Capítulo 10 As páginas em branco

Anos depois, voltei à escola. Tudo parecia menor, como sempre parece quando crescemos. O portão enferrujado, o pátio com menos árvores do que eu lembrava. Mas o banco ainda estava lá. E a sombra da velha árvore ainda dançava do mesmo jeito.

Me sentei ali, com um novo caderno no colo — capa limpa, páginas vazias.

Desde que saí dali, escrevi muita coisa. Textos acadêmicos, cartas não enviadas, diários cheios de dúvidas. Mas esse caderno era diferente. Nele, eu queria recomeçar. Não pra apagar o que passou, mas pra honrar tudo que me trouxe até aqui.

Caio e eu seguimos caminhos diferentes. Não no coração — nele, ele ainda mora — mas na vida. Nossos horários mudaram, nossas cidades também. A gente se fala às vezes. Com menos frequência do que gostaríamos, mas com mais profundidade do que a maioria.

Outro dia, recebi um envelope pelo correio. A caligrafia era dele, inconfundível. Dentro, uma única folha, com uma pergunta no centro:

“Se você pudesse escrever só mais uma coisa, o que seria?”

Eu ainda não respondi.

Talvez porque algumas perguntas não pedem resposta. Pedem silêncio. Reflexão. Ou talvez porque essa resposta ainda esteja se formando em mim.

Olhei para a página em branco do meu novo caderno. Respirei fundo.

E escrevi:

“Eu escreveria: obrigada.”

Obrigada por tudo que doeu e curou. Por tudo que foi dito, lido, sentido. Pelos silêncios que me ensinaram mais do que mil palavras. Por cada linha que me levou até aqui.

Porque agora, eu entendo: a gente nunca fecha um caderno de verdade. A gente apenas vira a página.