Capítulo 32 O homem que não sabia cair

Foi numa madrugada fria que ele me acordou com os olhos vermelhos.

Jonas tremia. Suava. O peito arfando como quem não consegue conter algo que finalmente rompeu.

— Preciso te contar uma coisa — disse, com a voz mais baixa que já ouvi sair dele.

Sentei-me na cama, ainda confusa.

— Diz.

— Eu tive uma crise hoje. No caminho pra casa. Parei o carro e chorei. Sozinho. Achei que ia desmaiar. Pensei em te ligar. Mas tive vergonha.

— Vergonha de mim?

— De ser fraco.

Aquela palavra me partiu.

— Jonas… desde quando amar me obriga a ver-te forte o tempo todo?

Ele cobriu o rosto com as mãos.

— Porque tu já suportaste tanto. E eu... eu devia ser teu descanso. E agora sou mais um problema.

Abracei-o. Forte. Como quem quer segurar alguém no limite.

— Tu não és problema. És humano. E eu não estou aqui para ter um homem inabalável. Estou aqui porque me ensinaste que o amor é escolha. Então escolhe ficar. Mesmo quando caias.

Nos dias seguintes, Jonas se fechou um pouco. Falava menos. Dormia menos. Tentava sorrir para mim — mas eu via o esforço.

Até que um dia, não apareceu para jantar.

Mandei mensagem.

“Onde estás?”

Duas horas depois, ele respondeu:

“Precisei sumir. Estou num hotel. Não quero te machucar com a minha queda.”

E foi aí que compreendi: Jonas não tinha medo de mim.

Tinha medo de repetir o que viveu com Ana.

De se tornar ausente. Frágil. Abandonável.

Fui atrás dele.

Bati à porta do quarto 207.

Ele abriu com olhos vazios.

— Estou a tentar te proteger — disse.

— Mas ao me afastar, estás me ferindo. Eu não sou Ana. E tu não és o mesmo homem. A menos que escolhas ser.

Ele caiu no chão, de joelhos. Pela primeira vez, vi Jonas quebrado. Por inteiro.

Sentei ao lado dele. Sem dizer nada.

Ficamos ali por horas. De mãos dadas. No chão.

Como dois sobreviventes de um naufrágio, esperando que o mar se acalme.

Nos dias que seguiram, ele aceitou ajuda. Começou terapia semanal. Parou de fingir força. E isso... paradoxalmente, o tornou mais forte.

— Agora entendo o que fiz contigo — ele disse um dia. — Tentei te proteger da verdade. Mas era eu quem não sabia carregá-la.

— E agora?

— Agora, quero carregar contigo. Não como armadura. Mas como verdade.

No caderno da mamã, escrevi:

"Os homens que choram diante de nós não são fracos. São corajosos o suficiente para não nos poupar da verdade. E o amor que sobrevive ao colapso... é o que merece ficar."

E ficou.

Jonas ficou.

Não por obrigação.

Mas por escolha.

E eu, pela primeira vez, me senti escolhida com verdade.

Sem esconderijo. Sem herói. Sem salvação.

Apenas amor.

Do tipo que aceita a queda — e a reconstrói.