O manifesto foi publicado às 8h da manhã.
Seis nomes.
Seis vozes.
Seis versões de uma história que o mundo sempre quis controlar.
“Somos as filhas não registradas.
As esquecidas. As forjadas. As reconstruídas.
Somos o que resta depois do mito.
E o que grita mesmo sem microfone.”
Assinado: Lou. Vivian. Lara. Clara. Beatriz. Júlia.
Às 9h, o manifesto já tinha sido compartilhado por ativistas, revistas literárias e grupos de direitos humanos.
Às 10h…
vieram os ataques.
Foi Lara quem recebeu o pior.
Prints do seu livro começaram a circular com trechos fora de contexto.
“Literatura oportunista.”
“Usa o nome da mãe morta pra ganhar fama.”
“Mais uma filha de fundação tentando vender dor.”
Ela trancou-se no quarto.
Desligou o celular.
Ficou em silêncio absoluto.
Vivian tentava não demonstrar, mas a raiva estava estampada no rosto.
Lou lia tudo. E salvava capturas.
— Eles não entendem que ela não escreve por aplauso.
Ela escreve porque… precisa.
Fui até o quarto de Lara.
Bati devagar.
— Filha… posso?
Ela não respondeu.
Entrei assim mesmo.
Estava sentada no chão, com o rosto coberto pelas mãos.
— Eu… não estou pronta pra ser símbolo — sussurrou.
— Tu não és.
Tu és carne.
E palavras.
E alma.
— E se me destruírem?
— Então escreves com os cacos.
Ela riu com dor.
— Isso é poesia de mãe desesperada?
— Isso é amor tentando sobreviver ao ódio do mundo.
No fim do dia, a matéria da Revista Claridade foi ao ar.
“Teresa Guarda: o império da resistência escondia filhos, fundos e favores”
Um ataque direto.
Mentiras misturadas com verdades fragmentadas.
Beatriz ficou furiosa.
— Estão a usar minha existência como prova de corrupção.
Clara suspirou:
— Estão a fazer o que sempre fizeram com mulheres que ousam sobreviver: desmontá-las.
Júlia foi mais dura:
— E a Teresa… teria nos mandado calar pra salvar a reputação.
Vivian:
— Mas nós não somos Teresa.
E calar… nunca mais.
Mais tarde, sentei no jardim da casa.
Jonas trouxe um chá.
— Como te sentes?
— Dividida.
— Entre o quê?
— Entre proteger Lara…
e deixar que ela aprenda a lutar com as próprias palavras.
— E o que vais fazer?
— O que toda mãe faz quando não pode lutar no lugar da filha:
vigiar o campo de longe…
e costurar o escudo sem que ela veja.
Naquela noite, escrevi:
“Se nos atacam por falar,
é porque escutaram.
Se nos odeiam por existir,
é porque incomodamos.
Que assim seja.
Porque quem já gritou com o corpo inteiro…
não cabe mais no silêncio.”