Comecei meu dia como qualquer outro, me escondendo e andando como um rato. E hoje, entre todos os dias, parecia ser o mais agitado.
Eu conhecia bem o grupo de valentões desse lugar, cada rosto era memorizado por mim.
Para sobreviver em uma guerra, conhecer seu inimigo é importante, não, é essencial!
E entre todos os grupos, o grupo do Bruno é o mais problemático. Eles não só intimidam os fracos, mas também atacam outros grupos para monopolizar o poder.
Ouvi por aí entre os alunos, que alguns grupos estavam se reunindo para derrubar eles. Mas como eu vi ontem, o Bruno não teve problemas com eles.
E ele não se contentou com a vitória que teve naquele dia. Sei disso, pois agora mesmo, ele e seu grupo estão atacando os outros dois grupos que tinham tamanho para os enfrentar.
Não sei sobre o terceiro grupo, do qual ouvi o Bruno falar ontem. Para falar a verdade, nem sei que grupo é esse.
Agora são sete da manhã, e pelo jeito a guerra começou bem antes disso. Já havia muita gente derrotada, e o grupo do Bruno estava ganhando.
Vi gente nova com eles, provavelmente eram reforços vindo daquele chefe estranho dele.
E o que eu pude fazer no meio desse confronto? Apenas me esconder e fugir. Deitei no chão fingindo ser um aluno derrotado, corria quando eles estavam se distraindo com a luta, fiz o que pude.
Depois de ter passado por um campo de guerra, finalmente tinha me distanciado daquela confusão.
Estava escondido na saída de emergência de um dos prédios escolares, que no momento estava desocupado, o que significa que não era um local seguro.
Estava tentando recuperar o fôlego, não podia ficar ali por mais tempo. Eu tinha que ir pra aula, e os prédio escolares só são áreas seguras quando está tendo aula, quando o prédio não está sendo usado, os corredores podem servir como campo de guerra.
Já estava pronto pra me levantar, quando escuto alguém sendo jogada violentamente contra o chão no lado de fora do prédio.
Conseguiu ver entre as frestas da porta, e aquele cara não era de nenhum dos grupos em guerra. Ele era um aluno normal, um calouro que entrou junto de mim.
— Então esse é um dos novatos que acho que podia fugir? —
Ouvi a voz de um dos valentões do grupo do Bruno, e vejo ele sendo acompanhado por uma garota usando um roupão vermelho, ela tinha longos cabelos cacheados e azuis, e usava óculos escuros.
— Sim, pelo o que vejo, dos calouros deste ano, seis deles conseguiram fugir da intimação do seu bando. Eles tem se escondido para escapar das nossas mãos.
Foram bastante espertos e oportunistas, mas pro azar deles, eu estou do lado do Yuri. Ninguém escapa da minha visão, então eles estão com os dias contados. —
Então mais pessoas conseguiram fugir naquele dia? Mais importante, ela sabe quem fugiu?
Não posso dizer que ela não estava naquele dia, mas eu com certeza não vi alguém tão extravagante assim.
Será que ela me viu? Não, não é possível, e mesmo que ela tenha me visto, não vai conseguir me encontrar, já passou duas semanas, e ninguém feio me procurar, então estou seguro.
— Com esse já foram três, e os outros três? —
— Eu ainda não achei a garota, não sei como ela consegue desaparecer do nada, então por hora ela está desaparecida até para mim. —
— Ela não tem poder de teletransporte? —
— isso não existe! E duvido que ela consiga se mover tranquilamente pelos corredores de Santa Guerra, principalmente no primeiro dia de aula. Não sei qual é o segredo dela, mas é o bastante para escapar da minha visão! —
— E o garoto? —
O garoto? Não pode ser, será que esse… o que eu estou falando? É claro que sou eu! Quem mais seria? Não é possível, então eu ainda não consegui fugir daquela confusão do primeiro dia, aquilo ainda vai me perseguir?!
Calma, eu só preciso continuar longe da atenção de todos, se ninguém me ver ou achar, não vou ter qualquer problema. O máximo que eles devem ter de mim, é a minha aparência. Se eu não for visto, então não terei problema.
Serei duplamente cuidadoso agora, vou garantir que ninguém me veja. Quem sabe eu corte o cabelo, começo a usar um chapéu. Tenho muitos recursos à minha disposição. Eles nunca vão me achar!
