Capítulo 13 O lugar onde dói menos

Rafael estava dormindo quando me levantei naquele domingo cedo demais. A cidade ainda bocejava, e eu também, mas minha mente não parava. Tinha algo dentro de mim — uma inquietação leve, mas constante — que me chamava de volta ao que eu ainda não tinha enfrentado de verdade.

Fui até a cozinha, fiz café, sentei à mesa com o caderno novo. Escrevi uma frase e logo a rasguei. Depois outra. E mais outra.

O problema não era ele. Rafael era tudo. Atencioso, presente, paciente até quando eu me perdia em silêncios longos e olhares distantes. O problema era que eu ainda não sabia se o lugar onde estávamos era onde eu queria construir raízes — ou apenas onde aprendi a me esconder de algo que ainda doía.

Naquela manhã, saí andando sem rumo. E, quase sem perceber, meus passos me levaram de volta à biblioteca.

Era sempre ela.

A redoma com o caderno permanecia ali, intacta. O segundo caderno — o de Caio — continuava ao lado, com o mesmo bilhete. Eu me sentei. O lugar estava vazio, e por um momento, tudo pareceu congelado no tempo.

Peguei meu caderno da mochila e escrevi:

“Como saber se é amor ou só gratidão por alguém ter te salvo quando você estava prestes a afundar?”

Eu gostava de Rafael. Muito. Mas amor, eu ainda não sabia. Porque com Caio, tudo era caótico e intenso. Com Rafael, era calmo. E às vezes eu confundia calma com ausência.

Suspirei.

No caminho de volta, encontrei Rafael sentado na praça perto de casa, lendo. Ele me viu de longe e sorriu — aquele sorriso limpo, sem entrelinhas.

— Pensei que você fosse dormir até tarde — ele disse.

— Tentei — respondi. — Mas acordei com vontade de pensar.

Ele fechou o livro, olhou pra mim com aquele jeito direto.

— E pensou em quê?

— Em nós.

Silêncio.

Ele não fugiu. Nunca fugia.

— E o que descobriu?

Respirei fundo. Olhei nos olhos dele, que me esperavam sem medo.

— Que eu tenho medo de não te amar do jeito certo. De só estar aqui porque você é seguro. Porque você me faz bem. E eu não sei se isso é justo com você.

Ele assentiu. Ficou um tempo quieto. Depois disse:

— Luna… amor não é uma tempestade. Às vezes é só isso mesmo: um lugar onde dói menos.

Minhas lágrimas caíram antes que eu tentasse evitar.

— Mas eu não quero te dar metades.

— Então me dá o que for verdadeiro. Mesmo que ainda esteja sendo construído. Eu não quero competir com o passado. Só quero caminhar com você, mesmo que o caminho ainda não esteja claro.

Ficamos ali. E talvez tenha sido a primeira vez que eu percebi: o amor maduro não explode. Ele sustenta. Ele espera.

E talvez… só talvez… fosse isso que eu estivesse procurando o tempo todo.