Amor não é obrigação. É presença. E se ele está presente, mesmo sabendo das tuas cicatrizes, então é porque está escolhendo te amar como és.
As lágrimas vieram sem que eu pudesse controlar. Pela primeira vez, me senti completamente compreendida. Não como filha, não como símbolo. Mas como mulher.
Naquela noite, antes de dormir, escrevi:
"É assustador permitir-se ser feliz depois de uma vida tentando apenas sobreviver. Mas quando o coração encontra um lugar seguro, ele aprende a ficar. Aprende que há amor também nos começos lentos, nos gestos suaves, nos reencontros sem exigências."
Adormeci com a sensação de que, pela primeira vez, eu estava construindo uma história que era só minha — e que, mesmo com medo, eu estava disposta a vivê-la.