Terminar algo que marcou você não é como apagar uma lousa. É mais como guardar uma carta: você não relê todos os dias, mas sabe exatamente onde está se quiser lembrar.
Depois da última conversa com Caio, os dias ficaram estranhos. Não tristes — apenas quietos. Como se o mundo estivesse esperando que eu decidisse qual passo dar agora que tudo havia mudado. Rafael me oferecia estabilidade, presença. Mas havia uma parte de mim que ainda visitava lembranças como quem volta à casa dos avós — com carinho, com uma pontada de saudade, mas sabendo que não mora mais ali.
Ver Caio com Marina foi duro. Não porque eu quisesse que ele estivesse infeliz. Mas porque ali, naquela troca de olhares entre eles, eu percebi que ele estava tentando ser feliz sem mim. E ele tinha esse direito. Assim como eu.
A gente se amou do jeito que sabia. Com bilhetes, silêncios, entrelinhas. Mas nem sempre amor basta. Às vezes ele não resiste ao tempo, à distância, às versões novas de quem a gente se torna.
Com Rafael, tudo era dito em voz alta. Não havia mistério. Não havia espera. E isso era novo pra mim. Estranhamente bom. Ele lia meus textos, fazia perguntas, me fazia rir dos meus medos. Um dia, me olhou nos olhos e disse:
— Eu sei que você veio de um lugar bonito. Só quero ser o destino, não o caminho.
Eu não soube o que responder, mas fiquei.
E mesmo ficando, de vez em quando, visitava a biblioteca. O caderno ainda estava lá. Intocado. E do lado dele, um novo apareceu. Mais discreto, capa preta, com um bilhete colado:
“Depois das linhas, vem o espaço em branco. E é nele que a gente aprende a continuar.”
Não precisei perguntar de quem era. Eu soube.
Sentei ali, por um tempo. Sozinha. Toquei o vidro como se pudesse sentir as palavras antigas pulsando ainda vivas. Caio e eu não estávamos mais juntos. Mas de algum jeito, ainda nos entendíamos.
Ele não me mandou mensagem. E eu não mandei também. Porque havia uma paz nesse silêncio. Como se, depois de tantas páginas, a gente finalmente tivesse aceitado que o fim também é parte da história.
Voltei pra casa com um caderno novo. Páginas em branco, dessa vez só minhas. E uma certeza suave no peito:
O amor que é real nunca se perde. Ele muda de forma. Se transforma em lembrança, em coragem, em palavras que te empurram pra frente mesmo quando você sente vontade de voltar.
E quando a página vira, a gente não esquece.
A gente aprende a escrever de novo.