Episódio 2

EPISÓDIO 2 – A Proposta

Narrado por Isabela Monteiro

As palavras ecoaram na minha cabeça como um trovão:

“Casamento. Temporário. Contrato.”

De todas as coisas que eu imaginei que a vida me traria aos 22 anos, essa não estava na lista. Eu esperava uma chance de emprego melhor, talvez uma bolsa de estudos. Qualquer coisa — menos me tornar esposa de um estranho por dinheiro.

Mas quando se tem uma mãe com câncer em estágio avançado, e cada dia é uma contagem regressiva, seus valores balançam. Sua moralidade... enfraquece.

No dia seguinte à ligação, fui instruída a comparecer a um prédio luxuoso no centro da cidade. Terno, salto, ar-condicionado, espelhos que refletiam uma versão pobre de mim mesma. O elevador era tão silencioso que eu conseguia ouvir meu próprio coração batendo como um tambor.

No 25º andar, uma recepcionista me guiou até uma sala de vidro. Lá dentro, uma mulher loira, de coque impecável e expressão de gelo, me esperava com uma pasta preta nas mãos.

— Senhorita Monteiro. Por favor, sente-se.

Sentei. As mãos suavam, mas eu mantive o queixo erguido.

— O senhor Vasques é um homem ocupado — ela disse, abrindo a pasta. — E extremamente reservado. Tudo o que será discutido aqui tem cláusulas de confidencialidade. Se aceitar as condições, sua vida mudará completamente.

Engoli em seco.

— O que exatamente estão me oferecendo?

Ela deslizou um contrato até mim.

— Um casamento civil com prazo de validade: um ano. Nenhum envolvimento íntimo é exigido, mas é esperado que mantenham as aparências em público. Em troca, receberá um valor fixo mensal durante o período do contrato — além de um bônus final ao concluir o acordo sem quebra de cláusulas.

— Quanto?

Ela não hesitou.

— Quinhentos mil reais.

Meu corpo inteiro congelou.

— Isso… é sério?

Ela me olhou como se a pergunta fosse inútil.

— O senhor Vasques precisa de uma esposa para cumprir um requisito contratual internacional. Não quer envolvimento emocional, nem tempo perdido. E por isso, está disposto a pagar caro.

— E por que eu?

Ela respondeu com naturalidade:

— Porque você não tem nada a perder. E ele sabe disso.

A frase me cortou como navalha. Mas era verdade.

Respirei fundo e encarei o papel.

Cláusulas. Termos legais. Sanções. Tudo cuidadosamente redigido.

Na última página, o nome dele:

Leonardo Augusto Vasques.

A caneta tremia na minha mão.

— Eu quero vê-lo — disse, firme.

A assistente ergueu uma sobrancelha.

— Não faz parte do combinado. O senhor Vasques prefere manter distância até o dia da cerimônia.

— Então esqueça. — Fechei a pasta. — Não vou me casar com um fantasma.

Ela pareceu ponderar. Então pegou o celular e digitou algo.

Um minuto depois, a porta atrás de mim se abriu.

E lá estava ele.

O menino do carro preto.

Só que agora… era um homem.

Terno sob medida. Rosto angular, bonito demais para ser real. Ombros largos. Olhos escuros, frios, exatamente como eu lembrava — mas agora mais intensos, mais calculistas. O tempo o moldou como uma escultura de mármore e gelo.

Ele entrou na sala sem pressa. Me olhou. Como se me analisasse. Me medisse. Como se estivesse decidindo se eu valia o preço.

— Então é você — disse ele, por fim.

A voz era grave. Aveludada. Autoritária.

— E você continua sem saber sorrir — rebati, sem pensar.

Por um instante, o canto da boca dele se mexeu. Quase um sorriso. Quase.

Ele sentou à minha frente, cruzou as pernas e apoiou os braços na cadeira.

— Por que aceitou vir até aqui?

— Minha mãe está morrendo — respondi, sem rodeios. — E vocês disseram que me dariam dinheiro suficiente para salvá-la.

Ele assentiu, impassível.

— Então estamos nos usando. Ótimo. Gosto de clareza.

— Eu não sou uma boneca — disse, firme. — Não sou obediente, nem calada. Se me quiser como esposa de mentira, vai ter que lidar com a minha verdade.

Ele me encarou como se aquela ousadia fosse uma provocação.

E talvez fosse.

— Isso pode ser… divertido — murmurou ele.

— Isso pode ser um inferno — corrigi.

Silêncio.

Então ele estendeu a mão.

— Aceita o contrato?

Olhei para a mão dele.

Grande. Firme. Fria.

Minha respiração falhou.

Eu sabia que, se dissesse sim, estaria vendendo minha liberdade. Me jogando num mundo que não era meu. Me casando com um homem que via o amor como um negócio.

Mas também sabia que, se dissesse não… minha mãe morreria.

Segurei a mão dele.

— Sim. Eu aceito.