A Noite de Treinamento e o Caminho na Floresta
A noite caía silenciosa sobre a propriedade de Galan. As estrelas começavam a brilhar enquanto a brisa fresca acariciava a pele de Leo. Leo, agora com oito anos, estava na clareira atrás da casa, de espada em punho, focado na respiração e nos movimentos da lâmina. Lembrava das palavras de Kael, o mestre de combate de Solarian, que sempre dizia:
— “A percepção é a chave. Quando os seus sentidos se tornam agudos, você não apenas vê o inimigo, você o sente.”
Leo repetia os movimentos com mais confiança agora. Embora ainda jovem, já percebia um avanço considerável em seu treinamento. Quando levantou a espada, sua visão parecia se estender além da lâmina — ele conseguia enxergar, quase como parte da natureza ao seu redor, os detalhes mais sutis.
O vento passava pelas folhas das árvores, fazendo-as sussurrar. A dança das sombras à luz da lua parecia viva. Ele percebia tudo com uma clareza incomum: o farfalhar das folhas tocando o chão soava como uma mensagem secreta em seu corpo. Uma sensação profunda de conexão com o ambiente o envolvia.
Por um instante, Leo quase errou o movimento — um leve cansaço tomava seu braço — mas recuperou o controle, expirando lentamente. Com um suspiro, terminou o treino, sentindo uma calma que o envolvia, quase como uma meditação.
Estava aprendendo a ver mais do que o óbvio. Mas, ao mesmo tempo, havia algo inquietante sobre o colar… Ele ainda não entendia o peso que sentia ao segurá-lo, como se o objeto guardasse um mistério do qual ele ainda não fazia parte.
Com as mãos trêmulas, retirou o colar de dentro da túnica e o segurou na palma da mão. O cristal prateado refletia a luz da lua, e, por um momento, Leo se perdeu na profundidade da pedra, sem compreender por que aquilo parecia parte de algo muito maior. Lentamente, fechou os olhos e, com o colar ainda nas mãos, adormeceu.
A Tarde na Floresta e o Encontro com o Mistério
O dia seguinte chegou com a mesma calma do anterior. Leo, acostumado à rotina, acordou cedo e seguiu para suas tarefas diárias. Galan o chamou para ir até a floresta coletar galhos secos, como de costume para os trabalhos da casa.
— “Leve a espada. Fique atento aos arredores.” — disse Galan, entregando a espada de metal, feita por ele mesmo. Leo assentiu e seguiu para a floresta.
No início, a floresta parecia tranquila, como sempre. Mas à medida que se afastava das trilhas conhecidas, algo mudou. O vento não era mais calmo; sussurros de folhas soavam mais fortes, e um galho seco quebrou sob seus pés, fazendo seu coração disparar. O ar parecia carregado, denso, como se estivesse observando cada passo do garoto.
Leo apertou a empunhadura da espada com força e avançou, guiado por uma mistura de cautela e curiosidade.
Quando o sol começou a se esconder atrás das árvores, ele encontrou algo que acelerou seu coração: pegadas grandes na terra fofa. Eram frescas e profundas, como se uma criatura enorme tivesse passado por ali recentemente. Leo notou que as pegadas desviavam para o leste. O leão, sem dúvida, tinha passado, mas já havia partido.
Um arrepio percorreu sua espinha. A sensação de ser observado aumentou, e ele sentiu um breve sussurro no vento, quase inaudível, como um aviso. Mas logo a sensação passou, e um alívio tímido o invadiu — o leão já estava longe.
Ele ficou ali por alguns minutos, observando a trilha. O céu escurecia lentamente, e a sensação de que algo estava para mudar o fazia hesitar.
O Retorno e a Repreensão
Quando Leo chegou à porta da casa, a noite já havia caído por completo. Ele caminhava lentamente, carregando o peso do dia e seus mistérios. Sarah e Judith estavam na porta, esperando por ele.
Judith puxava um fio solto da barra do vestido, mordendo o lábio, com os olhos castanhos brilhando de preocupação. Seu rosto mostrava o cansaço e o medo que carregava — não só pela segurança de Leo, mas pelo que poderia estar além daquela inquietação.
— “Onde você esteve, Leo? Já estava escurecendo. Você deveria ter voltado antes!” — sua voz tremia, mas tinha firmeza.
Leo abaixou a cabeça, pedindo desculpas, com um nó na garganta.
— “Desculpa. Só fui buscar mais galhos. Estava um pouco longe, mas estava tudo bem.” — disse ele, sem revelar o peso do que sentia.
Judith suspirou, aliviada, mas ainda preocupada.
— “Ainda assim, seja mais cuidadoso. Não precisamos de mais perigos por aqui.”
Sarah sorriu levemente, tentando aliviar a tensão no ar.
— “Ele vai ficar bem, mamãe. Só é um pouco distraído às vezes.”
Leo olhou para Sarah, agradecido pela leveza dela. Mas o peso do colar no bolso ainda estava ali, um lembrete silencioso.
Enquanto a porta se fechava atrás dele, um último olhar para a floresta atravessou sua mente. Algo estava prestes a mudar. Ele podia sentir.