Capítulo 37 Quando a verdade se move

A mensagem anônima ficou na minha mão durante horas. O papel tremia junto com os meus dedos.

"Se me tirarem daqui, vou derrubar tudo. Começando pela tua família, Isabel."

Era o tipo de ameaça que vinha com raiva... ou com verdades enterradas.

Na manhã seguinte, Lara e eu sentamos para revisar toda a papelada do último mês. Bianca havia manipulado relatórios, inventado nomes de doadores fantasmas e simulado compras falsas. A diretoria do centro cultural estava em choque. Mas ninguém, além de Lara, teve coragem de agir com firmeza.

— E se ela souber algo mesmo? — sussurrou Lara. — Algo sobre ti… ou o Jonas?

— Então que fale. Eu não vivo mais à sombra de ninguém. Nem dos meus erros, nem dos dos outros.

Lara sorriu, um sorriso pequeno, mas cheio de força.

— Estás mais forte.

— Não. Estou mais cansada. E às vezes, isso nos obriga a criar coragem.

Naquela tarde, recebi uma ligação do advogado do centro cultural. Bianca havia contratado um representante legal. E estava exigindo uma reunião formal.

— Ela quer negociar? — perguntei.

— Ela quer... se proteger. Mas me disse algo estranho: “A Isabel não é quem pensa que é. Nem a irmã dela.”

Aquilo foi como um soco. E não por mim. Mas por Clara.

Fui até a casa dela. Clara morava num pequeno apartamento sobre uma padaria, o cheiro constante de pão fresco quase escondia a tensão no ar. Ela me recebeu sem sorrisos.

— O que foi agora?

— Bianca. Ela disse que tu também tens algo a esconder.

Clara empalideceu.

— Está a mentir.

— Clara…

— Eu juro. Não tenho nada com essa mulher. Só a vi no centro cultural.

— Mas tens algo que ela pode usar contra mim?

Ela hesitou.

— Não contra ti. Mas… lembra da Letícia? A moça da ONG que desapareceu?

Assenti, o coração apertado.

— Eu a conheci. Estivemos juntas numa clínica de reabilitação, anos atrás. Eu… eu estive internada. Tu não sabias porque a mãe me implorou para esconder. Letícia era minha colega de quarto. E um dia… contou que amava um homem mais velho. Um “mentor” que a afastou de tudo. Eu não sabia que era o Jonas. Só percebi agora, ligando as peças.

Senti o chão desaparecer de novo. Não por raiva — mas por não ter sido avisada.

— Por que nunca contaste?

— Porque me envergonhava. De tudo. Da clínica. Do fracasso. Do silêncio da nossa família.

Ela chorava agora. E eu também.

— Clara… eu nunca quis te afastar.

— Eu sei. Mas nós duas passamos a vida tentando ser perfeitas por fora e sobrevivendo por dentro.

Nos abraçamos. E pela primeira vez em anos… não havia cobrança. Só perdão.

No dia seguinte, fui até a reunião com Bianca. Ela estava acompanhada por um advogado elegante, mas seus olhos continuavam arrogantes.

— Vim para proteger minha imagem — ela disse. — E, quem sabe, abrir algumas verdades esquecidas.

— Pode dizer o que quiser — respondi. — A verdade não me assusta.

— Sabes que o Jonas manipulou relatórios. Sabes que tua irmã teve colapsos mentais. E sabes que o teu nome é construído sobre uma imagem controlada. Se me expulsarem daqui, abro tudo à imprensa.

— Então abre — respondi. — Porque o que me mantém de pé não é a aparência. É a dor que sobrevivi. E a verdade… também me pertence.

Ela não esperava aquilo.

— Achas que vais sair limpa?

— Não. Mas vou sair livre.

A diretoria decidiu demiti-la formalmente naquela tarde. Bianca saiu do centro cuspindo ameaças. Mas sem provas. E sem apoio.

Naquela noite, Jonas me esperava na varanda, com duas taças de vinho.

— Corajosa — ele disse, ao me ver.

— Não me sinto corajosa

A mensagem anônima ficou na minha mão durante horas. O papel tremia junto com os meus dedos.

"Se me tirarem daqui, vou derrubar tudo. Começando pela tua família, Isabel."

Era o tipo de ameaça que vinha com raiva... ou com verdades enterradas.

Na manhã seguinte, Lara e eu sentamos para revisar toda a papelada do último mês. Bianca havia manipulado relatórios, inventado nomes de doadores fantasmas e simulado compras falsas. A diretoria do centro cultural estava em choque. Mas ninguém, além de Lara, teve coragem de agir com firmeza.

