Episódio 16

Episódio 16 – O Baile da Verdade

Naquela noite, enquanto os estilistas me vestiam como uma princesa moderna — com um vestido preto de cetim, justo até a cintura e com uma fenda ousada na perna esquerda —, o frio na barriga era mais real que qualquer maquiagem.

O motorista nos levou até o evento mais comentado do ano: o Baile Beneficente da Fundação Vasques. Ironia? Talvez. Porque era a família dele. E também a família dela.

Victoria.

Leonardo segurou minha mão o tempo todo. Seu toque era firme, como uma promessa silenciosa: “não solte”. E eu não soltei. Mesmo quando descemos do carro sob os flashes ensandecidos dos fotógrafos e os olhares murmurantes da elite.

— Quem é ela?

— É a nova esposa do Vasques?

— Não é a filha da empregada do hospital São Miguel?

Dava pra ouvir tudo.

Leonardo me puxou com classe. O salão era uma obra de arte: lustres de cristal, música de orquestra ao vivo e o cheiro de champanhe caro no ar. Mas nada ofuscava a presença dela.

Victoria.

Usava vermelho, o tipo de vermelho que gritava “eu mando aqui”. E seus olhos, ao me ver, não disfarçaram o desprezo. Caminhou até nós como uma rainha envenenada.

— Que surpresa, primo — ela disse, falsamente doce. — E que... acompanhante inesperada.

— Esposa — Leonardo corrigiu, erguendo minha mão e beijando meus dedos. — Minha esposa.

Victoria sorriu. Um sorriso sem alma.

— Então é verdade. Você casou mesmo com a noiva errada. Que trágico.

— Eu diria que foi o erro mais certo da minha vida — ele rebateu, calmo.

Eu respirei fundo. Poderia ficar calada. Poderia evitar o escândalo. Mas decidi fazer diferente.

— Boa noite, Victoria. É um prazer finalmente conhecer a mulher que manda cartas ameaçadoras em vez de flores.

O salão silenciou.

Ela riu, sem recuar.

— Não me surpreende que você seja atrevida. Tem o olhar de quem veio da lama e se agarrou no primeiro terno caro que viu.

— E você tem o olhar de quem nasceu com tudo… e mesmo assim perdeu.

O olhar de Victoria mudou. Agora era puro ódio.

— Isso ainda não acabou, Isabela. Casamentos de fachada não duram. Ainda mais quando uma das partes nem sabe o que está assinando.

Leonardo interveio.

— Chega, Victoria. O nome dela agora é Isabela Vasques. E você vai respeitar.

— Ou vai fazer o quê, primo? Me deserdar da família? Mandar me calar? Já tentou isso antes… lembra o que aconteceu?

— Sim — ele respondeu, olhando para mim — eu fiquei sozinho. Mas agora não mais.

Victoria deu um passo para trás, derrotada por enquanto. Mas a guerra estava só começando.

Horas depois, de volta à mansão, Leonardo estava calado. Pensativo.

— Você tá bem? — perguntei.

— Você me salvou hoje — ele respondeu. — Aquilo que você disse… ninguém nunca me defendeu daquela forma.

— Eu não sou só sua esposa de papel. Eu estou aqui. Mesmo com medo. Mesmo sendo a errada.

— Talvez... ser errada seja o certo que eu precisava.

E então me puxou para um beijo calmo, profundo. Um beijo que selava não um contrato, mas uma aliança.

Mas antes que a noite acabasse, meu celular vibrou.

Mensagem anônima.

“Você acha que ganhou, garota do nada.

Mas a festa só começou.

Espero que saiba dançar... no inferno.”

Fim do Episódio 16.