Episódio 9

Capítulo 9 – O Jogo de Victoria

Dizem que o pior inimigo é aquele que sorri na sua frente e te apunhala pelas costas. Mas Victoria não. Ela era direta. O tipo de cobra que te encara nos olhos antes de dar o bote.

E eu sabia que o bote viria.

Na manhã seguinte ao evento, acordei com uma notícia estampada nos sites de fofoca:

“Leonardo Vasques troca noiva aristocrata por jovem desconhecida. Quem é a mulher misteriosa?”

Meu nome não aparecia. Ainda. Mas minha foto sim. Ao lado dele. No jantar. O olhar dele sério. O meu… confuso.

A primeira reação foi de pânico. A segunda, de raiva. E a terceira, de determinação.

Fui até o escritório dele. Bati na porta e entrei sem esperar.

— Você viu isso?

Ele ergueu os olhos do notebook, calmo como se o mundo não estivesse prestes a explodir.

— Vi.

— E vai fazer algo?

— Isso não é da sua conta.

Não é da minha conta? Estão me chamando de amante, de interesseira, de farsante. Acha mesmo que eu vou ficar calada?

Ele fechou o laptop com firmeza.

— Quer aparecer na mídia? Vai em frente. Mas não espere que eu limpe a sua imagem. O contrato não fala nada sobre relações públicas.

Eu me aproximei.

— Mas fala sobre respeito. E se você permitir que ela me destrua na mídia, eu posso rasgar esse contrato e acabar com essa farsa agora mesmo.

Ele se levantou. A diferença de altura entre nós era ridícula. Mas eu não recuei.

— Você é ousada, Isabela.

— Eu sou sobrevivente, Leonardo. E estou cansada de fingir que não sou.

Ele me olhou, sério. Pela primeira vez, vi um lampejo de… admiração?

— Vou mandar a assessoria controlar a situação — disse ele, por fim. — Mas fique longe de Victoria. Ela não joga limpo.

— Nem eu — respondi.

No fim da tarde, fui chamada por Dona Celina.

— Tem uma visita esperando na sala de estar, senhora.

— Quem?

Ela hesitou.

— A senhorita Victoria Meneses.

Desci com o coração acelerado. Quando entrei na sala, ela estava sentada, cruzando as pernas com elegância, como se já conhecesse cada centímetro daquela casa.

— Espero que não se importe. Gosto de resolver as coisas cara a cara — disse ela, sorrindo.

— Você é ousada. Entrar na casa do homem que te trocou…

— Eu não fui trocada. Fui sabotada. E sei que você está por trás disso.

Soltei uma risada curta.

— Eu? Você acha que planejei ser vendida por um contrato e entrar numa cerimônia por engano?

— Engano ou não… está ocupando meu lugar.

— O lugar que ele escolheu abandonar.

Ela se levantou. Aproximou-se até ficarmos frente a frente.

— Escuta bem, camponesa: Leonardo é meu. Sempre foi. Você pode ser bonita, pode ter alguma lábia, mas nunca vai ser como nós. Você é um capricho temporário. Um deslize.

— Talvez. Mas você foi um capítulo encerrado.

Ela riu.

— Isso não é uma guerra de palavras. É de poder. E se você não sair por bem… eu faço questão de te arrancar à força.

— Tenta — desafiei.

Ela virou-se e saiu com a mesma postura arrogante com que chegou.

Horas depois, Leonardo voltou. O cheiro do perfume dele invadiu o corredor. Eu o esperei na biblioteca.

— Ela esteve aqui — falei, sem rodeios.

— Eu sei. Ela me mandou uma mensagem. Disse que você se comportou como uma selvagem.

— E você acreditou?

— Não. Mas ela não costuma inventar coisas… apenas manipular verdades.

— E você? Vai deixar ela continuar me ameaçando?

Ele me olhou em silêncio por um tempo, depois disse:

— A partir de agora, você vai ter segurança.

— Segurança?

— Sim. Já que insiste em agir como esposa, vai ter que lidar com as consequências. E com proteção.

— E isso é porque se preocupa comigo… ou com sua reputação?

Ele me encarou intensamente.

— Talvez com os dois.

Naquela noite, recebi uma ligação. Era do hospital onde minha mãe fazia tratamento. Meu coração quase parou.

— Isabela, precisamos que venha amanhã. Houve uma alteração no quadro da sua mãe.

Corri até Leonardo.

— Preciso de um avião. Agora. Minha mãe está mal.

Ele me olhou com algo diferente no olhar. Preocupação, talvez?

— Está pronto. Te acompanho.

— Você?

— Sim. Não posso deixar que vá sozinha. Não depois de hoje.

Não entendi bem o motivo… mas naquele momento, pela primeira vez, eu vi o homem por trás da frieza.

E naquele voo, olhando ele dormindo ao meu lado, entendi algo que me assustou:

Eu estava começando a gostar do homem que comprei sem querer.

E isso… era mais perigoso do que qualquer ameaça da Victoria.