Capítulo 25 A verdade que esperou Demais

Era fim de tarde quando o telefone tocou.

O número não estava salvo, mas a sensação de desconforto foi imediata. Atendi sem pensar.

— Isabel? Aqui é a Ana. Precisamos conversar.

O nome veio como uma lâmina. Ana. A mulher que Jonas havia deixado pouco antes de me reencontrar. A mulher que, segundo ele, tinha ficado para trás.

— Como conseguiu meu número? — perguntei, tentando manter a voz firme.

— Jonas te bloqueou da parte da história que mais importa. Mas a verdade encontra caminho. Sempre encontra.

Ela desligou antes que eu pudesse responder.

Fiquei ali, parada, com o telefone ainda no ouvido. O coração disparado. As mãos frias.

Naquela noite, Jonas ligou por videochamada, como de costume.

— Está tudo bem? — ele perguntou ao notar meu rosto.

— Recebi uma ligação hoje. Da Ana.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos. Depois soltou um suspiro longo, cansado.

— Ela não vai parar...

— O que ela quer, Jonas?

Ele hesitou. — Disse que menti para ti?

— Não. Disse que escondeste a parte mais importante da história.

A expressão dele mudou. Não era surpresa. Era medo.

— Isabel... antes de ti, Ana e eu não estávamos apenas noivos. Estávamos tentando adotar uma criança.

O silêncio entre nós virou um abismo.

— Quando tudo desmoronou, ela perdeu a guarda da menina por causa da instabilidade emocional. E ela... ela me culpa até hoje por isso.

— Por que nunca me contaste? — sussurrei.

— Porque eu quis te proteger desse passado. Porque estava com medo de que isso te afastasse.

Levantei-me, o estômago apertado.

— Jonas, eu não sou uma criança. Não sou alguém que precisa ser poupada de verdades. Eu fui construída com elas.

Ele tentou se explicar, mas eu já tinha encerrado a chamada.

Na manhã seguinte, Ana me esperava à saída da biblioteca. Vestia preto. Um sorriso cínico nos lábios.

— Agora sabes.

— Sei, mas ainda não entendi por que vieste até mim.

Ela se aproximou, o olhar duro.

— Porque ele faz isso. Constrói a própria versão da história. E destrói quem não entra no enredo dele.

— Achas que estou do teu lado agora?

— Acho que tu mereces saber que ele não é tão puro quanto parece. E que há coisas no passado dele que nunca te foram contadas. Nem serão, se depender dele.

Ela tirou um envelope da bolsa e me entregou.

— Isso é só o começo.

Virou-se e foi embora.

Fiquei com o envelope na mão, sem coragem de abrir.

Naquela noite, sentei-me diante do caderno da mamã. Escrevi:

"O amor mais bonito que já vivi agora começa a doer. E não sei se dói por ter sido real... ou por nunca ter sido completo."

Fechei os olhos.

O amor sempre foi uma escolha.

Mas às vezes, é também um risco.

E eu, que tantas vezes fui abandonada pela verdade, agora precisava decidir se era forte o suficiente para enfrentá-la — mesmo que isso significasse perder quem aprendi a amar.