Episódio 3

EPISÓDIO 3 – A Noiva Errada

Narrado por Isabela Monteiro

O contrato foi assinado com tinta preta. Tinta que, pra mim, parecia sangue.

Na semana seguinte, minha vida virou um filme estranho e silencioso. Fui levada para um hotel de luxo, recebia roupas novas todos os dias, com etiquetas que sozinhas valiam o salário de um mês de qualquer mortal comum.

“Precisa parecer uma esposa à altura”, dizia a mulher de coque, sempre fria, sempre apressada. “Nada de emoções. Isso é um negócio.”

E eu tentava me lembrar disso o tempo inteiro: um negócio.

Mas, às vezes, quando me olhava no espelho vestida como uma boneca rica, eu mal me reconhecia. A garota que saía cedo de casa pra vender pão na feira já parecia um eco distante. Como se ela tivesse morrido para essa nova Isabela nascer — a Isabela que seria esposa de um milionário.

Na noite anterior ao casamento, dormi pouco. A ansiedade corroía minhas entranhas como ferrugem. Não pelo casamento. Mas porque, no fundo, uma parte de mim ainda tentava entender: quem é Leonardo Vasques?

Um homem que compra esposas por contrato.

Um bilionário que não olha ninguém nos olhos por mais de três segundos.

Um homem que... eu vi quando era menina, mas que nunca me viu de verdade.

E agora, eu seria a esposa dele.

Ou assim eu pensava.

O dia do casamento chegou.

Tudo estava pronto. A mansão particular em Angra dos Reis foi o cenário. Um casamento discreto, apenas com testemunhas contratadas, como Leonardo exigiu. Sem flores. Sem música. Sem emoção.

Tudo programado para durar 30 minutos.

Me prepararam como uma princesa: vestido branco, cabelo preso com pérolas, maquiagem impecável. Mas por dentro, eu me sentia como um papel assinado. Fria. Vazia.

Na antessala da cerimônia, recebi um último aviso:

— Entre quando a música começar. Vá direto até o altar. Não fale com ninguém. Assine. Sorria. Acabe logo com isso.

Assenti, embora quisesse correr dali. Mas não podia. Não mais.

A música começou.

O coração batia como um tambor dentro do meu peito.

Dei um passo. E depois outro.

E então vi.

Leonardo, de pé, ao lado do juiz. Sério. Impecável.

Mas... algo estava errado.

Os olhos dele se estreitaram assim que me viu. A mandíbula dele travou. O corpo inteiro enrijeceu. Como se estivesse vendo um fantasma.

Olhei em volta, confusa. Será que eu tinha algo no rosto?

Ele deu meio passo para frente.

— Quem é você?

Engoli em seco.

— Isabela Monteiro.

Ele piscou, devagar. A confusão no rosto dele virou incredulidade.

— Você… não é a mulher que eu escolhi.

Meu sangue gelou.

O juiz olhou de um para o outro.

— Houve algum problema?

A mulher do coque surgiu ao meu lado como um furacão disfarçado de calma.

— Senhor Vasques, houve um pequeno contratempo. A candidata original... desistiu de última hora. Precisávamos de alguém imediatamente. Isabela já havia sido pré-avaliada. Foi a melhor solução.

— Vocês me entregaram a noiva errada? — ele rosnou.

O silêncio foi absoluto.

Por um segundo, pensei que ele fosse sair andando. Que ia encerrar tudo ali.

Mas então… algo mudou no olhar dele. Ele me encarou. Longamente. Como se tentasse me decifrar.

E então… sorriu.

Não o sorriso doce de filmes. Um sorriso perigoso. Um que eu não entendia.

— Muito bem — ele disse. — Vamos continuar.

— O quê? — sussurrei, confusa.

— Já que estou me casando com a mulher errada... — Ele me ofereceu o braço — … então vamos fazer isso direito.

As palavras do juiz ecoaram como martelos:

“Declaro vocês, legalmente, marido e mulher.”

E eu, a menina do bairro pobre, a filha da dona Rosa, a garota que vendia doces na escola, me tornei esposa de Leonardo Vasques.

Mas algo estava diferente agora.

Antes, ele parecia indiferente. Agora, havia algo nos olhos dele. Um brilho. Uma curiosidade. Como se, por algum motivo, ele estivesse... interessado.

Quando saímos da cerimônia, ele se inclinou até meu ouvido e sussurrou:

— Você não era a escolhida, Isabela.

Mas agora... é minha.

E eu vou descobrir o que fazer com você.