Capítulo 81 o Grito que Ecoa Mesmo sob o tiro

O manifesto foi publicado às 8h da manhã.

Seis nomes.

Seis vozes.

Seis versões de uma história que o mundo sempre quis controlar.

“Somos as filhas não registradas.

As esquecidas. As forjadas. As reconstruídas.

Somos o que resta depois do mito.

E o que grita mesmo sem microfone.”

Assinado: Lou. Vivian. Lara. Clara. Beatriz. Júlia.

Às 9h, o manifesto já tinha sido compartilhado por ativistas, revistas literárias e grupos de direitos humanos.

Às 10h…

vieram os ataques.

Foi Lara quem recebeu o pior.

Prints do seu livro começaram a circular com trechos fora de contexto.

“Literatura oportunista.”

“Usa o nome da mãe morta pra ganhar fama.”

“Mais uma filha de fundação tentando vender dor.”

Ela trancou-se no quarto.

Desligou o celular.

Ficou em silêncio absoluto.

Vivian tentava não demonstrar, mas a raiva estava estampada no rosto.

Lou lia tudo. E salvava capturas.

— Eles não entendem que ela não escreve por aplauso.

Ela escreve porque… precisa.

Fui até o quarto de Lara.

Bati devagar.

— Filha… posso?

Ela não respondeu.

Entrei assim mesmo.

Estava sentada no chão, com o rosto coberto pelas mãos.

— Eu… não estou pronta pra ser símbolo — sussurrou.

— Tu não és.

Tu és carne.

E palavras.

E alma.

— E se me destruírem?

— Então escreves com os cacos.

Ela riu com dor.

— Isso é poesia de mãe desesperada?

— Isso é amor tentando sobreviver ao ódio do mundo.

No fim do dia, a matéria da Revista Claridade foi ao ar.

“Teresa Guarda: o império da resistência escondia filhos, fundos e favores”

Um ataque direto.

Mentiras misturadas com verdades fragmentadas.

Beatriz ficou furiosa.

— Estão a usar minha existência como prova de corrupção.

Clara suspirou:

— Estão a fazer o que sempre fizeram com mulheres que ousam sobreviver: desmontá-las.

Júlia foi mais dura:

— E a Teresa… teria nos mandado calar pra salvar a reputação.

Vivian:

— Mas nós não somos Teresa.

E calar… nunca mais.

Mais tarde, sentei no jardim da casa.

Jonas trouxe um chá.

— Como te sentes?

— Dividida.

— Entre o quê?

— Entre proteger Lara…

e deixar que ela aprenda a lutar com as próprias palavras.

— E o que vais fazer?

— O que toda mãe faz quando não pode lutar no lugar da filha:

vigiar o campo de longe…

e costurar o escudo sem que ela veja.

Naquela noite, escrevi:

“Se nos atacam por falar,

é porque escutaram.

Se nos odeiam por existir,

é porque incomodamos.

Que assim seja.

Porque quem já gritou com o corpo inteiro…

não cabe mais no silêncio.”