Calitulo 6

Capítulo 6 — Como um Beijo que Nunca Devia Acontecer

O homem da tal "comissão internacional" tinha ido embora, deixando no ar uma ameaça velada e um monte de papéis que Rafael e os advogados se apressaram em analisar.

Mas eu não consegui prestar atenção em nada depois disso.

Henrique ficou.

Na sala. No mesmo cômodo.

Perto o suficiente pra me fazer perder o foco.

— Você tá bem? — ele perguntou.

— Não sei. — Respondi sem pensar. — Me sinto... exposta. É como se todo mundo esperasse que eu fosse cair. E ao mesmo tempo, esperasse que eu fosse perfeita.

Ele se aproximou devagar. O blazer já jogado em algum canto, a camisa social com as mangas dobradas. Aquele estilo meio desleixado, meio sofisticado que faria qualquer garota perder a compostura.

— Você não precisa ser perfeita, Isabela. Só precisa ser real.

A maneira como ele disse meu nome me arrepiou inteira.

— Eu não sei se consigo continuar sozinha. — Falei num sussurro que mal reconheci. Era um desabafo. Um pedido não dito.

Henrique parou bem na minha frente. Os olhos castanhos queimando nos meus.

— Então não fica sozinha. — Ele tocou meu queixo com delicadeza, me fazendo levantar o rosto. — Eu tô aqui.

Meu coração batia tão alto que parecia ecoar pelas paredes do palácio. Eu podia sentir o calor dele, a respiração, a hesitação…

— Henrique… — comecei, mas ele colocou um dedo nos meus lábios.

— Não precisa dizer nada.

E então aconteceu.

O beijo.

Lento. Quente. Profundo.

Não era só desejo.

Era a explosão de tudo que a gente vinha segurando.

As noites de olhares cruzados, as conversas com segundas intenções, os silêncios carregados.

Eu me entreguei.

As mãos dele seguraram minha cintura com firmeza, como se quisesse me proteger do mundo.

E por um instante, eu desejei que tudo sumisse — o trono, os jornais, a pressão.

Mas o beijo acabou.

Ele se afastou devagar, com o olhar ainda preso no meu. E disse:

— Isso complica tudo, né?

Sorri, ofegante.

— Já tava tudo complicado antes. Pelo menos agora… é complicado e bom.

Ele riu. Um riso sincero, bonito. E encostou a testa na minha.

— Eu juro, princesa… se você me deixar, eu vou lutar com você. Até o fim. Mesmo que a gente não possa ter um final feliz.

Engoli seco.

A gente sabia.

Aquilo não ia ser fácil.

A gente era de lados opostos, cercado por olhares, regras e história.

Mas também sabíamos outra coisa:

Era real.

Eu encostei minha mão no peito dele.

— Então vamos lutar, Henrique. Juntos. Mas escondidos.

Ele assentiu.

E me beijou outra vez.

Dessa vez, sem pressa nenhuma.