Temporada 2-Episodio 2

Temporada 2 – Episódio 2: Um Jantar, Dois Acasos e Mil Vergonhas

Narrado por Isabel

Se alguém me dissesse que eu terminaria uma quinta-feira em Angola fugindo de um grupo de músicos bêbados, com Vivian trancada num banheiro e Lou fingindo que estava noiva…

Eu teria gargalhado.

Mas a vida com cinco filhas num país quente e imprevisível não me dá escolha: ou rimos, ou enlouquecemos.

Tudo começou quando Lou e Vivian decidiram que precisavam “sentir a noite angolana”.

— Um jantar leve, um vinhozinho, música ao vivo. Só isso — disse Vivian, vestindo um macacão vermelho que teria feito Teresa desmaiar de escândalo.

— Só quero dançar um semba sem parecer uma tábua de passar roupa — completou Lou, amarrando os cabelos como quem ia para a guerra.

— E eu? — perguntei.

— Tu vais com a gente, mãe! Vais rir, beber e, com sorte, reencontrar algum revolucionário viúvo e sexy dos tempos da resistência.

Revirei os olhos.

Mas fui.

O restaurante era lindo.

Luz baixa, música suave, garçons educadíssimos.

Nos sentamos.

Pedi vinho branco.

Vivian pediu algo que nem sabia pronunciar.

Lou pediu uma cerveja.

Parecia tranquilo.

Parecia.

Até que eles chegaram.

Três homens sentaram-se na mesa ao lado.

Eram altos, estilosos, e falavam alto o suficiente pra fazer o garçom corar.

Vivian, é claro, notou primeiro.

— Mãe… o da direita é bonito ou eu tô com sede?

— Tás com sede. E precisas de juízo.

Lou já sorria.

— Ele tá olhando.

— Deixa olhar. Só não deixa piscar, senão engravida — respondi, rindo.

Os homens começaram a puxar conversa.

Um deles era fotógrafo de casamentos, outro era apresentador de rádio, e o terceiro, pasmem… dizia ser “modelo de mãos”.

— Isso é sério? — perguntei.

Ele mostrou as mãos com orgulho.

Eram lindas, admito.

Mas eu não esperava que Lou fosse pegar e comentar:

— Hmm… mãos assim dariam um bom tapa na minha solidão.

Eu engasguei com o vinho.

Vivian gritou:

— LOU?!

Lou:

— Desculpa, mãe. Foi a cerveja.

O garçom tentava não rir.

Vivian foi ao banheiro.

Ficou lá por 20 minutos.

Mandei mensagem:

“Estás bem?”

“Não. Tem uma barata que parece uma tartaruga ninja. Estou presa.”

Lou foi resgatar a irmã com um sapato na mão.

Voltou vitoriosa:

— Missão cumprida. A barata agora pertence à eternidade.

Vivian voltou pálida.

— Angola é forte. Eu não sou.

Os rapazes chamaram-nos para dançar.

Lou foi com o fotógrafo.

Vivian hesitou, mas foi com o radialista.

Eu fiquei na mesa.

Até que o “modelo de mãos” se aproximou.

— E a senhora?

— A senhora está cansada.

— A senhora é casada?

— A senhora é a mãe delas.

Ele recuou com um sorriso fofo.

— A mãe mais linda da mesa.

Dei risada.

Mas fiquei.

Só observando.

E foi aí que a confusão começou.

Uma mulher surgiu no salão, furiosa.

Olhou para Lou e gritou:

— É ESSA A TUA NOVA NOIVA?!

Todos olharam.

Lou, surpresa, respondeu:

— Hein? Eu? Eu nem sei…!

A mulher avançou.

Vivian se meteu no meio, armando o salto como se fosse lança.

— Calma! Ninguém aqui é noiva de ninguém!

A mulher gritou para o fotógrafo:

— Dizes que estás solteiro, mas tua aliança ainda brilha!

Ele arregalou os olhos.

— Essa mulher é minha EX!

Ela me segue desde o casamento da minha prima!

A segurança chegou.

Lou, rindo nervosa, disse:

— Mãe… acho que tá na hora de irmos.

E eu?

Eu corri com elas na rua, de salto na mão, rindo como não ria há anos.

No táxi, Lou tirou os sapatos.

— Isso sim foi viver.

Vivian disse:

— Eu não vou mais ao banheiro sozinha num raio de 500 km.

Eu só respirei fundo e disse:

— Vocês são um filme que ainda não terminou de passar.

E eu tô sem pipoca.

Chegamos em casa.

Clara e Beatriz nos esperavam com cara de interrogatório.

— E aí? — perguntou Clara.

Lou respondeu:

— Quase fomos presas, mordidas por baratas e envolvidas num triângulo amoroso…

mas comemos bem.

Beatriz murmurou:

— Isso em dois dias. Imagina um mês.

Naquela noite, escrevi:

“Há dores que cicatrizam em silêncio.

Mas há outras…

que só se curam com gargalhada.

Hoje não fomos filhas da Teresa.

Nem sobreviventes da memória.

Hoje fomos só isso:

Mulheres livres.

E absurdamente vivas.”

Fim do segundo episódio da temporada 2