Capítulo 27 A menina que trazia o silêncio

Os dias que se seguiram à partida de Jonas foram estranhos. Não tristes. Apenas... vazios.

Como quando alguém fecha a porta de um cômodo e, por um tempo, o som parece continuar lá dentro. Até não restar nada.

Mas eu não me permiti parar. Continuei o trabalho. Continuei a responder às mensagens da Lara. Continuei a abrir o caderno da mamã todas as noites, mesmo quando não escrevia nada. Só para lembrar que ainda havia alguma coisa minha ali.

Até que recebi o e-mail.

“Prezada Isabel, sou assistente social do Instituto São Rafael. A menina a quem o senhor Jonas esteve legalmente vinculado há anos expressou desejo de conhecê-lo. Ele indicou que você poderia ajudá-la a compreender tudo com delicadeza. Esperamos sua resposta.”

Senti um frio na espinha.

Ele não teve coragem de encarar o passado... mas me deu como referência.

E, mais do que isso, a menina — agora com doze anos — queria respostas. E talvez, sem saber, quisesse paz.

Passei dois dias olhando para a mensagem. Depois, respondi.

“Estou disposta a conversar com ela. Desde que seja escolha dela. E não imposição de ninguém.”

O encontro foi marcado para a sexta-feira, numa sala discreta do instituto.

Cheguei antes do horário.

Ela entrou devagar, cabelo preso num laço frouxo, olhos escuros como os meus quando criança. Sentou-se sem falar. Não desviava o olhar.

— Oi — disse.

— Oi — ela respondeu. Voz fina, mas firme.

— Sabes por que estás aqui?

Ela assentiu.

— Tu conheceste ele, não é?

— Sim.

— Ele era bom contigo?

Respirei fundo.

— Foi. Mas errou. E quando alguém erra e não conserta, deixa buracos nos outros.

Ela pareceu absorver aquela frase.

— Ele me deixou. E agora manda uma estranha no lugar. Mas... tu não pareces estranha.

Engoli em seco.

— Talvez porque eu também fui deixada, um dia. E sei como isso molda a gente.

Ficamos em silêncio por um tempo.

Depois ela disse:

— Chamo-me Sofia.

— Prazer, Sofia.

— E tu? Ainda gostas dele?

Fechei os olhos por um segundo. Depois encarei-a com ternura.

— Gosto do que achei que ele podia ser. Mas gosto mais de mim, agora.

Ela sorriu de leve.

— Eu também quero gostar de mim. Mesmo sem ele.

Naquela noite, sentei-me à escrivaninha e escrevi no caderno da mamã:

"Hoje, abracei o passado que não era meu. E encontrei, no olhar de uma menina, a força que pensei ter perdido. Talvez amar seja isso: continuar... mesmo quando os outros param no meio."

Nos dias seguintes, troquei mensagens com Sofia. Ela me mandava poemas curtos. Desenhos. Pequenos fragmentos da vida que começava a confiar em mim.

Jonas tentou ligar.