— E se ela souber algo mesmo? — sussurrou Lara. — Algo sobre ti… ou o Jonas?

— Então que fale. Eu não vivo mais à sombra de ninguém. Nem dos meus erros, nem dos dos outros.

Lara sorriu, um sorriso pequeno, mas cheio de força.

— Estás mais forte.

— Não. Estou mais cansada. E às vezes, isso nos obriga a criar coragem.

Naquela tarde, recebi uma ligação do advogado do centro cultural. Bianca havia contratado um representante legal. E estava exigindo uma reunião formal.

— Ela quer negociar? — perguntei.

— Ela quer... se proteger. Mas me disse algo estranho: “A Isabel não é quem pensa que é. Nem a irmã dela.”

Aquilo foi como um soco. E não por mim. Mas por Clara.

Fui até a casa dela. Clara morava num pequeno apartamento sobre uma padaria, o cheiro constante de pão fresco quase escondia a tensão no ar. Ela me recebeu sem sorrisos.

— O que foi agora?

— Bianca. Ela disse que tu também tens algo a esconder.

Clara empalideceu.

— Está a mentir.

— Clara…

— Eu juro. Não tenho nada com essa mulher. Só a vi no centro cultural.

— Mas tens algo que ela pode usar contra mim?

Ela hesitou.

— Não contra ti. Mas… lembra da Letícia? A moça da ONG que desapareceu?

Assenti, o coração apertado.

— Eu a conheci. Estivemos juntas numa clínica de reabilitação, anos atrás. Eu… eu estive internada. Tu não sabias porque a mãe me implorou para esconder. Letícia era minha colega de quarto. E um dia… contou que amava um homem mais velho. Um “mentor” que a afastou de tudo. Eu não sabia que era o Jonas. Só percebi agora, ligando as peças.

Senti o chão desaparecer de novo. Não por raiva — mas por não ter sido avisada.

— Por que nunca contaste?

— Porque me envergonhava. De tudo. Da clínica. Do fracasso. Do silêncio da nossa família.

Ela chorava agora. E eu também.

— Clara… eu nunca quis te afastar.

— Eu sei. Mas nós duas passamos a vida tentando ser perfeitas por fora e sobrevivendo por dentro.

Nos abraçamos. E pela primeira vez em anos… não havia cobrança. Só perdão.

No dia seguinte, fui até a reunião com Bianca. Ela estava acompanhada por um advogado elegante, mas seus olhos continuavam arrogantes.

— Vim para proteger minha imagem — ela disse. — E, quem sabe, abrir algumas verdades esquecidas.

— Pode dizer o que quiser — respondi. — A verdade não me assusta.

— Sabes que o Jonas manipulou relatórios. Sabes que tua irmã teve colapsos mentais. E sabes que o teu nome é construído sobre uma imagem controlada. Se me expulsarem daqui, abro tudo à imprensa.

— Então abre — respondi. — Porque o que me mantém de pé não é a aparência. É a dor que sobrevivi. E a verdade… também me pertence.

Ela não esperava aquilo.

— Achas que vais sair limpa?

— Não. Mas vou sair livre.

A diretoria decidiu demiti-la formalmente naquela tarde. Bianca saiu do centro cuspindo ameaças. Mas sem provas. E sem apoio.

Naquela noite, Jonas me esperava na varanda, com duas taças de vinho.

— Corajosa — ele disse, ao me ver.

— Não me sinto corajosa. Só… exausta.

— Fico mais orgulhoso de ti cada dia.

— Mesmo depois de tudo?

— Principalmente por isso.

Nos sentamos em silêncio. O céu estava limpo. O tipo de céu raro, que parecia merecido depois de tanta tempestade.

— Jonas… posso te fazer uma pergunta que talvez doa?

— Podes.

— Tu ainda pensas na Letícia?

Ele ficou em silêncio por alguns segundos.

— Penso. Não como amor. Mas como culpa. E aprendizado. Penso em como eu era imaturo. Como feri sem querer. E como deixei que o medo me definisse.

— E hoje?

— Hoje… penso em ti. Em nós. Em como a tua força me dá uma segunda chance de ser um homem inteiro.

Me aproximei. Encostei minha cabeça em seu ombro.

— Só quero viver com verdade. Mesmo que doa. Mesmo que rache tudo.

— Rachaduras… são onde a luz entra, Isabel.

Sorrimos. E brindamos, não ao final dos problemas — mas à coragem de enfrentá-los.