Episódio 15 – A Outra Vasques
Aquela carta... aquela ameaça... era como um soco no estômago. Eu a li e reli dezenas de vezes, tentando encontrar alguma brecha que me fizesse acreditar que era só um blefe. Mas não era.
Victoria Vasques.
A verdadeira noiva.
A mulher que Leonardo deveria ter se casado.
E agora, ela queria vingança.
Me levantei devagar, sentindo o coração pulsar no fundo da garganta. Peguei o envelope e fui direto até o escritório dele. O ambiente era frio e organizado demais — a cara do Leonardo de antes de mim. E lá, sobre a mesa, uma pasta aberta com documentos: fotos de Victoria, recortes de revistas, relatórios… e uma folha com algo que me fez congelar.
"Registro de contrato matrimonial — Leonardo A. Vasques e Isabela M. dos Santos."
Assinatura de Leonardo: presente. Assinatura da noiva: não autorizada pela agência."
Engoli seco.
— Eu não era pra estar aqui — sussurrei.
Minhas mãos tremiam.
Saí do escritório, fechei a porta, e fui até a varanda respirar. O sol mal aparecia entre as nuvens, mas o ar me ajudou a pensar. Não adiantava fugir. Victoria era uma Vasques. Rica. Influente. Poderosa. Se ela queria me destruir, podia conseguir com apenas uma ligação.
Mas eu... eu tinha algo que ela nunca teria: o olhar de Leonardo.
Ele podia não admitir. Podia tentar se esconder por trás da frieza. Mas eu vi. Eu senti.
Ele se importava comigo.
E era exatamente por isso que Victoria queria me tirar do caminho.
Algumas horas depois, Leonardo voltou. Terno impecável, olhos cansados, e um celular preso ao ouvido.
— Não, Henrique, cancele a fusão. Se a Vasques Pharma acha que vai me ameaçar, então estão mexendo com o homem errado.
Ele desligou e, ao me ver, pareceu aliviado.
— Está tudo bem?
Eu ergui o envelope.
— Ela esteve aqui.
Leonardo olhou para o bilhete, e os olhos dele escureceram.
— Como ela soube onde você estava?
— Você me trouxe pra cá, lembra? Alvo fácil. Ela só precisava me rastrear.
— Isso não é culpa sua, Isabela. É minha. Por não ter colocado ela no lugar que merecia anos atrás.
— Quem ela é, Leonardo?
Ele respirou fundo e se sentou no sofá, passando a mão nos cabelos.
— Victoria é minha prima. Mas também foi minha melhor amiga... e por pouco, minha noiva. Nossas famílias queriam a fusão das empresas. Eu aceitei o acordo. Mas quando chegou a hora, eu soube que seria um erro. Cancelei tudo. E ela nunca me perdoou.
— E então… contratou uma agência pra arrumar outra noiva. Uma falsa.
Ele olhou pra mim com dor nos olhos.
— Não era pra ser você.
— Eu sei. Mas agora sou.
Ficamos em silêncio.
Então, ele se levantou e caminhou até mim. Seus dedos tocaram meu rosto com delicadeza.
— Eu prometo, Isabela. Não importa o que a Victoria tente. Ela não vai te tocar. Eu vou protegê-la. Mesmo que tenha que enfrentar toda minha família.
— Eu não quero ser sua fraqueza, Leonardo. Quero ser sua parceira.
Ele sorriu. Mas não com os lábios — com os olhos. Um brilho que eu nunca tinha visto antes.
— Então vem comigo. Amanhã. Tem um evento de gala. A primeira aparição pública… como minha esposa.
Meu estômago virou.
— Vai ser uma guerra.
— Vai. Mas eu prefiro entrar nela com você do que fingir que nada está acontecendo.
E foi ali, com o bilhete de ameaça em uma mão e a outra nas mãos dele, que entendi: a mentira nos uniu, mas a verdade… nos incendiaria.
E eu estava pronta.
Fim do Episódio 15.