— o nome dele é Arthur Arrow, 16 anos, 1,66 de altura, sangue tipo AB +. Ele vai ter as mesmas aulas desse outro novato hoje, então não vai ser um problema pegá-lo! —
Um frio arrepiante tomou meu corpo, sabia bem o que isso significa. Como eles sabem até meu tipo sanguíneo? droga! Eu venho me esforçando para me esconder, e agora estou sendo perseguido.
Não é possível que eles vão fazer conta de um calouro qualquer! O que eles poderiam conseguir comigo que não iriam com mais ninguém?!
Eu não tenho opção. Será que eu falo com o Léo? Não acho que possa conseguir ajuda da Dalila.
Agora ferrou tudo, eu vou ser usado de exemplo. Esse tempo todo achei que eu seria incapaz de fazer qualquer ato de rebeldia contra o sistema, mas fugir dele também é uma transgressão!
Vai se ferrar Arrow, você queria tanto ser igual aquele calouro presos na estátua, agora somos bem iguais, a diferença é que ele foi preso por lutar como um guerreiro, e eu por fugir como um covarde!
— Temos que pegar pelo menos esse último. Yuri já está irritado por não conseguimos pegar os dois problemáticos.
Até agora não consegui descobrir a identidade do último, ou como ele consegue se esconder da minha “visão”. —
Ela pisa com força na cabeça do calouro caído no chão. Sentia pena dele, principalmente pelo fato de que o próximo pode ser eu.
— De toda maneira, vamos levar esse idiota para junto dos outros dois. Iremos aplicar a punição. —
Vejo aquele garoto surrado se levantando. Ele estava usando todas as forças que tinha para ficar de joelhos, seu corpo tremia com o esforço, suas feridas estavam se abrindo ainda mais.
Ele olhou em direção dos dois, seu olhar carregava pânico e medo.
— o que vão fazer comigo? —
Ele usa toda a energia em seu corpo apenas para fazer esse questionamento. A garota sem qualquer piedade, caminha até ficar frente aos seus olhos.
Mesmo usando óculos, era possível sentir o frio no seu olhar, nem parecia que ela olhava para um ser humano.
Vejo ela pisando na cabeça do pobre calouro, ele foi levado de volta ao chão, conseguia ver ele tentando gritar, mas já não tinha voz para isso.
— O que vamos fazer? Nós iremos dar uma lição em vocês, deixaremos marcado na sua pele.
Pra ser mais direta, vamos marcar você com ferro! Uma queimadura que deixa marcada o resultados dos seus erros. —
Acho que ele deve ter se desesperado, mas não tinha força pra demonstrar. isso era insano demais!
Como eles podem marcar uma pessoa como gado? E o pior de tudo, nem tem um bom motivo para fazer isso. É só para gerar medo e impedir revoltas, isso é coisa de ditador autoritário maluco!
Eu achei que minha situação já era ruim, mas agora eu vejo o quão horrível ela é. Eu não tenho escapatória, não tenho aliados, não tenho meios de fuga ou proteção.
Então eu devia só me render? Lutar não é uma opção, então eu só posso desistir e aceitar as punições injustas?
Esse é o único caminho. Talvez se eu me rebaixar, e até beijar os pés deles, eu possa ganhar uma punição mais branda.
Mostra que reconheço meu erro, e estou disposto a corrigi-lo. Isso também serviria de exemplo. Mostra que aqueles que se rendem vão estar em uma situação melhor.
Mesmo essa sendo uma opção horrível, é a melhor que eu tenho. Mas eu não consigo, não sei o motivo, mas essa decisão vai contra minha própria mente. Eu não quero fazer isso!
Mas então o que você vai fazer Arrow?! Não tenho como fugir dessa vez, como vou conseguir lidar com isso?!
Por que não desiste de uma vez? Você realmente acredita que pode fazer algo sobre isso?
Não é possível que seja tão ingênuo, não temos nada com que lutar! Lutar para nós é masoquismo! Não faz sentido! Não existe isso para nós! Você… Você é fraco!!!
Eu continuo gritando comigo mesmo dentro da minha mente. A luz do sol começava a invadir aquele corredor, apartando a escuridão à minha volta.
Eu sou mesmo o pior dos idiotas, muito pior que isso! Eu sou alguém que está criando algo inútil dentro de si, algo que segundo o sábio, só serve para me fazer sofrer mais.
Não existem motivos para eu estar cultivando isso, não existe um terreno vertil para isso crescer. Mas ainda assim… eu sinto isso crescendo no meu peito, está cada vez maior. Isso era…
A vontade de lutar! De ser mais, ser melhor. Isso era… isso era… uma tola, inconveniente, iludida… e… uma esperançosa… determinação!!!