Volume 2: As Filhas Que Restaram
Capítulo 80: O Túmulo, o Dossiê e o Peso da Verdade
Narrado por Isabel
O amanhecer trouxe o som da chuva fina contra a vidraça.
Beatriz me enviou uma única mensagem:
“Quero ir ao túmulo dela.
Sozinha.
Mas preciso que me digas onde está.”
Demorei a responder.
O túmulo de Teresa não era apenas um lugar.
Era um segredo.
Enterrada sob o nome falso que ela mesma escolheu para despistar os arquivos da antiga Aliança: “Helena Rosa.”
Enviei a localização.
E esperei o silêncio.
Horas depois, Beatriz me ligou.
— Levei flores.
Mas não chorei.
— Por quê?
— Porque chorar é pra quem perdeu alguém.
E eu… nunca tive.
Fiquei em silêncio.
Ela continuou:
— Mas agradeci.
Porque mesmo ausente…
ela me fez existir.
No fim da tarde, recebi uma ligação de um número oculto.
Atendi.
Uma voz masculina, segura e fria, falou:
— Isabel Guarda. Aqui é Leonel Palma, jornalista da Revista Claridade.
Estou em posse de um dossiê completo sobre os filhos ocultos de Teresa Guarda.
Senti o sangue gelar.
— Quem te deu isso?
— Alguém que trabalhou dentro da Fundação.
Sei sobre Lou. Sobre Beatriz. Sobre os registros rasurados.
E mais: sei que Teresa financiou operações não declaradas.
Posso publicar amanhã.
Respirei fundo.
— E por que me ligas antes?
— Porque estou a te oferecer algo raro:
a chance de contar antes da imprensa destruir.
Desliguei sem prometer nada.
Corri até Vera.
— O vazamento é real.
Alguém da antiga equipe entregou tudo.
E agora… vão expor não só a Teresa, mas as meninas.
Vera ficou pálida.
— O que vais fazer?
— Contar a verdade.
Mas à nossa maneira.
Reuni Lou, Vivian, Lara, Clara, Beatriz e Júlia.
Todas sentadas. Nenhuma igual.
Mas todas… filhas de algo que as antecede.
— Vão publicar um dossiê.
E tudo será exposto.
As origens. Os segredos. Os erros.
Beatriz respirou fundo.
— Que publiquem.
Vivian fechou a cara.
— Vão nos usar como espetáculo.
Clara respondeu:
— Então façamos do espetáculo um ato nosso.
Lou disse baixo:
— Podemos escrever nossa versão.
Um manifesto.
Assinado por todas.
Olhei ao redor.
Seis mulheres.
Tão diferentes.
E tão marcadas por uma mãe que nunca foi só delas.
— Vamos escrever juntas — disse eu.
— Antes que o mundo escreva por nós.
Naquela noite, começamos:
“Não somos filhas legítimas.
Nem reconhecidas em cartório.
Somos as vozes que Teresa nunca gritou.
Mas que agora… se levantam.”
Assinamos com nomes próprios.
Sem sobrenomes.
Sem hierarquia.
E pela primeira vez…
éramos apenas mulheres contando a própria história.