Capítulo 4 — Aliados e Inimigos
A reunião terminou como todas as reuniões de poder que eu imaginava: ninguém sorri de verdade, todo mundo se despede de olho no que o outro vai fazer pelas costas.
Eu saí da sala com a mente fervendo e o estômago embrulhado.
Rafael caminhava ao meu lado, falando sobre documentos, advogados e estratégias jurídicas, mas eu mal ouvia.
O peso de tudo estava afundando agora.
Terras. Bilhões. Política.
E eu — uma garota que até duas semanas atrás só se preocupava com vestibular e as notas de matemática.
— Princesa — a voz de Henrique me chamou. Ele se aproximou com a mesma calma de sempre, mãos no bolso, o blazer aberto e um sorriso que era meio charme, meio provocação. — Precisa de ar?
Eu hesitei, mas acabei assentindo.
Seguimos por um corredor até o terraço do palácio. Lá embaixo, as luzes do Rio de Janeiro brilhavam como um mar de estrelas urbanas. A brisa noturna bateu no meu rosto e eu, finalmente, consegui respirar.
Henrique se encostou na mureta, me observando com aquele olhar que parecia ler além da superfície.
— Não achei que você diria não tão cedo — ele comentou, cruzando os braços. — Impressionante.
Eu ri, sem humor.
— Eu mesma não achei que teria coragem. Acho que foi mais medo do que estratégia.
Ele inclinou a cabeça.
— Medo é um excelente conselheiro… quando não te paralisa.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Só o som da cidade abaixo e o vento entre nós.
— Por que está me ajudando? — perguntei de uma vez. Eu precisava saber. — Seu avô foi um dos que assinou a queda definitiva da monarquia. A gente devia ser inimigo, não aliados.
Henrique sorriu de canto, mas dessa vez, havia um toque de tristeza.
— Porque, princesa, nesse tabuleiro, inimigos e aliados trocam de lugar rápido demais. E talvez… talvez eu não goste da ideia de ver estrangeiros comprando nossa história. — Ele me encarou com mais firmeza agora. — E talvez… eu goste da ideia de ver você vencendo.
Meu coração deu um salto.
Ele não falou como político. Falou como homem.
Olhei para ele — de verdade — pela primeira vez.
Os olhos castanhos escuros tinham algo quente, intenso. Não era só charme. Era interesse real. Um interesse que me fazia sentir viva, poderosa… desejada.
Abaixei o olhar, tentando esconder o sorriso que ameaçava surgir.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, a porta atrás de nós se abriu com força. Rafael apareceu, sério.
— Isabela, temos um problema. Urgente.
Meu estômago afundou.
— O que foi?
Ele ergueu o celular, a tela iluminada.
No topo estava escrito: Trending Brasil — #PrincesaFujona
Toquei o aparelho e as imagens apareceram:
Fotos minhas saindo da reunião. Me afastando. O título? “A Princesa se recusa a proteger as terras brasileiras. Está vendendo o país?”
Meu sangue gelou.
— Isso é mentira!
— Não importa — Rafael disse, a mandíbula travada. — Já espalharam. O público já comprou a narrativa.
Henrique pegou o celular da minha mão. O maxilar dele se moveu, tenso.
— Isso foi rápido demais…
Ele me olhou sério.
— Bem-vinda ao jogo real, princesa. Agora você vai precisar mais do que coragem. Vai precisar escolher em quem confiar.
Meu peito apertou. A primeira conspiração tinha começado…
E eu não sabia se estava preparada para perder.
Mas uma coisa eu sabia.
Olhei Henrique nos olhos e respondi com firmeza:
— Eu não vou fugir.
Ele sorriu, dessa vez, sem disfarçar.
— É isso que eu queria ouvir, Alteza.
A noite tinha só começado.