Os dias que se seguiram à partida de Jonas foram estranhos. Não tristes. Apenas... vazios.
Como quando alguém fecha a porta de um cômodo e, por um tempo, o som parece continuar lá dentro. Até não restar nada.
Mas eu não me permiti parar. Continuei o trabalho. Continuei a responder às mensagens da Lara. Continuei a abrir o caderno da mamã todas as noites, mesmo quando não escrevia nada. Só para lembrar que ainda havia alguma coisa minha ali.
Até que recebi o e-mail.
“Prezada Isabel, sou assistente social do Instituto São Rafael. A menina a quem o senhor Jonas esteve legalmente vinculado há anos expressou desejo de conhecê-lo. Ele indicou que você poderia ajudá-la a compreender tudo com delicadeza. Esperamos sua resposta.”
Senti um frio na espinha.
Ele não teve coragem de encarar o passado... mas me deu como referência.
E, mais do que isso, a menina — agora com doze anos — queria respostas. E talvez, sem saber, quisesse paz.
Passei dois dias olhando para a mensagem. Depois, respondi.
“Estou disposta a conversar com ela. Desde que seja escolha dela. E não imposição de ninguém.”
O encontro foi marcado para a sexta-feira, numa sala discreta do instituto.
Cheguei antes do horário.
Ela entrou devagar, cabelo preso num laço frouxo, olhos escuros como os meus quando criança. Sentou-se sem falar. Não desviava o olhar.
— Oi — disse.
— Oi — ela respondeu. Voz fina, mas firme.
— Sabes por que estás aqui?
Ela assentiu.
— Tu conheceste ele, não é?
— Sim.
— Ele era bom contigo?
Respirei fundo.
— Foi. Mas errou. E quando alguém erra e não conserta, deixa buracos nos outros.
Ela pareceu absorver aquela frase.
— Ele me deixou. E agora manda uma estranha no lugar. Mas... tu não pareces estranha.
Engoli em seco.
— Talvez porque eu também fui deixada, um dia. E sei como isso molda a gente.
Ficamos em silêncio por um tempo.
Depois ela disse:
— Chamo-me Sofia.
— Prazer, Sofia.
— E tu? Ainda gostas dele?
Fechei os olhos por um segundo. Depois encarei-a com ternura.
— Gosto do que achei que ele podia ser. Mas gosto mais de mim, agora.
Ela sorriu de leve.
— Eu também quero gostar de mim. Mesmo sem ele.
Naquela noite, sentei-me à escrivaninha e escrevi no caderno da mamã:
"Hoje, abracei o passado que não era meu. E encontrei, no olhar de uma menina, a força que pensei ter perdido. Talvez amar seja isso: continuar... mesmo quando os outros param no meio."
Nos dias seguintes, troquei mensagens com Sofia. Ela me mandava poemas curtos. Desenhos. Pequenos fragmentos da vida que começava a confiar em mim.
Jonas tentou ligar.