Capítulo 8 – A Ex Noiva
Naquela noite, eu mal consegui dormir. Havia algo no olhar do Leonardo que me assombrava. Ele podia fingir o tempo todo, mas havia reconhecido alguma coisa em mim. Algo que o incomodava. Algo que o fazia... me evitar.
No dia seguinte, fui acordada com batidas na porta.
— Senhora Vasques — disse Dona Celina —, o senhor Leonardo pediu que esteja pronta para um evento esta noite. É um jantar de negócios.
— Ele pediu isso… pra mim? — perguntei, confusa.
Ela assentiu.
— Disse que a senhora deve parecer... apresentável. Estarei aqui às cinco com os vestidos.
A palavra “apresentável” me irritou. Como se eu fosse um acessório, uma extensão do terno dele. Mas era parte do contrato, certo? Ser a esposa perfeita quando ele precisava. E invisível no resto do tempo.
Quando ele me viu pronta, com um vestido longo azul-marinho, justo, com os cabelos soltos e maquiagem leve, hesitou. Seus olhos passearam por mim, como se ele estivesse diante de algo que não esperava encontrar.
— Está decente — foi tudo o que disse, frio.
— Uau, quase me emocionei com o elogio — retruquei.
Ele abriu a porta do carro sem responder, e seguimos para o evento.
O salão era puro luxo. Cristais, champanhe, gente importante e olhares curiosos. Todos sabiam quem era Leonardo Vasques. E agora, todos queriam saber quem era eu.
Ele me guiava com a mão nas minhas costas, como se quisesse mostrar ao mundo que eu era dele. Mas eu sabia a verdade: aquela era uma vitrine. Um teatro.
— Fique ao meu lado. Sorria e não fale demais — ele sussurrou ao meu ouvido.
— Sim, chefe — respondi com um sorriso forçado.
Foi quando ela apareceu.
Alta, elegante, loira, de olhos frios como os dele. E com um sorriso de veneno.
— Leonardo… não esperava te ver. E com… isso?
— Victoria — ele respondeu, seco.
Ela me olhou da cabeça aos pés, depois sorriu.
— Que interessante. E tão… diferente do que eu imaginava que você escolheria.
— Às vezes o destino prega peças — ele respondeu, olhando direto pra ela.
Victoria se aproximou de mim.
— Sou Victoria Meneses. Ex-noiva do seu… atual marido. Encantada.
— Isabela Vasques. A mulher que ele realmente levou até o altar — respondi, estendendo a mão com firmeza.
O aperto de mão foi gelado. Literalmente e emocionalmente.
Ela se virou para Leonardo.
— Isso aqui não vai durar, você sabe. Não combina com você. Essa… mulher de novela das seis.
— Cuidado, Victoria — ele disse, com a voz baixa e ameaçadora. — Você conhece minhas regras.
— E você conhece as minhas, Leo. Ninguém me troca e sai ileso.
Ela se afastou com um sorriso perigoso.
Fingi que não me afetava, mas por dentro, meu estômago revirava.
Ela era tudo o que ele queria, certo? Rica, poderosa, fria. Eu era só uma farsa no lugar dela.
No carro, o silêncio entre nós era tenso.
— Ela ainda te afeta — eu disse, sem conseguir me segurar.
Ele me olhou rapidamente, depois desviou o olhar.
— Não é da sua conta.
— Mas sou sua esposa, não sou? Pelo menos em público. E ela parece não ter aceitado bem a troca.
Ele bufou.
— Victoria nunca aceita perder.
— Então você me escolheu pra provocá-la?
Ele virou o rosto em minha direção, sério.
— Não. Eu não te escolhi. Você foi um erro. Mas talvez… um erro útil.
As palavras doeram mais do que eu queria admitir.
— Perfeito. Continue me usando como quiser. Mas lembre-se… até um erro pode aprender a machucar.
Ele me encarou por alguns segundos, em silêncio.
Depois voltou a olhar para a estrada.
Naquele instante, percebi que Victoria não era só uma sombra do passado dele. Ela era uma ameaça real. E estava disposta a tudo pra tirar o que, por contrato, agora era meu lugar.
Mas eu também tinha um motivo para lutar.
Minha mãe. Minha dignidade. E agora… meu coração, que teimava em bater por aquele homem impossível.